Com uma queda de 74% nos repasses públicos para investimento nos últimos três anos, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) está buscando recursos privados para financiar uma ampla expansão de seus campi da Vila Marina e de Santo Amaro, em São Paulo. O projeto é orçado em R$ 1 bilhão e tem por objetivo construir um complexo com hospitais, prédios acadêmicos, restaurante e moradia universitária que poderão ser compartilhados com a iniciativa privada.
“Não voltaremos a ter o mesmo patamar de repasses de anos anteriores e precisamos manter nossos investimentos. Não estamos vendendo a Unifesp, mas buscamos formas de usar a capacidade imobiliária ociosa para levantar recursos”, disse Soraya Smaili, reitora da Unifesp, que está na metade do seu segundo mandato. No ano passado, a instituição de ensino recebeu repasses de R$ 29,2 milhões para investimentos, o que representa uma queda de 74% quando comparado a 2015.
Atualmente, a Unifesp tem 187 imóveis que juntos somam 143 mil m2, sendo que alguns deles podem ser reformados ou demolidos para a construção de novos prédios. A meta é acrescentar 129 mil m2 de área construída e, desse total, cerca de 87 mil m2 serão ofertados à iniciativa privada.
O plano de expansão da Unifesp está em fase de chamamento público e até o momento há cerca de 30 interessados, entre eles, empresas de medicina diagnóstica, seguradoras de saúde, fundos de investimentos e construtoras.
A preferência será dada a empresas do setor de saúde, uma vez que a instituição é reconhecida por seu curso de medicina e tem parcerias com o Hospital São Paulo, Hemocentro, Instituto do Sono, Hospital do Rim e GRAAC, que ficam no entorno da universidade no bairro da Vila Mariana.
No entanto, também serão abertas negociações com outros tipos de investidores, como bancos, restaurantes e cafés, que poderão ocupar as áreas comuns dos prédios. Um exemplo: incorporadoras poderão erguer a moradia estudantil que está sendo planejada para atender aos alunos carentes da Unifesp. Hoje, os alunos carentes recebem da universidade uma ajuda de custo de cerca de R$ 600, por mês, para moradia.
A iniciativa privada poderá participar de sete empreendimentos do projeto de expansão da Unifesp: prédios para abrigar salas de aula e áreas acadêmicas, restaurante universitário, pesquisas experimental e clínicas, além de moradia universitária, hospital da criança e adolescente e centro de oncologia. Em alguns imóveis, como o prédio do biotério, a Unifesp deve ocupar apenas alguns andares, sendo que os demais poderão ser locados por empresas.
A concessão de imóveis ao setor privado envolve diferentes modelos, podendo ser permuta (concessão de área em troca de investimento), aquisição do imóvel ou locação por até 30 anos. A instituição de ensino também negocia com a prefeitura a modernização urbanística na região com projetos de estacionamento e iluminação subterrâneos, entre outros.
Segundo Pedro Arantes, pró-reitor de planejamento da Unifesp, esta é a primeira vez que uma universidade federal coloca no mercado um projeto de expansão em parceria com a iniciativa privada. A Universidade Federal do ABC tentou abrir uma unidade em Mauá junto com o setor privado, mas o projeto não foi adiante. “Estamos bem abertos às propostas dos interessados, mas todas serão analisadas pelo comitê universitário. Não pode fugir muito do nosso escopo”, disse Arantes. A fase de chamamento público vai até o início de maio e depois começa a etapa de licitação.
No ano passado, a Unifesp teve um orçamento de R$ 1,3 bilhão, sendo que deste total cerca de 75% foram para folha de pagamento de professores e funcionários. Em 2011, a universidade federal iniciou um forte processo de expansão com abertura de cursos nas áreas de Exatas e Humanas e em outras cidades de São Paulo como São José dos Campos, onde ficam os cursos de engenharia. A Unifesp está construindo um sétimo campi na zona leste de São Paulo.
Fonte: Valor