Na manhã desta segunda-feira (19), a Faculdade de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG) recebeu uma comitiva chinesa formada por três especialistas em manejo, produção e plantio de bambu. Durante a visita técnica, que irá se estender por três dias, os doutores Fu Wansi, Bai Ruihua e Zhang Wei não só irão compartilhar o conhecimento praticado em seu país, mas também poderão conhecer o que tem sido feito em Goiás e consolidar uma relação ainda mais promissora e benéfica em prol do desenvolvimento.
“É fundamental eles estarem aqui com a gente nesse contato olho no olho e eles gostam disso também. Às vezes a gente pensa que, pela cultura, eles são mais distantes, mas é completamente o contrário. Eles são afáveis, acessíveis e gostam desse tipo de contato”, explica o organizador do evento e professor credenciado do Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas da Escola de Agronomia da UFG, Sérgio Sibov, que mantém uma postura otimista em relação ao futuro da cadeia produtiva do bambu no Estado.
Matéria-prima promissora
O bambu, apesar de ainda pouco explorado, é uma matéria-prima com muito potencial, podendo ser utilizada integralmente, das folhas à raiz, além de seu plantio e produção serem mais sustentáveis. Na China, por exemplo, o cultivo é geralmente feito em agroflorestas, onde mesmo os fungos do bambu são aproveitados. Em sua palestra de abertura, Fu Wansi, um dos cientistas que mais desenvolve patentes de produtos, maquinários e ferramentas para tratar o bambu na China, explicou que há mais de dez mil produtos gerados a partir do manejo da planta, os quais podem servir como revestimentos, compensados, artesanato, fibras para roupas, produção de móveis, carvão, papel, alimentação, dentre tantas outras possibilidades.
As propriedades medicinais do seu broto também são inúmeras, sendo útil na perda de peso, redução do risco de câncer, fortalecimento do sistema imunológico, melhoramento da saúde cardiovascular, combate de doenças respiratórias, controle do colesterol e pode ser utilizado até mesmo como componente no antídoto contra picadas de cobras e escorpiões.
Tendo em vista todos esses benefícios, Fu Wansi ressaltou que a América Latina é uma excelente produtora da matéria-prima. Só no Brasil, por exemplo, existem 256 espécies nativas, incluindo duas subespécies e três variedades. Entretanto, o uso de produtos vindos do bambu na rotina e vidas dos brasileiros está apenas no começo, mas o pesquisador reforça que há um grande futuro pela frente e que, para isso acontecer, cooperação é a palavra de ordem. “Eu acho que a indústria do bambu no Brasil está apenas começando, mas o crescimento será muito mais rápido, visto que partir de agora nós temos mais trocas. E eu espero que tenhamos um futuro muito bom e não muito distante”, complementa.
Bambu em Goiás
As instituições de ensino não têm um fim em si mesmas e só encontram seu verdadeiro propósito quando são capazes de gerar impacto e avanço na comunidade da qual fazem parte. Sendo assim, tendo em vista todo esse cenário e o papel da universidade perante a sociedade com a missão gerar, sistematizar e socializar o conhecimento e o saber, formando profissionais e indivíduos capazes de promover a transformação e o desenvolvimento da sociedade, a UFG tem buscado o diálogo com diversos setores para que tais avanços sejam reais.
Nesse sentido é que, há quatro anos, a Rede Bambu Goiás passou a existir, “a partir de um esforço conjunto entre pesquisadores, no caso professores, produtores rurais, comerciantes e empresários, para desenvolver a cadeia produtiva do bambu no Estado de Goiás”, conforme explica o professor da UFG e responsável pelo projeto, que possui apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Rogério de Araújo. Desta forma, ao encontrar no bambu uma fonte promissora de desenvolvimento social e econômico, a universidade se integra à sociedade para tornar possível sua exploração.
“Hoje nós já somos referência, no Brasil, em termos de estrutura. Nós temos, por exemplo, em Caldas Novas, uma propriedade rural produzindo brotos de bambu, que fechou um contrato de exportação de dez toneladas de bambu orgânico para o início do ano que vem”, conta Rogério ao ressaltar os primeiros passos do Bambu Goiás, e continua, “nós doamos dez mil mudas de bambu para o Estado de Goiás, que faz parte do projeto. E hoje as pessoas já nos procuram para comprar mudas. Então, já existe o interesse e o fato de a gente ter conseguido trazer esses pesquisadores chineses para Goiânia mostra que estamos no caminho certo. Nosso trabalho tem sido reconhecido”.
Entretanto, Rogério explica que é necessário ainda mais investimento e pesquisa para alcançar o esperado desenvolvimento da cultura do bambu no país. Ele expõe que essa tão requisitada produção de mudas, mesmo com todo o destaque que tem recebido, ainda é o “calcanhar de aquiles” do projeto. “O nosso maior gargalo aqui no Brasil para colocar essa cadeia produtiva do bambu para funcionar é que todo mundo se interessa muito com todas as coisas que podem ser feitas a partir do bambu, mas não conseguem obter as mudas, o que é um fator complicado”, finaliza.
Sendo assim, a visita da comitiva se justifica a partir da constatação desse imenso potencial do país e do Estado, mas que ainda encontra barreiras técnicas. É um marco que serviu como divisor de águas nas relações entre os dois países e que, com certeza, a partir desse momento trará ainda mais alternativas e lançará luz aos caminhos que podem ser trilhados daqui adiante. É o que espera professor Sérgio: “é interessante que eles vejam esse tipo de trabalho que a rede, que é coordenada pelo professor Rogério aqui da Agronomia, executa porque há uma série de janelas e oportunidades a serem abertas”.
As possibilidades de intercâmbio entre Brasil e China foram reforçadas pelo reitor da UFG, Edward Madureira Brasil, que recebeu a comitiva chinesa em seu gabinete. “Temos um grupo de pesquisa em bambu plenamente constituído e com grande potencial de crescimento”, ressaltou. Ele lembrou que esteve recentemente na China e que trabalha para a instalação do Instituto Confúcio na UFG, para o ensino da cultura e língua chinesas. O reitor colocou sua equipe à disposição para viabilizar parcerias e se comprometeu a oferecer o apoio necessário.