Definido no início dos anos 2000, o conjunto de áreas preservadas em Minas Gerais está em processo de revisão. Equipe de pesquisadores da UFMG participa do trabalho, que inclui oficinas com especialistas de áreas diversas e prevê reuniões com comunidades tradicionais para identificar onde devem ser investidos recursos para conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.
O professor Adriano Paglia, do Departamento de Biologia Geral do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, explica que atualmente há mais informações disponíveis sobre a distribuição espacial da biodiversidade no estado – devido a esforços de coleta, amostragens e identificação de espécies – assim como uma crescente pressão das atividades humanas sobre os recursos naturais.
“O trabalho de revisão vem sendo feito à luz de novos conhecimentos biológicos e de técnicas de avaliação espacial, levando em consideração também a dinâmica de pressões antrópicas, como o avanço do desmatamento, das fronteiras agrícolas e de atividades como mineração, construção de barragens, expansão imobiliária e urbanização desordenada”, descreve o professor.
Em sua opinião, a definição das áreas para conservação é “um compromisso, com a sociedade atual e as futuras, não apenas para proteção da fauna e da flora, mas também de benefícios ambientais que esses ecossistemas íntegros proveem”.
Consórcio
O projeto Áreas prioritárias: Estratégias para conservação da biodiversidade e dos ecossistemas em Minas Gerais tem a coordenação institucional do Instituto Estadual de Florestas (IEF), com apoio do projeto de Proteção da Mata Atlântica em Minas Gerais (Promata II). A parte técnica é desenvolvida por meio de parceria entre a UFMG e as organizações não governamentais WWF-Brasil e Fundação Biodiversitas.
“Não se trata de um projeto acadêmico, mas de entrega de produto que pode se tornar um instrumento de política pública ambiental”, observa Adriano Paglia, lembrando que a versão anterior do mapa de áreas prioritárias da biodiversidade de Minas Gerais ofereceu subsídios para a criação de áreas protegidas, unidades de conservação, investimento em restauração ambiental e estabelecimento de corredores ecológicos.
Segundo Paglia, há uma enorme biodiversidade no estado, distribuída em quatro grandes ecossistemas ou biomas – mata atlântica, cerrado, caatinga e campos rupestres. “É necessário levantar e reunir informações sobre a intensidade das pressões, a tendência para evoluírem com o tempo, bem como os dados sobre onde estão as espécies que precisam de mais atenção”, informa.
A equipe da UFMG envolvida no projeto utiliza a metodologia de trabalho planejamento sistemático para conservação, que estabelece alvos de conservação, como espécies ameaçadas, regiões de alta relevância ecológica e tipos de ambientes ameaçados, e define custos e metas para conservação de cada um desses alvos.
Oficinas
Em dezembro passado, cerca de 90 pesquisadores de Minas Gerais e de outras regiões do país participaram no campus Pampulha de oficina que discutiu alvos e metas de conservação. De acordo com o IEF, na reunião “foram avaliados o conjunto de alvos propostos pela coordenação temática do projeto e as contribuições obtidas em consulta on-line que contou com a participação de especialistas nos diversos grupos taxonômicos em estudo”.
Em oficina anterior, participaram grupos de pesquisadores de temas como agricultura, irrigação, mineração e energia, para definir os custos de conservação, ou seja, o impacto e o peso de cada uma dessas atividades de origem antrópica sobre a biodiversidade.
Segundo Paglia, a consolidação dos dados será feita nos próximos meses. “A intenção é produzir os resultados preliminares e apresentá-los em uma nova oficina, mais ampla, de discussão dessa avaliação espacial, identificando onde estão as ameaças e os alvos de conservação”, informa o professor do ICB.
Também estão previstas reuniões em diversas regiões do estado, com o objetivo de ouvir setores além da academia, como comunidades tradicionais, quilombolas, ribeirinhos e pequenas concentrações de populações humanas, sobre oportunidades para melhorar a conservação da biodiversidade em suas regiões.
“O projeto é consistente e fundamental para Minas Gerais. Gostaríamos de ver, até o fim deste ano, os primeiros resultados serem implementados”, comenta Adriano Paglia.
Áreas protegidas
Minas Gerais tem, segundo o IEF, diversas categorias de unidades de proteção integral, nas quais se admite apenas o uso indireto dos recursos naturais: estação ecológica, reserva biológica, parque estadual, monumento natural e refúgio de vida silvestre.
Há também unidades de conservação de uso sustentável, cujo objetivo é compatibilizar a conservação da natureza com o uso de parcela de seus recursos naturais: área de proteção ambiental, florestas estaduais, reserva de desenvolvimento sustentável e reservas particulares do patrimônio natural.