O reitor João Carlos Salles e o vice-reitor Paulo Miguez foram reconduzidos ao segundo mandato à frente da Universidade Federal da Bahia em um ato no salão nobre da Reitoria, na segunda-feira, 24 de setembro.
Diversa, cheia de estudantes, professores e técnicos de todas as suas gerações ainda vivas, além de representantes de tantas instituições e setores da sociedade baiana, a plateia saudou a entrada dos professores reeleitos João e Miguez, que foram recebidos ao som dos atabaques dos Alabês de Iuri Passos.
Em seguida, apresentaram-se a Orquestra Sinfônica da UFBA e os estudantes indígenas da Universidade, que dançaram o toré. A mesa foi composta por três ex-reitores – Dora Leal, Eliane Azevedo e Roberto Santos, o mais velho ex-reitor vivo, filho do fundador da Universidade, Edgard Santos – , pelo arcebispo primaz católico Dom Murilo Krieger e pela coordenadora das mulheres de axé do recôncavo, mãe Jussara Lopes.
O discurso do reitor saiu em defesa da universidade pública, que, no atual momento do país, se vê “ameaçada” pelas “pesadas restrições orçamentárias ao seu custeio e investimento”; pela “exposição a mídias sociais inóspitas ao pensamento e também ao ataque raso da grande imprensa”, que desconsidera que “em nosso país, o conhecimento científico é produzido quase em sua totalidade” pelo sistema público de educação superior; por “manifestações de governantes” que se eximem de responsabilidades e atentam contra o princípio da autonomia universitária”; e pela “ação truculenta e direta de agentes do estado” e suas iniciativas intimidatórias, como as que recentemente sofreram as federais de Minas Gerais e de Santa Catarina, que teve como resultado trágico a perda do reitor Luiz Carlos Cancellier, no ano passado.
O reitor fez questão de repudiar o obscurantismo, a “cultura do ódio e mesmo pequenos ou grandes fascismos”, enfatizando a autonomia universitária como traço constitutivo da própria noção de universidade, que, por isso mesmo, “não deve ser compreendida como uma dádiva (que, aliás nos poderia ser retirada), mas sim como uma obrigação, sem cujo cumprimento deixaríamos de ser quem somos e nos veríamos apartados de nossa identidade”.
Sem se furtar a uma referência crítica sobre a própria universidade, o reitor exortou a comunidade universitária a estar vigilante aos perigos da “pura e simples competição” e a “desatar nós internos”, de modo a conservar a universidade enquanto “lugar de colaboração acadêmica” e de “exercício da argumentação e, logo, da atenção ao outro”.
Salles saudou a fala do vice-reitor Paulo Miguez, que havia lhe antecedido com um breve balanço das conquistas dos primeiros quatro anos da gestão, em que celebrou os resultados expressivos obtidos mesmo em cenário de forte restrição orçamentária, como as 18 obras concluídas, os dois congressos realizados, a realização do Fórum Social Mundial, a melhora substantiva nas avaliações de graduação e pós-graduação, a construção coletiva do Plano de Desenvolvimento Institucional, a criação da Ouvidoria, a inauguração do campus de Camaçari e a realização de debates históricos, como o ciclo Crise e Democracia realizado “às vésperas do golpe de 2016”.
Ao criticar os “acenos de privatização do ensino e de redução do projeto de universidade”, que ressurgem, aqui e ali, “na retórica e na rudeza” da resposta reacionária à transformação da universidade de elitista em popular e democrática – graças ao acesso de estudantes negros, indígenas, quilombolas, e ao aumento da presença e visibilidade de mulheres, lgbts e pessoas com deficiência nos últimos anos -, Salles diagnosticou: “As classes dominantes não mais parecem sentir a universidade pública como uma causa sua, estando especialmente insatisfeitas com a expansão do sistema e a mudança de composição de nossa comunidade.” E encerrou, com um chamado à luta: “Com os olhos nítidos em um cenário tão difícil, podemos duvidar de nossas forças. Mas, não devemos temer. Quem tem a universidade pública no coração, tudo pode. Nós, que temos a UFBA no coração, nós venceremos. Viva a Universidade Federal da Bahia!”
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