A EdUFSCar está lançando o livro “A persistência do aviamento – colonialismo e história indígena no Noroeste Amazônico”, de autoria de Márcio Meira. O evento de lançamento será no dia 10 de abril, às 19 horas, no Espaço Múltiplo (Rua Luiz Vaz de Toledo Piza, 346), em São Carlos. No mesmo dia, será realizada conferência sobre o tema, às 10 horas, no Auditório do Departamento de Ciências Sociais (DCSo), na área Sul do Campus São Carlos da UFSCar.
O sistema de aviamento (cadeia de fornecimento de mercadorias a crédito) é um tema clássico na Amazônia. Eduardo Galvão, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, foi um dos que analisou esse modelo de comercialização nos anos 1950 e 1960. Antes dele, Charles Wagley já o havia estudado na obra “Uma Comunidade Amazônica”, enfocando a realidade do município paraense de Gurupá. Além disso, são famosas as análises críticas a essas relações de escravidão por dívida feitas por Joaquim Nabuco, Tavares Bastos e Euclides da Cunha, dentre outros. O objetivo da pesquisa presente na obra de Meira foi seguir a trilha deixada por vários desses estudos, focando na relação do aviamento com a história indígena e o processo colonial no Noroeste Amazônico que, segundo ele, foi estruturado nos séculos XVII e XVIII, persistindo até hoje.
“Tal sistema, com esse nome, só foi caracterizado e definido no século XX como uma forma de escambo a crédito, que estabelece uma relação permanente de dívida e uma rede hierárquica de dominação entre ‘patrões’ e ‘fregueses’. Os povos indígenas, impactados pela escravidão e comércio associados a essa ‘economia da dívida’, lograram atuar nesse ‘tempo longo’ nas margens do regime de violências, conservando e renovando seu antigo sistema social regional, ‘fluido’ e ‘aberto'”, explica o autor.
Para a pesquisa, Meira trabalhou com fontes orais e escritas. Utilizou entrevistas livres e dirigidas realizadas em pesquisas de campo na região, ao longo da década de 1990, além de textos escritos baseados em fontes orais, como no caso de narrativas míticas publicadas desde o século XIX, inclusive mais recentemente pelos próprios indígenas. As fontes escritas são provenientes tanto de importantes acervos, como o Arquivo Público do Pará, do Museu do Índio, do Museu Goeldi, da Diocese de São Gabriel, do Museu Amazônico em Manaus, além das inúmeras fontes primárias impressas, com destaque aos relatos de missionários jesuítas, militares e naturalistas viajantes.
“Minha pesquisa procura demonstrar a persistência da antiga economia da dívida no Noroeste Amazônico, uma região de colonização na Amazônia. Destaco que, embora marcadas pela violência, tais práticas não foram suficientemente fortes para destruir o sistema social indígena, cuja resiliência é incontestável”, conclui Meira. Mais informações sobre o livro podem ser obtidas no site da EdUFSCar.