Há cerca de dois anos, um projeto de extensão começou a mudar a realidade socioambiental de alunos da Escola Municipal Dr. Luiz Garcia, localizada no assentamento de reforma agrária União dos Conselheiros, no município de Monte Alegre. Uma das iniciativas foi a criação de uma praça sustentável, pensada e construída coletivamente com a comunidade escolar e com a participação de estudantes e professores do Campus Sertão da Universidade Federal de Sergipe.
A praça sustentável foi inaugurada na quarta-feira, 27 de fevereiro, com um plantio simbólico de uma muda de cajueiro no local. A iniciativa foi resultado das atividades de extensão desenvolvidas através do modelo de participação de Ações Integradas em Ciências Agrárias (AICA) do curso de Ciências Agrárias com envolvimento de 40 alunos coordenados pela professora do Campus Sertão, Patricia Rosalba. A proposta é promover a interação entre a universidade e população local através de pesquisas e práticas pedagógicas. A ação contou também conta com a participação do Projeto Opará: águas do rio São Francisco, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal.
A Escola Municipal Dr. Luiz Garcia passou a ser então uma área experimental com ações de melhorias na unidade de ensino a partir do envolvimento de estudantes e professores dos departamentos de Agroindústria, Agronomia, Educação em Ciências Agrárias e da Terra, Medicina Veterinária e Zootecnia do Campus Sertão.
“Através do AICA, a universidade desempenha uma função social de extrema importância nas áreas de pesquisa, ensino e extensão com ações coletivas e integradoras nas comunidades onde atua, com troca de experiências e de conhecimento a partir de uma prática pedagógica e metodológica de ensino baseada em problema, no aprendizado auto-dirigido centrado no/a aluno/a e com foco na interdisciplinaridade. Espero que os estudantes levem estas vivências para a sua vida profissional, com habilidades e competências que incentivem cidadãos socialmente conscientes e tecnicamente habilitados para intervirem na sua realidade”, destaca Patricia Rosalba.
“A universidade trouxe um projeto e juntos começamos a realizar o sonho de ter uma praça na escola a partir do material que temos disponível na comunidade e sem custo nenhum para as famílias”, relata a agricultora Maria de Fátima da Silva Andrade
Unindo teoria e prática, os universitários junto com a comunidade local mudaram a paisagem árida do espaço que passou a ter uma área de lazer para crianças que estudam na unidade de ensino. A praça sustentável foi construída com pneus coloridos utilizados como balanço e brinquedos coletivos. No lugar também serão plantados cultivos de plantas nativas da região fruto da parceria com o Projeto Opará: águas do rio São Francisco, cuja equipe atua em constante instersecção com o Campus do Sertão da UFS.
A praça foi inaugurada com uma diversificada programação com interação entre estudantes universitários e a comunidade escolar, exposição de alimentos produzidos pela Associação de Mulheres Resgatando a sua História, de Lagoa da Volta, em Porto da Folha, desfile de alunos com peças de materiais recicláveis, plantio de mudas e distribuição de cartilhas educativas elaboradas por estudantes universitários com temas sobre mandacaru e mastites e verrugas em bovinos, Além da cartilha elaborada pelo Projeto Opará sobre o Rio São Francisco. A criançada da Escola Municipal Dr. Luiz Garcia se envolveu com as histórias, a praça e a horta saudável que fizeram com os estudantes da UFS.
A iniciativa foi comemorada por moradoras do Assentamento União dos Conselheiros e localidades rurais da região. Para a agricultora Maria de Fátima da Silva Andrade, a inauguração da praça foi a concretização de uma reivindicação antiga dos moradores. Ela procurou a escola e sugeriu a instalação de um espaço de recreação para os alunos. “A direção da escola ouviu a minha sugestão de instalar uma área de lazer para as crianças. A universidade trouxe um projeto e juntos começamos a realizar o sonho de ter uma praça na escola a partir do material que temos disponível na comunidade e sem custo nenhum para as famílias”, relata.
Para a diretora da escola, Maria Roseli Mendonça, o estímulo às práticas sustentáveis através de ações coletivas é importante para formar novas gerações comprometidas com a preservação das riquezas naturais e com a garantia de direitos da infância do semiárido. “Parcerias como estas fortalecem a importância de um novo olhar em relação à escola, espaço onde a ludicidade é uma ferramenta pedagógica para a socialização da cidadania. O Parque Sustentável é uma oportunidade de retomada das brincadeiras coletivas e também ajuda as crianças compreenderem a necessidade de atitudes que preservem o meio ambiente”, comenta.
A proposta é promover a interação entre a universidade e população local através de pesquisas e práticas pedagógicas
Além da praça sustentável, as crianças também passaram a contar com um espaço de horta saudável para o plantio de coentro, alface e beterraba, primeiros cultivos que devem se diversificar para outras culturas orgânicas semeadas sem agrotóxicos. Uma experiência que deve incentivar a prática de quintais produtivos orgânicos já adotados por muitas famílias da região.
“A criança aprende a plantar o alimento que vai comer na merenda e assim vai ser um adulto mais consciente no futuro. É uma lição que a criança vai levar para a vida toda. Os estudantes de hoje serão os futuros profissionais que vão trabalhar aqui na região”, diz Ereni De Souza Silva, auxiliar de serviços gerais da escola e moradora do Assentamento União dos Conselheiros.
A atividade contou com a presença da secretária de Educação do Município de Monte Alegre, Aline Kelly Amorim Santana. “A gente ficou feliz quando a secretaria recebeu a proposta do Campus Sertão para realizar atividades na escola estimulando práticas socioambientais. Saber plantar, cultivar e colher é um processo de ensino-aprendizagem que incentiva uma interação direta da criança com o meio ambiente onde vive”, destaca.
A professora Josileide Oliveira Alves Policarpo é uma das incentivadoras do projeto. “A gente já criava com as crianças peças com utilização de garrafas pets e outros materiais recicláveis como objetos decorativos nos períodos de datas festivas. Com a parceria com a universidade, foram desenvolvidas outras habilidades criativas como a Praça Sustentável que foi construída junto com os alunos que pintaram os pneus e participaram de todo processo. É uma ideia de sustentabilidade que alunos e professores adotaram”, diz.
Além da escola, o impacto gerado a partir das atividades do AICA e do Projeto Opará na comunidade também foi percebido por servidores do Campus Sertão da UFS, como a técnica-administrativa de Educação e engenheira Agrônoma, Ciaria de Aguiar Freitas Farjão. Ela conta que a integração entre estudantes e a população local incentivou novas práticas do ensino-aprendizagem. “A AICA é uma porta de entrada para experiências acadêmicas nas quais os estudantes de vários cursos lidam com problemas sociais como a questão de gênero no campo e intervenção no território onde vivem, percebendo a mulher no campo produtivo e a importância da visibilidade do espaço de fala feminina na zona rural”, observa.