Desde o início do ano letivo de 2019, alunas do sexto ao nono ano de cinco escolas públicas de Salvador, receberam a oportunidade de desenvolver o pensamento computacional, analítico e estatístico para aprender como funciona a Ciência de Dados que, atualmente, está inserida nas mais diversas áreas do conhecimento, além das exatas.
A novidade, voltada para 500 garotas da faixa etária dos 11 aos 15 anos, é possibilitada pelo Projeto Meninas na Ciência de Dados que é viabilizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e realizado por professores e estudantes voluntários dos cursos das engenharias elétrica, química, dos transportes, ambiental e civil da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, sob a coordenação da professora Karla Patrícia Oliveira Esquerre.
De acordo com Esquerre, as meninas foram escolhidas como o público beneficiado, porque “elas são minorias nas áreas das ciências e em posições de destaque na cultura, na universidade e na sociedade, até porque como meninas, negras e de comunidades pobres, elas não se veem como protagonistas de algum tipo de conhecimento e principalmente, nas áreas voltadas para as ciências exatas”. As atividades consistem em trazer o pensamento computacional como ferramenta para os estudantes das escolas públicas aprenderem a solucionar problemas, tirando conclusões a partir de dados, padrões e tendências, em diferentes áreas do conhecimento humano, contou.
As estudantes terão uma etapa de capacitação com dinâmicas em que serão passados conteúdos ligados ao pensamento estatístico, algoritmo, programação, conceitos introdutórios de estatística, o que é possibilidade, probabilidades. A partir daí elas já poderão trabalhar os conteúdos nos computadores chromebooks de suas escolas. Na próxima fase, elas irão aplicar os conhecimentos, mediante a construção do site “Conhecendo Salvador”, que deverá trazer variadas informações sobre o espaço geográfico da cidade, contendo informações de áreas como saúde, educação, segurança e etc, contendo gráficos e históricos de vários anos mostrando a situação, disse a professora.
Para ela, “isso reforçará aspectos como a cidadania, pois elas saem do ambiente em que estão inseridas, além do desejo de serem atores de mudança, pois as crianças estarão capacitadas e criticar a cidade, observando áreas que elas nunca imaginaram que chegaram a refletir sobre elas”. A docente que também integra o Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial (PEI), conta que percebeu que as meninas se veem posições afastadas da matemática, então “trazemos para elas a possibilidade de serem atuantes nas diferentes áreas da cidade, nos mais diferentes cursos e profissões, mas sempre ligadas à matemática, pois precisarão dela para tomar decisões. Não é só calcular. Mas calcular e analisar”. Assegurou.
Karla Esquerre vê “uma beleza” nessa atividade inicial porque “muitas dessas crianças nunca saíram do bairro onde vivem e estudam e quando são colocados diante da mobilidade, começam a conhecer como pode transitar pela cidade e outras possibilidades de atuação. Ela reforça que também são feitas dinâmicas para discutir o protagonismo feminino, a quebra de estigmas, a valorização da imagem dessas jovens e a possibilidade delas serem agentes de transformação social.
As estudantes também terão momentos de integração com a UFBA mediante a realização de atividades em que serão inseridas no ambiente da Universidade. Para o próximo dia 12 de abril de 2019, está previsto que 250 delas irão à Escola politécnica para a realizarão de visitação aos laboratórios, práticas experimentais e conhecimento do ambiente acadêmico.
Sobre o projeto
O projeto, cujo título original é Diversidade de Gênero na Ciência de Dados: Formação com Base na Experimentação, foi simplificado para facilitar a comunicação com as estudantes e seus pais, foi submetido à chamada do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) nº 31/2018 – Meninas nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação que trazia o objetivo de desenvolver atividades para contribuir significativamente para o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação do País, por meio do estímulo à participação e à formação de meninas e mulheres para as carreiras de ciências exatas, engenharias e computação. Além de obter aprovação, foi muito bem qualificado, pois obteve nota máxima (10) em sete dos oito itens avaliados e somente uma nota nove (9,0), contou a professora.
Todos os profissionais da UFBA atuam como voluntários, somente as estudantes bolsistas recebem o auxílio da Iniciação Científica.
As escolas cinco escolas contempladas em Salvador são: uma municipal – Cidade de Jequié e quatro estaduais – Evaristo da Veiga, Henriqueta Martins Catharino, Mario Costa Neto e Colégio Estadual Ypiranga. Junto com a adesão de, pelo menos um professor do local, cada estabelecimento escolar tem o apoio de dois professores da UFBA, uma psicopedagoga da Escola Politécnica, três bolsistas de iniciação científica e uma antropóloga da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Todos os profissionais atuam como voluntários, somente as estudantes bolsistas recebem um auxílio, esclareceu a Esquerre.
Também tem o envolvimento dos professores de cada escola – da área de Geografia que acompanhará a elaboração do site e de todas as áreas na segunda atividade que será uma feira de ciências. Apesar dos desafios de ainda não ter as fontes de dados para todas as informações que serão necessárias ao projeto, a Segundo a professora que também integra a Rede de Tecnologias Limpas da Bahia (TECLIM), vê vantagens como a adesão voluntária de vários estudantes de graduação e professores, procurando-a para integrar a equipe do Meninas da Ciência de Dados.
Ela destaca que o projeto é inovador pois contempla aspectos do ensino, devido às atividades formativas; da pesquisa, pois trabalha a metodologia científica com as crianças; da extensão, pois leva a Escola Politécnica da UFBA para junto da comunidade e também social, pois promove transformação social nos participantes. Além disso, trabalha com uma tendência nova na educação mundial, só observada em países como Finlândia que enfatiza o pensamento computacional e a Coréia do Sul que valoriza mais o desenvolvimento da computação. O projeto também conta com apoio das instituições R-Ladies Global e R-Ladies Salvador.