Utilizando a música como ferramenta para auxiliar a alfabetização de crianças, a professora Maysa Luchesi e a estudante Débora Ulhoa levam os conhecimentos do curso de Fonoaudiologia para a comunidade do Distrito Federal por meio de um projeto de extensão.
O trabalho é especialmente importante para crianças com dificuldade de fala ou leitura e escrita, pois ajuda antes a perceber a fala e desenvolver mais facilmente as habilidades. “Cada lugar em que fazemos as ações exige algo de mim. Tento adequar o material às crianças, para que elas possam receber de forma lúdica”, conta a extensionista Débora Ulhoa.
A estudante tem 24 anos e está cursando o último semestre de Fonoaudiologia no campus de Ceilândia da Universidade de Brasília. Desde os 14 anos, toca violão, canta e compõe. “Queria juntar meus conhecimentos do curso com a música, e compor canções que tenham componentes da consciência fonológica”, explica Débora.
A parceria começou quando Débora compôs uma música para apresentação em uma matéria ministrada pela professora Maysa Luchesi. “Vi que ela tinha um potencial gigantesco, tinha que investir e levar aquilo para a sociedade”, conta a docente. Foi então que Débora foi convidada pela professora para criar um projeto de extensão.
O projeto, que se iniciou no ensino, continuou pela extensão, agora vai dar resultados na pesquisa, como tema do trabalho de conclusão de curso de Débora.
FONÉTICA – O conceito trabalhado com as crianças envolve desde a percepção do tamanho e das semelhanças fonológicas entre palavras, até a capacidade de dividir as palavras em sílabas e fonemas. As atividades buscam dar às crianças a consciência de como a palavra é formada. Mesmo antes da alfabetização, elas precisam ter consciência de sons e sílabas.
“Essa habilidade fonêmica é importante para o desenvolvimento da leitura e da escrita”, explica a professora Maysa Luchesi. Isso pode ser desenvolvido com processos em que a rima é evidenciada, em que as crianças refletem sobre a estrutura sonora das palavras. Assim, a criança pode desenvolver memória verbal, entender regras gramaticais e facilitar a aprendizagem da escrita.
As atividades são feitas uma única vez com cada grupo de crianças, geralmente 25 a 35 meninos e meninas. Ao todo, as duas já trabalharam com mais de 300 crianças em escolas e ONGs de Ceilândia, Samambaia e Taguatinga.
IMPACTO – O décimo encontro do projeto de extensão aconteceu na Casa Azul Felipe Augusto, uma Organização da Sociedade Civil (OSC) em Samambaia que atua no combate às desigualdades sociais com crianças e adolescentes.
A atividade começa com a professora e a extensionista pedindo que as crianças adivinhem seus nomes, Maysa e Débora, baseado nos fonemas, e depois desafiando as crianças a dizer se palavras são iguais ou diferentes baseadas nos seus sons – fila e vila, face e fase, pano e cano, etc.
A estudante Débora Ulhoa e a professora Maysa Luchesi estão à frente do projeto. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB
É então que a diversão começa para as crianças. “Eu vou ensinar uma música e vou querer ajuda de vocês”, diz Débora, pegando o violão. As crianças pegam o refrão muito rápido: “Todas as letrinhas têm um som”.
São quatro músicas, e o desempenho das crianças melhora a cada uma, mesmo com o aumento da dificuldade. São trabalhadas competências como a identificação de fonema inicial e discriminação de sons, síntese silábica e síntese fonêmica e, claro, a identificação de rimas.
Presente na atividade, a caloura de Fonoaudiologia Juliana Ribeiro, de 18 anos, estava participando de uma atividade de extensão pela primeira vez. Quando ficou sabendo da existência de projetos de extensão, virou a madrugada olhando o Sistema de Extensão (Siex).
“Esse foi o que eu mais gostei, por ser na minha área e por trabalhar com crianças”, conta a estudante. “É incrível ver técnicas que aprendemos sendo aplicadas na prática.”
A execução do projeto Consciência fonológica, aprendizagem e música: interação do estagiário em Fonoaudiologia com crianças em alfabetização é resultado de um acordo firmado entre a UnB e o Ministério Público do Trabalho.