Na região semiárida, as escassas reservas hídricas representam um sério problema socioambiental. Uma das alternativas sustentáveis para mudar este quadro está no uso da tecnologia social do reaproveitamento da chamada água cinza para a irrigação de fruteiras e hortaliças.
Em Sergipe, um projeto-piloto de reaplicação e aperfeiçoamento da tecnologia social Bioágua Familiar vem incentivando a aplicação do reuso da água cinza como modelo de preservação dos recursos naturais para o uso de quintais produtivos.
O projeto intitulado Reuso da Água para Fomentos de Quintais Produtivos no Semiárido do Nordeste do Brasil: Produção e Renda, Empoderamento da Mulher Camponesa e Fortalecimento da Agricultura Familiar é realizado pela Universidade Federal de Sergipe com financiamento do CNPQ. O estudo conta com a parceria do Projeto Opará: águas do rio São Francisco, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal.
O reuso da água cinza para fins agrícolas, produção agrícola inclusiva e sustentável, educação ambiental e agrobiodiversidade são temáticas previstas a serem trabalhadas entre assentados do Perímetro Irrigado Jacaré-Curituba, no sertão sergipano gerando uma economia hídrica e consumo consciente dos recursos naturais. “O projeto consiste na transferência da tecnologia social bioágua familiar, já consagrada em outras regiões do semiárido do nordeste brasileiro, servindo como exemplo sustentável de convívio com a seca. A ideia é reaproveitar a água de uso doméstico, como a água do banho, da lavagem de louça e da roupa (água cinza), na produção de cultivos agrícolas. Para isso são construídos em cada quintal a caixa de gordura e o filtro biológico, por onde essa água será tratada e em seguida armazenada no tanque de reuso, usado para irrigação das culturas. E tudo quanto produzirem será usado da maneira que acharem mais adequado, alimentação, doação e comercialização,”, explica a pesquisadora-colaboradora do projeto, Thais Nascimento Meneses.
A pesquisadora também chama a atenção sobre o aspecto socioambiental dos quintais produtivos. “É ao redor de casa, no espaço que chamamos quintal, que os membros da família desempenham diversas atividades, incluindo a produção de cultivos agrícolas e a criação de animais baseados nos princípios agroecológicos, com destaque para presença e participação da mulher, principal colaboradora na composição e diversidade dessa paisagem”, ressalta.
Além do manejo adequado da água, é analisada a participação feminina na produção de alimentos a partir do plantio de quintais produtivos para a geração de renda. A partir da análise dos impactos socioambientais, o projeto pretende dar visibilidade a políticas públicas que modifiquem o modo de utilização econômica e social da terra, incluindo grupos historicamente excluídos de poder de decisão de processos produtivos locais a exemplo das trabalhadoras rurais que vivem em assentamentos.
Para colocar a ideia em prática, a ação é planejada com toda a estrutura necessária envolvendo as comunidades. “O projeto beneficiará duas famílias, incluindo fornecimento de materiais, assistência técnica, cursos, palestras e capacitação continuada, para que essa tecnologia seja de fato apropriada pelos agricultores(as) e tenha bons resultados, potencializando os quintais produtivos, melhorando a qualidade de vida e cuidando do meio ambiente”, destaca a pesquisadora.
A equipe do projeto já visitou a Agrovila Nova Canadá, a Associação dos Trabalhadores Rurais do Assentamento Nova Canadá (ATRANCA) e Agrovila Monte Santo I no município de Canindé do São Francisco e a Agrovila Emanuel II, em Poço Redondo.