Gesica Lourdes Sabino passava os sábados em casa, aos 19 anos de idade, quando decidiu ocupar o tempo e melhorar o currículo. “Pesquisei cursos gratuitos até que encontrei o Núcleo de Ensino de Libras da Universidade Federal do Paraná. Comecei a frequentar as aulas, conquistei independência e encontrei uma paixão que nunca havia imaginado, a Libras”, lembra. “Além das aulas eu estudava em casa, me dedicava a traduzir vídeos, músicas, uma preparação para as próximas atividades”.
O Núcleo de Ensino de Libras (NEL) é um órgão vinculado à coordenação do curso de licenciatura em Letras Libras da UFPR e atua em atividades de extensão relacionadas à Libras como segunda língua para quem tem o sentido da audição preservado. O curso gratuito abrange os níveis básico, intermediário e avançado da Língua Brasileira de Sinais (Libras), considerada pela comunidade surda como a língua materna, e que vem sendo disseminada entre pessoas ouvintes há alguns anos.
Após concluir as três etapas do Núcleo, Gesica decidiu ingressar na graduação em Letras Libras da UFPR. “Fiz o vestibular e passei. O NEL nos ensina cultura, história e comunicação, e incentiva a trabalhar na área da educação, além de ampliar os horizontes profissionais”, avalia a acadêmica que atualmente promove apoio para alunos surdos da rede pública.
Divulgação: Núcleo de Ensino em Libras.
Criado em 2016, o NEL já proporcionou o ensino do idioma a mais de 700 pessoas ouvintes. Em média, 240 alunos são atendidos anualmente; dentre eles, mais de 60% são ouvintes da comunidade externa, o restante do grupo é formado por estudantes e servidores da UFPR.
Ao oferecer o ensino de Libras para ouvintes, as atividades ampliam o universo de interação das pessoas surdas, garantindo mais igualdade e oportunidades. A contribuição também passa pelo sentido cultural, como explica a coordenadora do Núcleo, Lídia da Silva. “O ouvinte que começa a estudar Libras no NEL, apropria-se de um patrimônio cultural brasileiro e compreende que ouvintes podem falar Libras de maneira fluente. Isso desmistifica a ideia de que é a língua dos surdos, da minoria. Na verdade, essa é a língua de quem se apropria e usa, pode fazer parte da identidade do ouvinte. O aprendizado de Libras reflete em ganho pessoal, cultural e de ordens cognitivas”.
O Núcleo promove, ainda, o encaminhamento prático das diretrizes legais que apontam para a disseminação do idioma no território nacional, com ações pedagógicas estruturadas, incluindo todo o programa de ensino, lições, avaliações, feedbacks e contato. As atividades são semelhantes ao estudo de outra língua estrangeira, exigem dedicação e tempo de estudo fora da sala de aula.
Apesar de não ser um curso profissionalizante, o NEL abre possibilidades para os alunos. “Ainda que não seja um centro de capacitação profissional, o NEL abre porta para que o aprendiz ingresse em uma fase seguinte de profissionalização, por meio da graduação em Letras-Libras ou cursos específicos que habilitam intérpretes”, explica Lídia. “A segunda língua gera possibilidades diferenciadas. Os estudantes do NEL agregam esse conhecimento na sua rotina profissional ou ampliam os conhecimentos. De posse do instrumento linguístico, podem desbravar caminhos profissionais”.
Letras-Libras
A formação dos estudantes do curso de licenciatura em Letras-Libras também passa pelo NEL, já que os estudantes ministram as aulas nos cursos de extensão, após receberem orientações e treinamentos sobre a didática do ensino de língua. O Núcleo configura-se como um laboratório prático em que os acadêmicos podem aplicar o conhecimento teórico-científico que aprendem em sala de aula e, assim, receber uma formação pedagógica sólida e global.
Estudante do curso de graduação em Letras-Libras, Verônica de Jesus Blanc. Fotos: Arquivo Pessoal
A estudante surda Verônica de Jesus Blanc, cursa a graduação em Letras-Libras desde 2018 e ministra aulas no NEL há dois meses . “A experiência é excelente. Aprendi com a metodologia do projeto, que motiva, e também com meus alunos. Faço as atividades repetidas vezes, eles tiram dúvidas e aprendem”.
“É importante que eles aprendam Libras para proporcionar uma melhor comunicação geral, no trabalho, nas escolas, em hospitais, entre outros espaços”, complementa.