UFSJ – “As taxas de cura são muito altas com o diagnóstico precoce”

Desinformação e preconceito. O câncer de próstata ainda é envolto de muitos tabus entre os homens. Mas esse é um assunto que precisa ser amplamente discutido, pois é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Para este ano, são estimados mais de 68 mil novos casos da doença no País.

Para conscientizar a respeito da necessidade de prevenir a doença, foi criada a mobilização Novembro Azul. E a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) também faz parte dessa causa, com a distribuição de cartões lembrando os homens a cuidar da saúde. Eles são distribuídos tanto aos servidores da instituição, como para as mulheres que trabalham nos campi, pois, muitas vezes, são as que têm a iniciativa de buscar o atendimento médico aos maridos, pais, companheiros e filhos. O objetivo é promover o cuidado consigo e com os outros.

A ação é promovida pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progp), por meio do Setor de Apoio ao Servidor (Seaps) e do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (Siass). Para contribuir com a mobilização global, a fachada do campus sede da UFSJ, em São João del-Rei, foi iluminado com a cor azul.

A Fundação de Apoio à UFSJ (Fauf) também promove uma campanha de conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce da doença. De acordo com a Fundação, a campanha no Brasil surgiu Brasil no ano de 2008, em ação do Instituto Lado a Lado Pela Vida (LAL) por meio da campanha “Um Toque, Um Drible”, cujo objetivo era promover uma mudança de paradigmas em relação à ida do homem ao médico.

Luta contra o câncer

Foi justamente o desconhecimento dos sintomas da doença que levou João Maia de Souza, 68 anos, ex-funcionário do Sindicato dos Servidores da UFSJ (SindsUFSJ), a demorar para buscar atendimento com um especialista. O principal sintoma na época: a diminuição da libido.

Ao comentar o fato com um professor e amigo, recebeu a recomendação de procurar um especialista o mais rápido possível. “Estava com 6,5% de PSA (exame de sangue feito verificar se há sinais de câncer na próstata). Dentro de um mês, em julho de 2005, fiz a cirurgia. Tive que tirar a próstata todinha”, afirma.

A notícia mobilizou toda a família. “Ficamos arrasados! Mas ele pedia para que a gente não chorasse. A gente saía do consultório, o médico falava que ele ia morrer. Então ele chegava aqui em casa e os três filhos (um rapaz e duas mulheres) todos esperando e chorando. E falei: tem que fazer a cirurgia, vamos entregar nas mãos de Deus’”, conta a esposa Maria Trindade (Neném), servidora aposentada da UFSJ.

Após uma cirurgia de risco, com 8h30 de duração total, dificultada pela obesidade, o resultado foi melhor que o esperado. Entretanto, em razão do aparecimento de novas células cancerígenas próximas da região da próstata tempos depois, foi preciso João Souza se submeter a sessões de radioterapia e, agora, faz um acompanhamento periódico para monitorar a saúde.

Para os outros homens, ele recomenda que se deixem preconceitos de lado e se busque a prevenção. “Não tenha vergonha!”, defende. Apesar da apreensão que envolveu o diagnóstico, a família tira uma lição positiva: “parece que aproxima mais, a gente fica mais apegado um ao outro”, comenta Neném.

“As taxas de cura são muito altas com o diagnóstico precoce”

Neste mês, a Universidade Federal de São João del-Rei faz parte da campanha Novembro Azul, que tem como objetivo mobilizar os homens para a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata. A instituição está promovendo ações informativas e de estímulo à reflexão sobre o tema – veja mais nesta matéria publicada no site de notícias. Conversamos com o professor de Cirurgia do curso de Medicina da UFSJ, Sérgio Geraldo Veloso, que enfatiza: as taxas de cura são muito altas com o diagnóstico precoce.

Confira:

  • Quais os principais sintomas do câncer de próstata?

O câncer de próstata, numa fase inicial, é assintomático. Os sintomas vão surgir num momento mais tardio, por meio do crescimento local da próstata, gerando dificuldade miccional. A maioria dos pacientes com esse sintoma tem hiperplasia prostática, que é uma condição benigna e não tem nada a ver com o câncer de próstata. Podem surgir também, quando numa etapa bem avançada, dores ósseas e fraturas resultantes do acometimento ósseo na fase metastática.

2) Quais as principais medidas de prevenção?

