Moradores em situação de vulnerabilidade terão a oportunidade de aprender a escrever, ler e se alfabetizarem através do projeto Escola da Vida. Encabeçado pela Universidade Rural de Pernambuco (UFRPE) com financiamento do Ministério da Educação (MEC) e execução da organização social Centro de Prevenção às Dependências, as aulas itinerantes estão sendo realizadas em oito localidades do município de Olinda – Praça do Carmo, Varadouro, Rio Doce, Sítio Histórico, Bairro Novo, Ilha do Maruim, Peixinhos e Comunidade do V8. A expectativa é elevar a escolaridade dos 150 participantes e estimular uma visão crítica, para que eles possam construir caminhos e possibilidades de melhorar a vida.
Para a moradora em situação de rua, Gabrielly Marinho, de 23 anos, essa é uma oportunidade única de transformar sua vida. Ela cursou até o 1º ano do ensino fundamental e pretende voltar a estudar para quem sabe, conseguir ser juíza, seu grande sonho. “É muito importante participar, infelizmente hoje vivo no mundo das drogas, mas quero sair e ter oportunidades melhores. Já corri para tirar meus documentos, agora quero concluir meus estudos”, afirmou. A troca de vivências é outro ponto marcante da ação.
“Tenho aprendido todos os dias com eles e os nossos problemas ficam pequenos diante da dificuldade que eles enfrentam. Muitos chegam aqui sem saber nem como será o amanhã, se vão ter o que comer e onde dormir”, relatou Joana Albuquerque, educadora de letramento.
Entre os maiores desafios, ela destaca é a alfabetização inicial. “Muitos deles não reconhecem as letras do alfabeto. Precisamos treinar a motricidade fina, realizar atividades de caligrafia e dividir as dinâmicas com aqueles que já possuem certo estudo”, explicou a professora.
Com uma equipe formada por pedagogas, psicólogos, advogada, sociólogos e assistentes sociais, a Escola da Vida promoverá ao todo 32 oficinas com cada turma formada. Os encontros já têm sido realizados desde novembro do ano passado, mas o equipamento apresentado ontem foi disponibilizado semana passada.
Para as aulas ao ar livre, o projeto vai usar um carrinho-escola equipado com uma minibiblioteca, materiais didáticos, quadro para projetor e quadro negro. Como contrapartida, por meio de um convênio firmado na manhã de ontem, com a Prefeitura do Olinda, a gestão disponibilizara um carro, onde o carrinho-escola estará acoplado, com motorista, para possibilitar a realização das oficinas nas ruas.
“O projeto nasceu na nossa crença de que a educação é a única política que pode gerar demandas de transformação social na vida de pessoas em vulnerabilidade social. A ideia do carrinho-escola é para democratizar o ensino e fazer com que ele chegue aos espaços públicos”, afirmou a coordenadora da Escola da Vida, Ana Glória Melcop. Ela também ressalta que a iniciativa não tem como objetivo substituir a escola normal. “O que nós estamos buscando é fazer com que essas pessoas retomem o caminho de volta para a escola”, declarou.
Para a reitora da UFRPE, Maria José da Sena, a principal missão do projeto é proporcionar dignidade as pessoas. “Queremos abrir os horizontes destes estudantes e dizer que eles têm direitos, mas para busca-los o melhor caminho é o da Educação. Estamos proporcionando aqui esperança e possibilidade de uma vida melhor. Esperamos que com os resultados positivos, possamos propor o projeto para outros municípios do Estado”, declarou. Empresas particulares também podem torna-se parceiros, inclusive, para viabilizar a possibilidade de ampliar o número de carrinhos-escolas.
O projeto também vai capacitar 120 profissionais que atuam diretamente com o público nas ruas do município. Assistentes sociais, da saúde, segurança pública e conselhos tutelares vão trabalhar com os temas: Cidadania, População em situação de rua, Legislação, Programa Nacional de Direitos Humanos, Cenário das vulnerabilidades (pobreza, drogas, tráfico). O objetivo é melhorar atendimento profissional ofertado a esta população específica. “Para o município esse é um projeto muito importante, vamos levar educação para as pessoas que mais precisam e Olinda é pioneira nesse projeto”, afirmou o vice-prefeito Marcio Botelho.
Fonte: FolhaPe