Para pesquisador, custos advindos do consumo da maconha superariam as receitas decorrentes de sua legalização
O desempenho dos universitários que fumam maconha é inferior ao daqueles que não usam a droga. Os índices de aprovação em todas as disciplinas são maiores entre os não fumantes e, entre os usuários, tendem a diminuir à medida que aumenta a frequência do consumo. Os efeitos negativos do consumo de Cannabis sativa no progresso educacional tendem a persistir nos modelos econométricos, mesmo quando se considera que a amostra é restrita aos jovens efetivamente matriculados – afinal, parte dos danos se materializa no momento em que os usuários não atingem o nível de ensino superior ou se abandonam a universidade.
Essa é uma das conclusões destacadas pelo economista Alvaro Alberto Ferreira Mendes Junior em sua tese, defendida recentemente no Cedeplar/Face. Em diferentes ensaios, ele aborda aspectos como a vinculação do consumo de Cannabis sativa com o perfil socioeconômico dos estudantes universitários e com as preferências da população quanto à legalização. O trabalho foi abordado em matéria publicada na edição 2026 do Boletim UFMG.
Alvaro Mendes apoiou seu estudo no que ele considera as principais bases de dados disponíveis sobre drogas no Brasil: os levantamentos nacionais da USP, em parceria com a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), do Ministério da Justiça, e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas sobre Álcool e outras Drogas, sediado na Unifesp.
O trabalho mostra que, entre os universitários brasileiros, a maconha pode ser classificada como um bem normal – a demanda é maior quanto mais alta é a renda. “Nossa melhor estimativa indica, por exemplo, que os alunos que pertencem às classes A e B têm 120% mais chances de consumir a Cannabis quando comparados aos das classes C, D e E. Mas, uma vez iniciado o consumo, muitos estudantes de menor poder aquisitivo progridem para o consumo de risco. Dez por cento dos usuários oriundos da classe C apresentam risco alto de dependência para a Cannabis. Entre os classificados na classe A, são apenas 3,1%”, salienta Alvaro Mendes, que leciona na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Ele utilizou parâmetros do Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB).
O pesquisador explica que escolheu o público universitário por constituir o recorte que conta com a melhor base de dados disponível no Brasil. “Deparamos muitas vezes com bases de corte transversal, ou seja, relativas a um período específico, quando o ideal é partirmos de uma base de dados em painel, que possibilita o acompanhamento dos indivíduos ao longo do tempo”, diz Mendes.
Sobre a informação que abre esta matéria, os dados mais significativos revelam que apenas 50,7% dos estudantes que fumam maconha passaram direto em todas as disciplinas, enquanto entre os não usuários a proporção foi de 66,1%. E só 49,6% dos usuários com risco alto ou moderado de dependência tiveram esse desempenho; a proporção foi de 66,1% para aqueles com risco baixo ou nulo. Os dados utilizados na tese foram gerados por entrevistas feitas em 2009, com 12.711 estudantes de 100 universidades, públicas e privadas.
Alvaro Mendes postula também, com base nos resultados de seu trabalho, que a defesa da legalização da maconha é baseada mais no interesse próprio dos proponentes do que em evidências científicas. “O lobby pela legalização é feito sobretudo por usuários, representantes da contracultura, fundações internacionais e especialistas”, diz o pesquisador.
Experiências internacionais
Alvaro Mendes encontrou numerosos estudos que projetam custos muito altos para a sociedade do consumo de drogas como a maconha. Estimativas produzidas nos Estados Unidos mencionam que os gastos com as consequências desse consumo seriam quatro vezes maiores que as receitas advindas da legalização. “No Brasil, um em cada três cigarros de tabaco é contrabandeado, o que tende a se repetir com a maconha. E o poder dos traficantes certamente seria capaz de manter o monopólio da venda da droga. Além disso, pesquisas mostram que o consumo no Brasil, que ainda é baixo se comparado ao de países desenvolvidos, aumentaria significativamente com a legalização”, alerta.
Na visão do pesquisador, que começa a preparar um livro de abordagem abrangente sobre a Cannabis, os estudos realizados por ele vão ao encontro de experiências internacionais. “A legalização leva ao agravamento de questões relacionadas à saúde pública e a prejuízos para o desempenho dos estudantes”, diz Mendes. “Mais eficaz é reduzir a demanda, por meio de um pacto social contra o consumo. Exemplos de sucesso nessa área são as campanhas contra as drogas realizadas nos Estados Unidos, que reduziram significativamente o uso, de 1979 a 1992. No Brasil, nas últimas décadas, constatou-se também a diminuição do consumo de tabaco”, exemplifica o pesquisador.