Na área de construção civil, a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é um reconhecido instrumento para medir e analisar os impactos ambientais, sociais e econômicos. É com base nesse instrumento – e em outros métodos de avaliação – que está sendo desenvolvido o projeto de pesquisa Promoção da sustentabilidade no setor da construção, coordenado pela docente do curso de Engenharia Civil de Infraestrutura da UNILA Katia Punhagui. A partir desse trabalho, é possível gerar informações ambientais de elementos e de componentes de edificação e propor estratégias para mitigação de impactos negativos, além de colaborar com o melhoramento de processos produtivos dos materiais de construção. O projeto também contribui para a formação de profissionais críticos e conscientes da relação de suas atividades com o meio, bem como na tomada de decisão para a promoção de um ambiente – edificado e natural – mais sustentável.
“Primeiro identificamos o problema, fazemos um diagnóstico dele, para poder gerar soluções que possam ser implementadas e, assim, conseguir melhorar o desempenho no setor da construção – propondo mudança tecnológica, no processo ou no material”, explica a professora Katia Punhagui, cuja tese de doutorado abordou as temáticas da sustentabilidade e construção. Na sua atuação dentro da Universidade de São Paulo (USP), a docente participou de pesquisa com Avaliação do Ciclo de Vida simplificado, para a viabilização de estudo com dados primários envolvendo o setor produtivo. Esses dados referem-se ao consumo de insumos, energia, água e emissão de CO2. Na UNILA, ela trouxe essa experiência e apresentou um projeto para contribuir com investigações acerca desses temas. A ideia é estar em consonância com o Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida (PBACV), gerar conhecimento e aproximar a universidade com o setor produtivo.
A docente – que também desenvolve pesquisa de cenários estratégicos para a mitigação de emissões e impactos ambientais no setor da construção – aponta para a necessidade de geração de dados nacionais que apresentem a realidade da indústria brasileira e, ainda, que fundamentem adequadamente políticas públicas e mudanças tecnológicas. Ela cita, como exemplo, a necessidade de um levantamento do uso da madeira no Brasil, que deve levar em conta as suas especificidades. “Alguns países estão promovendo o uso da madeira em longo ciclo de vida, em aplicações duráveis, para, entre outras coisas, tentar diminuir a emissão de CO2. Aqui, usamos relativamente pouca madeira na construção, porque temos muitos problemas na cadeia madeireira, no produto e no mercado. Também, nesse caso, nossos fatores de emissão de carbono são bem diferentes dos europeus, é outro cenário, que não dá para aplicar aqui no Brasil”, contextualiza.
Cenário brasileiro
Uma das pesquisas dentro do projeto intitula-se Avaliação de desempenho no consumo de madeira para a construção de habitação no Brasil. É um estudo de iniciação científica desenvolvido pelo estudante de Engenharia Civil de Infraestrutura da UNILA Erik Moraes, sob orientação da docente Kátia Punhagui. O estudo avaliou o cenário de construção de casas brasileiras, com variação entre 21 e 110 metros quadrados de área construída. Dentre elas, 93% são construções em alvenaria e somente 5%, de madeira. Nessa pesquisa, chegou-se ao dado de que a cada duas casas de alvenaria, utiliza-se uma quantidade de madeira que daria para construir uma casa inteira de madeira. “A construção de casas de alvenaria geralmente é feita de forma artesanal e utiliza-se a madeira para fôrmas dos elementos estruturais, como pilares e vigas. A madeira, portanto, tem ciclo de vida e valor agregado muito baixo e é descartada como resíduo”, pontua o estudante.
A pesquisa sugere como alternativas de redução do consumo de madeira, de energia e das emissões o melhoramento no desempenho dos materiais e a apreciação da cadeia de produção. Entre outras direções alternativas, “o estudo também aponta para o beneficiamento dos resíduos (reutilização ou reciclagem), industrialização do processo de produção das casas e a incorporação de novas tecnologias – utilização de módulos ou moldes na execução de elementos estruturais”, explica o estudante.
Outras pesquisas em andamento dentro do projeto Promoção da sustentabilidade no setor da construção analisam também a possibilidade de reaproveitamento de madeira descartada em obras. Além disso, analisam a construção de casas de madeira no contexto internacional e no caso brasileiro, com avaliação do potencial do país, em um estudo realizado a partir das políticas públicas no setor, bem como do ponto de vista do consumidor. Essas pesquisas estão inseridas no Laboratório de Desempenho, Estruturas e Materiais (LADEMA) da UNILA, com participação de graduandos, mestrandos e docentes da Universidade.
Formação
Na revisão do projeto pedagógico do curso de Engenharia Civil de Infraestrutura da UNILA, a disciplina que envolve sustentabilidade está prevista para fazer parte do currículo acadêmico. O curso também tem a meta de trabalhar com o desenvolvimento de projetos de forma transversal, a partir de uma visão sistêmica.
“Na área de Engenharia, a disciplina de sustentabilidade reforça a visão de entender o cenário de forma holística, no qual o que você move e transforma afeta não somente o que está fazendo, mas também uma cadeia. Espera-se preparar alunos de Engenharia da UNILA, portanto, com senso crítico, profissionais maduros e conscientes de suas decisões técnicas”, diz a professora Katia Punhagui.