Existem diferentes definições de prevenção. Como prevenção primária (evitar que a doença ocorra) seria ter uma vida saudável. O consumo de gorduras saturadas em excesso está associado a maiores taxas de câncer de próstata. Ter uma alimentação rica em frutas – como maçãs, tomates e outros antioxidantes – pode ter um efeito protetor ainda não efetivamente comprovado. Existe a prevenção secundária (a partir do diagnóstico precoce), que é a realização de um tratamento objetivando curar a doença. Aqui entra a cirurgia, a radioterapia, a braquiterapia, e modernamente, têm surgido outros tratamentos menos invasivos como o HIFU – ultrassom focalizado de alta intensidade, que é uma opção de tratamento localizado e minimamente invasivo para o câncer de próstata.

  • Quais as expectativas de cura da doença quando detectada precocemente?

As taxas de cura são muito altas com o diagnóstico precoce. O câncer de próstata tem um crescimento, geralmente, lento, o que o difere da maioria dos outros cânceres que são muito agressivos. Diante disso, atualmente, alguns tipos de cânceres de próstata poderiam ser acompanhados sem instituir um tratamento definitivo de imediato. Quando o tratamento está indicado, a cirurgia (prostatectomia radical) e a radioterapia são os dois mais amplamente disponíveis.

  • A partir de qual idade é indicado os exames de PSA e toque retal?

Campanhas de rastreamento em massa, realizando o toque retal e o PSA de todos, são criticadas por algumas entidades médicas. O Ministério da Saúde orienta que o toque retal e o PSA sejam realizados em todos os homens sintomáticos ou com fatores de risco (histórico familiar e negros). Com o surgimento de tratamentos menos invasivos, tem ressurgido também a valorização do rastreamento. Pensando em faixas etárias, a Sociedade Brasileira de Urologia preconiza a realização do toque e do PSA a partir de 50 anos e, existindo fatores de risco, a partir de 45 anos.

  • Qual a importância de campanhas como o Novembro Azul para combater o preconceito sobre a doença?

A Campanha do Novembro Azul faz com que as pessoas (homens e companheiras) relembrem a importância do câncer de próstata e sua morbi-mortalidade. No entanto, a campanha do Novembro Azul representa também a importância dos homens realizarem avaliações médicas rotineiras, voltando a atenção também para hipertensão e diabetes, por exemplo.

  • Ainda há dificuldade de acesso aos médicos especialistas na área, principalmente na rede pública?

Na rede particular o acesso é mais fácil, no entanto, há atendimento na rede pública que procura priorizar os casos mais graves, no que se refere ao rastreamento do câncer de próstata. A crise financeira pela qual o estado de Minas passa aumentou a dificuldade em se manter o atendimento urológico de uma maneira mais abrangente. Quanto ao tratamento (cirurgia e radioterapia) a Santa Casa, sendo um centro de referência no tratamento oncológico fornece os dois pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sem dificuldades.

Veja mais informações na cartilha do Instituto Nacional de Câncer (Inca) sobre o câncer de próstata.

Estimativa de novos casos anuais de câncer de próstata no biênio 2018/2019

Brasil – 68.220 casos novos – taxa de 66,12 casos novos a cada 100 mil homens.
Sudeste –  30.080 casos novos – taxa de 69,83 casos/100 mil homens.
Minas Gerais – 6.730 casos novos – taxa de 63,80 casos/100 mil homens.
Belo Horizonte – 980 casos novos – taxa de 81,20 casos/100 mil homens.

Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata é o mais incidente entre os homens em todas as regiões do País – com 96,85/100 mil no Sul; 69,83/100 mil no Sudeste; 66,75/100 mil no Centro-Oeste; 56,17/100 mil no Nordeste; e 29,41/100 mil no Norte.

Exames

Os exames disponíveis para diagnóstico de câncer de próstata são ultrassonografia de próstata por via abdominal e transretal, dosagem de sangue por PSA e exame anatomopatológico por biópsia. O exame de toque retal é realizado durante consulta com urologista. Todos estão disponíveis pelo SUS em Minas Gerais.

Veja abaixo o número de exames feitos no Estado nos últimos anos:

Procedimento 2015 2016 2017 2018*
Biópsia de próstata 4.914 3.487 4.345 3.301
Dosagem de antígeno prostático específico (PSA) 592.691 602.374 627.139 406.739
Ressecção endoscópica de próstata 1.853 1.674 1.617 903

Até agosto/2018

Fonte: Instituto Nacional de Câncer (Inca) e Secretaria da Saúde de Minas Gerais.