No início do mês de novembro, a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) realizou o 10º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão (Siepe), em Santana do Livramento e em Rivera, no Uruguai. O evento, além de ser espaço de discussão e debates científicos, também é uma oportunidade anual de reunir os técnicos-administrativos, professores e estudantes dos 10 campi da instituição em um único espaço acessível a todos. A inclusão é um dos compromissos da Universidade e com essa preocupação que a acessibilidade foi um dos assuntos priorizados pela Comissão Científica do 10º Siepe. A Assessoria de Comunicação Social (ACS) da Unipampa também produziu o cerimonial inclusivo e notícias de cobertura do evento com acessibilidade.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência busca reduzir as barreiras que impedem a autonomia da pessoa com deficiência. Rampas e equipamentos urbanos adaptados, por exemplo, servem para que o cadeirante faça suas atividades de forma independente. A assistente social do Campus Caçapava do Sul, Liara de Souza, relata que quando o Campus recebeu a estudante Jéssica Silveira, que possui deficiência motora, que foram buscar os recursos necessários para ela ter condições igualitárias de acesso ao ensino superior: “ainda se tem que lutar para conseguir a acessibilidade ideal”, relata.
A estudante Jéssica Silveira apresentou trabalho sobre acessibilidade no 10º Siepe (Foto: Milene Marchezan)
Segundo Liara, “foi conseguido uma cuidadora durante a permanência dela Universidade e uma cadeira adequada”. Para ir até o 10º Siepe, a instituição disponibilizou um carro para Liara, Jéssica e a cuidadora se deslocarem até Santana do Livramento. Para a estudante Jéssica, é uma alegria poder apresentar sua pesquisa sobre inclusão e ela já planeja retornar na edição de 2019.
Com a discriminação em razão de alguma deficiência, retira-se o direito de ir e vir dos indivíduos e outros direitos básicos, como o direito à educação. Por isso, a intérprete de Libras do Campus Santana do Livramento e integrante da Comissão Científica do 10º Siepe, Mariana Pereira, trabalhou os meses que antecederam ao evento para garantir a equidade a todos: “este ano a gente evoluiu bastante [em comparação com o 9º Siepe], não teve nenhuma ocorrência, ano passado a gente encontrou mais dificuldade, tanto com a equipe de intérpretes quanto com os monitores. O que a gente sente de dificuldade agora é que precisaríamos de mais intérpretes para fazer o evento. Outra dificuldade seria a adaptação do Campus com elevadores, pisos táteis, em infraestrutura”.
As inscrições dos participantes do 10º Siepe que solicitaram algum tipo de atendimento especial foram encaminhadas direto para Mariana, que tratava de cada solicitação e providenciava as demandas necessárias. Um dos inscritos foi o estudante Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia do Campus Itaqui, Lúcio Lopes, que possui deficiência visual. Lúcio conta com o apoio de uma monitora sempre que está na Universidade, a fim de se deslocar, pois a instituição ainda não possui infraestrutura totalmente acessível. Primeira vez que participa do Siepe, o estudante disse que gostou de participar do evento, mas estava nervoso: “com o auxílio da monitora e colegas me senti preparado para apresentar o trabalho que era sobre condições de acessibilidade nos restaurante universitários”.
A professora do Campus São Borja, Keli Krauser, que possui deficiência auditiva, também participou pela primeira vez do Siepe. Keli demonstrou ficar feliz que “o evento foi organizado com a acessibilidade, dos surdos, dos cegos e cadeirantes. É importante que se perceba na questão da pesquisa e da ciência que é possível a inclusão dos surdos em quaisquer áreas”. A professora foi avaliadora de trabalhos e foi acompanhada de uma intérprete.
A estudante de pedagogia a distância do Polo Quaraí, Manuela Rubim, que possui deficiência auditiva, participou como ouvinte pela segunda vez e planeja apresentar trabalho na próxima edição do evento: “este ano eu me inscrevi também pela questão de ter acessibilidade, mas vim só pra assistir, conhecer, e no ano que vem eu quero apresentar trabalho”. Manuela relata que achou interessante a participação de diversos professores, o que motiva sua participação: “eu achei muito interessante a professora Keli, pois ela foi avaliadora do evento e que ela consegue se comunicar. Também teve a oficina do professor William, professor surdo, que eu amei. Este ano eu vi muitos alunos e professores surdos participando e interagindo no evento.
Para Manuela, porém, ainda há algumas barreiras a serem vencidas. Os vídeos da graduação a distância, por exemplo, não possuem janela de libras, nem legendas: “na pedagogia, que é o curso que eu faço, não tem acessibilidade nos vídeos, então é só texto, o que é cansativo pra mim, tem palavras que eu não entendo, a monitora me ajuda na questão da interpretação dos textos, mas essa questão dos vídeos alguns não tem nem legenda, eu tenho que pedir pra professora por uma legenda”, conclui a estudante.
Para o tradutor e intérprete de Libras do Núcleo de Inclusão e Acessibilidade (Nina) da Unipampa, Fernando de Carvalho, exige-se da pessoa com deficiência a superação de obstáculos, mas a sociedade também precisa superar seus preconceitos para vencer as barreiras da plena participação do cidadão. Isso significa, para Fernando, que a Unipampa está caminhando em busca da igualdade para que todos possam ter as mesmas oportunidades, mas ainda há muito que se fazer em termos de profissionais e infraestrutura.