Em entrevista ao Jornal da Ciência, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações fala sobre o interesse da Pasta de se aproximar mais das entidades científicas para amplificar a importância da ciência no País e os planos para alcançar a meta de 2% de investimento do PIB nacional em CT&I
O astronauta Marcos Pontes, atual ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), falou ao Jornal da Ciência sobre os planos da Pasta para melhorar o orçamento da área e para ampliar o protagonismo do conhecimento científico e tecnológico na economia e desenvolvimento do País.
O investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil está na faixa de 1,3% do PIB, segundo ele, e sua meta é chegar a 2%, com o aumento da participação do setor privado.
Sobre o estrangulamento da verba ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o ministro promete “trabalhar com muito empenho” e estabelecer um diálogo constante com Paulo Guedes, ministro da Economia, para recuperar os investimentos em pesquisa. Pontes acredita que, ao demonstrar os resultados dos planos para seu Ministério, conseguirá melhorar o orçamento da área já em 2020.
Na entrevista abaixo, cujas respostas foram enviadas por e-mail, o ministro também ressaltou a importância da aproximação da Pasta com as entidades científicas para amplificar a importância da ciência e tecnologia para o País.
Jornal da Ciência – O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) tem sofrido diversos cortes nos últimos anos em seu orçamento. Muitas pesquisas estão sendo descontinuadas e vários laboratórios estão sucateados por falta de verbas. O que o senhor acha da situação e como pretende reverter isso?
Marcos Pontes – Nós vivemos um período difícil e sabemos que a missão não é rápida. A ciência e tecnologia deve ser a ponta de lança do desenvolvimento do Brasil. Somos os responsáveis por torná-la a melhor ferramenta para o sucesso do País. O orçamento do MCTIC vem sendo reduzido gradualmente a um ponto que nós precisamos recuperar o prestígio da ciência brasileira, e isso pode ser feito por meio de ações que mostrem a importância estratégica do Ministério. A expectativa é fazer ajustes para melhorar o orçamento, inclusive, com o apoio do Congresso Nacional. Com muito trabalho das nossas equipes e mostrando resultados, tenho certeza que chegaremos a 2020 numa situação melhor do ponto de vista do orçamento. Mas tudo isso só pode ser feito com a ação conjunta do MCTIC e da comunidade científica. Nós formamos um time pela ciência brasileira e temos responsabilidades compartilhadas pelo resultado.
JC – O senhor disse que é preciso formular estratégias para incrementar o financiamento privado para impulsionar inovações científicas no País. Como o MCTIC pode incentivar o setor privado a ser mais inovador e apoiar financeiramente o desenvolvimento de pesquisas e novas tecnologias?
MP – Hoje, investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil está na faixa de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo que mais da metade disso é investido pelo Estado. Nossa meta é chegar a 2%, com o aumento da participação do setor privado. Acredito que o esforço conjunto do MCTIC com a comunidade científica brasileira será o motor para elevarmos os investimentos. Acredito também que um ambiente positivo de negócios eleve os investimentos das empresas em inovação. Se o investimento das companhias em pesquisa der retorno financeiro, certamente elas destinarão mais dinheiro para essas atividades e geramos um círculo virtuoso.
JC – O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) já vem sofrendo com o estrangulamento de verbas. O corte confirmado na LOA 2019 pode colocar em risco novos editais da instituição e o pagamento das bolsas a partir de setembro do próximo ano. Como o senhor vê estes cortes? Acha possível reverter essa situação?
MP – Nós temos esse problema orçamentário com o CNPq e vamos enfrentá-lo também ao longo deste ano com toda atenção. O CNPq é essencial para a pesquisa básica, que é um dos motores da ciência de excelência produzida no Brasil. Sem pesquisa básica não há inovação. Vimos a gestão passada enfrentando esse mesmo desafio em relação a recursos para pagamento de bolsas e lançamento de novos editais. Esta questão está atrelada ao orçamento aprovado no ano passado, no qual não temos o poder de fazer alterações. Mas vamos trabalhar com muito empenho para recuperar os investimentos em pesquisa, inclusive, num diálogo constante com a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes.
JC – Na nova estrutura, a secretaria anterior de pesquisa ganhou uma nova atribuição, que é a de Formação, e será responsável por duas prioridades: a divulgação de C&T nas escolas e o fortalecimento das carreiras em ciência e tecnologia. Qual a expectativa dessa secretaria?
MP – Esta secretaria foi pensada também para atrair as crianças e os jovens para as carreiras científicas e tecnológicas. Os pesquisadores precisam do nosso apoio, mas temos que formar futuros cientistas. Esta é, inclusive, uma de nossas prioridades nestes primeiros 100 dias de governo: levar ciência e tecnologia para as escolas de ensino fundamental e médio com a participação dos pesquisadores e instituições de pesquisa. Para isso, estamos fazendo uma parceria com o Ministério da Educação. O esforço é para inserir a ciência e tecnologia no cotidiano das nossas crianças, despertando a curiosidade e atraindo nossos jovens para as carreiras científicas.
JC – Temos visto o crescimento de um movimento anti-ciência, que, por exemplo, nega as conclusões científicas sobre as mudanças climáticas (negacionistas) e, inclusive, alguns contestam o formato da Terra (terraplanistas). Qual a sua opinião sobre isso?
MP – Eu sou obcecado por educação e acredito que essas questões também passem pela formação das nossas crianças e dos nossos jovens. Precisamos de uma educação de qualidade, que amplifique o conhecimento científico. E levar a ciência e tecnologia para as escolas é decisivo neste processo.
JC – O senhor tem ressaltado o interesse do Ministério em trabalhar mais próximo das entidades científicas. Qual o papel dessas entidades? E como articular essa aproximação para atingir os objetivos?
MP – As entidades científicas são importantes, especialmente, porque ajudam a amplificar a importância da ciência e tecnologia para o País e, em parceria com o MCTIC, ajudar a nortear os rumos da ciência no Brasil. O engajamento da comunidade científica e da sociedade contribui, por exemplo, para garantir recursos para atividades de pesquisa, inovação e popularização da ciência. Por isso, é fundamental mostrar para a população o que a ciência pode fazer pelas pessoas e pelo Brasil e como ela pode ser uma ferramenta para geração de valor, de soluções para os desafios nacionais e de melhoria da qualidade de vida da população.
Vivian Costa – Jornal da Ciência