Não é novidade que os tubarões oceânicos estão ameaçados. O que não se sabia, no entanto – e que foi divulgado pela revista Nature desta semana – é que cerca de um quarto dos habitats dos tubarões oceânicos se enquadra nas zonas de pesca ativas. Liderado por instituições de Portugal e Inglaterra, o estudo tem a participação de pesquisadores da UFRPE, e revela a urgente necessidade de conservação desses habitantes dos oceanos.
Intitulado Global spatial risk assessment of sharks under the footprint of fisheries, o estudo coordenado pela Marine Biological Association (MBA) comparou dados de movimento de quase dois mil tubarões. Os predadores foram rastreados com tags de transmissores por satélite, por meio dos quais os investigadores mapearam as posições e revelaram os hotspots do uso do espaço em detalhes sem precedentes. Tais resultados foram obtidos a partir da colaboração de equipe internacional envolvendo mais de 150 cientistas de 26 países.
Coordenado pelo professor Fábio Hazin, o grupo da UFRPE responsável pelo trabalho é formado pelos pesquisadores André Afonso, Bruno Macena, Natalia Bezerra e Paulo Travassos, envolvendo ainda outros colaboradores. O grupo realiza trabalho de monitoramento via satélite dos tubarões oceânicos – ou pelágicos, por meio de marcadores.
O estudo publicado é o primeiro a usar a metodologia para fazer mapeamento global dos movimentos de tubarões oceânicos. De acordo com o estudo, quase dois terços das 23 espécies analisadas são classificadas como ameaçadas de extinção ou vulneráveis na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), e um quarto é considerada quase ameaçada. Segundo matéria publicada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesca de espinhel, na qual longas linhas com uma sucessão de anzóis se estendem para dentro da água, é a técnica responsável por boa parte das capturas de tubarões, sejam elas voluntárias ou incidentais (no caso de espécies cuja pesca é proibida).
Na mesma reportagem, o professor Fábio Hazin afirma que as zonas que congregam mais impacto pesqueiro nas populações de tubarões estão no Atlântico Norte, na costa pacífica dos Estados Unidos, ao sul do continente africano e a leste da Austrália. A ideia, a partir dos resultados, é a proibição da pesca, ao menos com espinhel, nas áreas mais relevantes ecologicamente para os animais e sem prejuízo para a atividade comercial. “É possível manter o monitoramento com satélite para ajustar as áreas de proteção conforme a dinâmica das espécies. […] A pesca pode ser economicamente rentável e ecologicamente sustentável”, destaca.
De acordo com o pesquisador da UFRPE, que atua no Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (Mare), Politécnico de Leiria, em Portugal, o trabalho é extremamente importante devido à escala global em que foi conduzido e à implicação dos resultados obtidos para a conservação dos recursos oceânicos.
Segundo o especialista, o estudo estima que 24% da área dinâmica utilizada por tubarões pelágicos em cada mês coincida com áreas onde decorre pesca industrial com palangre, o que indica uma exposição bastante elevada dessas espécies vulneráveis à pressão pesqueira. “Os tubarões azul e mako chegam mesmo a atingir 76% e 62% de sobreposição espacial com esses aparelhos de pesca. Perante essa constatação, torna-se urgente implementar medidas de proteção em regiões oceânicas para assegurar a conservação dessas importantes populações de predadores marinhos”, alerta.
Confira o artigo publicado na Nature
Foto: Chris Fallowns (ilustrativa)