Em artigo para o Jornal da Ciência, Marcelo Augusto Santos Turine relata por que a 71ª Reunião Anual da SBPC – que começa domingo no campus da UFMS – será uma vitrine do estado para o cenário nacional e internacional
Após 70 anos de realização de reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), é a primeira vez que receberemos em Mato Grosso do Sul, em um ano extremamente significativo, no qual a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) completa 40 anos de criação e o município de Campo Grande, 120 anos. Estamos nos preparando para receber mais de 15 mil pessoas durante a semana do evento, com uma programação completa, inovadora, diversificada e interessantíssima.
Atrair nossos jovens talentos para que concretizem seus sonhos de formação profissional, para a transformação de suas próprias realidades e para o desenvolvimento do estado, do país e do mundo é a premissa da nossa Universidade e, por isso, ser sede da Reunião Anual da SBPC vai ao encontro do esforço conjunto da sociedade sul-mato-grossense e de todos nós professores, técnicos e estudantes das instituições comprometidas com os anseios da sociedade.
Mato Grosso do Sul é um dos estados mais pujantes do Brasil, com apenas 42 anos de criação, possui uma dimensão de 357 mil km2, sendo a sexta maior área territorial brasileira com divisas com cinco estados (GO, MG, MT, PR e SP), e dois países sul-americanos (Bolívia e Paraguai) e uma população de mais de 2,6 milhões de pessoas. Toda essa magnitude apresenta desafios para o desenvolvimento da educação e da ciência em todos os níveis do ensino. Além da questão de gestão de recursos financeiros, há o desafio de estrutura e da política de incentivo para atender a demanda dos 79 municípios, distribuídos em áreas distantes e com baixa densidade demográfica, marcada pela pluralidade cultural e biodiversidade.
Com uma economia centrada no agronegócio e grande potencial ecoturístico, Mato Grosso do Sul vem se firmando no cenário nacional e internacional e apresenta oportunidades de crescimento e competitividade em todas as áreas. Nesse contexto, o desenvolvimento educacional e científico exige parcerias estratégicas entre todas as instâncias de governo e iniciativas privadas, tendo como prioridade o desenvolvimento estratégico para a população do estado.
O papel da UFMS, que é patrimônio do estado com 40 anos de federalização, é crucial para liderar esse processo de consolidação das diretrizes para a área de ensino, pesquisa, extensão, empreendedorismo e inovação. A universidade está presente em 10 municípios de MS, é responsável pela formação de mais de 65 mil profissionais em toda a sua trajetória como instituição federal de ensino superior, contando em 2019 com mais de 24 mil estudantes em 116 cursos de graduação e 61 de cursos de pós-graduação stricto sensu. Entender as necessidades específicas do estado, suas características e potencialidades, em relação à economia, fauna e flora, e à pluralidade cultural é fundamental para garantir uma educação e um desenvolvimento tecnológico e científico que possam contribuir com soluções inovadoras para o estado e para o país.
Mato Grosso do Sul atualmente tem a menor quantidade de instituições de ensino superior do Centro-Oeste, sendo responsável por apenas 1,6% do número de matrículas de todo o Brasil. Para fomentar o desenvolvimento do ensino superior foi criado em 2017 o Conselho de Reitores das Instituições de Ensino Superior de Mato Grosso do Sul (Crie-MS), uma iniciativa inédita no país e uma ferramenta estratégica na articulação e conjugação de esforços com foco na gestão e governança da educação, ciência, tecnologia e inovação. As seis instituições que compõem o Crie-MS reúnem 100% dos cursos de mestrado e doutorado e 97% do quadro de professores doutores de Mato Grosso do Sul. Como presidente do Crie-MS, tenho muito orgulho de dizer que juntos mobilizamos mais de cem mil pessoas, entre professores, técnicos e estudantes, atuando de forma conjunta na busca de uma educação de excelência.
