UFMG realiza conferências sobre temas da atualidade

É tempo de fenômenos surpreendentes, nos diversos campos, aqui e mundo afora. São questões urgentes, que desafiam o pensamento e põem valores em xeque. A UFMG quer trazer esses temas para o debate e vai inaugurar, na próxima quarta-feira, dia 27 de março, o ciclo de conferências e seminários Tempos presentes. O projeto receberá pensadores vinculados à Universidade e a outras instituições, do Brasil e do exterior.

O evento inaugural, que terá lugar no auditório 104 do CAD 2, no campus Pampulha, será conduzido pelo professor João Antonio de Paula, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, que vai falar sobre A universidade e os desafios da construção democrática. No dia 11 de abril, o reitor da Universidade Federal da Bahia, João Carlos Salles, vai prosseguir com a temática, tratando de perspectivas de atuação da universidade pública.

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida destaca que o objetivo do ciclo é abordar questões contemporâneas relacionadas a academia, à política, à sociedade e à comunicação. “Queremos tratar de temas fundamentais que vão da ciência e tecnologia à construção democrática, envolvendo as comunidades interna e externa”, afirma.

Sandra Regina Goulart Almeida acrescenta que a missão da Universidade inclui “promover o debate marcado pelo pensamento crítico e pela pluralidade de ideias” e que o novo projeto dá continuidade a iniciativas bem-sucedidas, como os ciclos Sentimentos do mundo e Desafios contemporâneos – este último integrou as celebrações dos 90 anos da UFMG, completados em 2017.

Guinadas

A maioria das edições de Tempos presentes contará com um professor da UFMG e um convidado. Quanto a estrangeiros, o plano é tentar conciliar a agenda do projeto com a presença no Brasil de pensadores do exterior. A ideia é realizar encontros mensais. Sempre que possível, o evento vai integrar o calendário das Atividades Complementares para os alunos do período noturno.

Para o professor Ricardo Takahashi, assessor da Reitoria e responsável pela organização da série, a universidade é espaço de reflexão qualificada, capaz de abrigar ampla diversidade de temas e de pontos de vista. “É o lugar do debate acadêmico e social, que atinge ­público cada vez mais diverso”, diz.

Takahashi lembra que o mundo tem passado por guinadas como a tomada do poder por movimentos políticos que, há uma década, não estavam no radar e por ameaças à ­democracia que se materializam nas novas formas de utilização das redes sociais. “O objetivo é promover, sob novos ângulos, a reflexão sobre um conjunto de novas questões que emergem ao mesmo tempo, mais ou menos conectadas entre si”, comenta o professor, mencionando temáticas que deverão ser debatidas, como os significados e limites da inteligência artificial e as relações entre sustentabilidade e mudanças climáticas.

Retrocesso e vigilância

João Antonio de Paula vai basear sua apresentação em questões distintas entre si, mas que, segundo ele, devem ser tratadas de forma articulada. Ele lembra que o mundo vive crises profundas e tem enorme dificuldade de superá-las, uma vez que estão esgotados os modos tradicionais de fazer política. O Brasil, por sua vez, passa por sua própria crise, “como nunca vimos”, marcada por “sinais evidentes de retrocesso”.

O professor ressalta que a UFMG já enfrentou outras situações graves e que sempre se posicionou de forma altiva e responsável. “Toda a história da Universidade é de resistência, e ela sempre soube oferecer respostas no sentido da democracia. Esse é o nosso compromisso histórico, o nosso patrimônio”, afirma.

Outro ponto que tem dominado as preocupações de João Antonio de Paula é a necessidade de reação da academia às novas formas de utilização das tecnologias, sobretudo da comunicação. “Estamos sob total e constante vigilância, exercida por quatro ou cinco empresas que controlam essas tecnologias. Vamos nos subordinar ou há alternativas?”, indaga. Segundo o professor, também nessa área o papel da universidade é singular. “É talvez a única instituição que pode olhar essa questão de frente, distinguindo nuances e, ao mesmo tempo, formando uma visão de conjunto. Mas é preciso também oferecer alternativas concretas”, defende.