O dia 8 de março, consagrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional da Mulher, nos reforça o sentimento de que a sociedade brasileira reage com indignação com a condição da mulher no Brasil, covardemente vitimizada em pleno século 21 por meio das mais diferentes manifestações de violência e injustiças. Moldado para perpetuar um modelo patriarcal, o Brasil deve romper com esse processo histórico pernicioso para alcançar a civilidade plena, a modernidade, e consolidar a democracia. A sociedade manifesta o desejo de ter um país onde prepondere o respeito às diferenças, notadamente a de gênero.
Os números da violência de gênero alcançam dimensões alarmantes e, não por acaso, foram incontáveis e justificadas as manifestações de indignação da sociedade durante a maior festa popular do país – o Carnaval. As manifestações se multiplicam e se estendem em repúdio à ausência de políticas públicas eficazes de combate à intolerância machista e preconceituosa que avança fortemente, promovida, inclusive, por agentes públicos que deveriam zelar pela segurança e pelo respeito aos direitos. A indignação também traduz um sentimento de revolta contra a postura de agentes públicos que desprezam a lamentável e cruel realidade vivida especialmente pelas mulheres, e ainda estimulam ou são benevolentes com a violência de gênero, num momento em que o país enfrenta incertezas sobre a conjuntura política e econômica nacional, e quanto ao futuro do país.
A indignação que vem das ruas é contra as tentativas de se impor ao Brasil um pensamento atrasado e conservador em relação às soluções para as mazelas sociais. Esta indignação, certamente, deve apontar para novas alternativas de desenvolvimento humano, contemplando todos as aspectos de interesse da sociedade, seja no campo político, social, econômico, ambiental, cultural, e para uma convivência fraterna, de modo que não se alimente ódios e mantenha injustiças. O país quer avançar na democracia que lutou para alcançar, quer respeito e reconhecimento à sua diversidade, e não quer retroceder no modo de se conceber uma democracia moderna, plural, de participação popular em todas as decisões que estão relacionadas com a vida de cada cidadã e cidadão.
As injutiças e o desrespeito contra as mulheres, seja no lar, na escola, no trabalho, no exercício da cidadania, na vida pública e privada, alcançam níveis inaceitáveis. O patriarcalismo e o machismo presentes no cotidiano não pode ser assimilado e disseminado pelo poder público e seus agentes. Não é saudável para a democracia que governantes utilizem insistentemente a articuladamente de recursos tecnológicos oferecidos pelas redes sociais para manipular informações e conceitos que esgarçam as relações humanas, promovendo a multiplicação da violência e das injustiças. Ao contrário, deve o Estado e governantes respeitar os direitos, a Constituição, a cidadania. Devem atuar incessantemente para que prevaleçam as garantias das liberdades individuais e coletivas que a democracia preconiza.
As instituições federais de ensino superior, como um patrimônio do povo brasileiro, somam-se às manifestações nacionais contra a opressão de gênero, sobretudo contra a exarcebação da violência contra as mulheres. Neste grave momento para o país, as universidades se colocam ao lado na luta das mulheres e de toda a sociedade, que exigem respeito ao estado democrático de direito, aos direitos sociais conquistados, sempre na firme defesa da liberdade e do desevolvimento sustentável do país. A sociedade brasileira não recuará na defesa da democracia, e estará mobilizada contra as tentativas de retrocessos que ameaçam o Brasil.
Reinaldo Centoducatte
Presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – Andifes e Reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)