Com foco no desenvolvimento social, considero que o maior desafio de MS está na formação básica, no ensino fundamental e médio, sobretudo nas escolas públicas, onde a população carente frequenta. Defendo que o desenvolvimento de projetos de Ciência nas Escolas é o principal instrumento de motivação para que os alunos se encantem com o processo de aprendizagem. Outro desafio é a construção de ecossistemas de inovação, a exemplo de parques tecnológicos e de políticas públicas para atração de empresas inovadoras. Fomentar o empreendedorismo nas Universidades por meio das Empresas Juniores em parceria com o SEBRAE e a FIEMS são fundamentais para um estado mais competitivo.
Defendo também a necessidade de uma política pública de estado que priorize projetos estratégicos integrados ao desenvolvimento da pesquisa e inovação, em especial, agregando valores às cadeias produtivas e fortalecendo a rede dos pequenos produtores e micro e pequenas e médias empresas. MS é um dos poucos estados com grande potencial competitivo para uma economia de base renovável, seja na produção de alimentos, nas fibras e energia, preservando seus recursos naturais de forma sustentável. Queremos ser o estado líder em Bioeconomia do Brasil, tema que estará no centro do debate da 71ª Reunião Anual da SBPC.
Nosso objetivo é mostrar as riquezas na ciência e inovação nas fronteiras da bioeconomia, da diversidade e do desenvolvimento social, na cultura, na gastronomia, no turismo, nas artes e em todas as áreas do conhecimento. O próprio cartaz da 71ª Reunião Anual foi projetado para dar visibilidade aos diferenciais de Mato Grosso do Sul.
Este tema foi concebido baseado na premissa de que o mundo ao longo das próximas décadas vai gradativamente mudando os paradigmas de produção de bens, com a utilização de sistemas vivos ou parte destes. Esta questão central remete ao fato de que com o crescimento populacional e a exaustão gradativa dos recursos naturais, apenas os sistemas vivos podem criar novas matérias a partir de elementos de alta abundância no globo, como oxigênio, carbono e nitrogênio. Por outro lado, a exploração de recursos minerais para produção biológica dos diversos bens é um grande desafio para a ciência. Ademais a bioeconomia, sobretudo no pequeno e médio empreendedor, será a grande oportunidade de geração de novos empregos e de renda para incorporar os milhões de desempregados, mundo afora, na socioeconomia mundial.
Enfim, a UFMS tem sido protagonista no desenvolvimento de pesquisas que mostram a força e o potencial do estado, que apresenta características próprias e especiais relacionadas à fauna, flora, reserva aquífera e tradições indígenas de várias etnias. Mato Grosso do Sul avança na implantação de políticas ambientais e de desenvolvimento que possibilitem o Estado ser qualificado como “Carbono Neutro”, com as suas indústrias, agricultura, pecuária e outros empreendimentos adotando ações que neutralizam a emissão de gases de efeito estufa.
Vários trabalhos em andamento nestas áreas enfocam, dentre muitos temas extremamente relevante, o mapeamento dos peixes dos rios sul-mato-grossenses, investigação da dinâmica do CO2 do Pantanal, caracterização das doenças bovinas e seu impacto econômico na região, sistemas de produção pecuária sustentável, desenvolvimento de tecnologias ambientais para a segurança hídrica e os efeitos das mudanças climáticas no solo, avanço na pesquisa de produtos orgânicos específicos da região, tecnologias digitais e levantamento do acervo histórico arquitetônico e cultural de Mato Grosso do Sul.
Estamos certos de que o evento será um marco para a UFMS e para Mato Grosso do Sul, uma vitrine para o cenário nacional e internacional a fim de imprimir no estado a força da ciência na promoção da educação de qualidade e motivar a juventude para o empreendedorismo, enfatizando o impacto na percepção pública do papel central das universidades na promoção da qualidade de vida das pessoas.
Marcelo Augusto Santos Turine, reitor da UFMS
Fonte: Jornal da Ciência