A Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Poli-UFRJ) lançou há dois meses uma campanha intitulada #EsseLugarTambémÉMeu com um único objetivo: aumentar o número de mulheres nas carreiras de engenharia.
Embora o ramo civil tenha um número significativo de mulheres matrículas, há outras áreas, como a engenharia mecânica, eletrônica, computacional, naval e metalurgica, em que o volume de alunas chega a ser nulo. “O ingresso nessas áreas e a formatura, às vezes, é ínfimo”, disse a diretora da Poli-UFRJ, Cláudia Morgado, que argumenta que a ausência de mulheres nas engenharias impacta, inclusive, na economia nacional.
Segundo a Cátedra Unesco Mulher, Ciência e Tecnologia na América Latina (Flacso-Argentina), de 2018, nove em cada dez meninas de seis a oito anos de idade acreditam que estudar engenharia “é coisa de menino”.
Morgado é a primeira mulher a dirigir a Poli-UFRJ em 226 anos de existência. A taxa de mulheres a cada turma que se forma é de 22% em relação ao universo de alunos. Em junho, a universidade também elegeu a primeira reitora da sua história: Denise Pires de Carvalho, professora titular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, vai comandar uma instituição que tem hoje quatro mil docentes e 67 mil estudantes de graduação, pós-graduação e ensino a distância.
Segundo estudos realizados entre alunas de engenharia, o principal fator que faz com que as mulheres desistam da carreira é o assédio. “É desconfortável para uma mulher estar em uma posição na qual ela pode ser desvalorizada, menosprezada ou até mesmo chantageada simplesmente por ser mulher. A sensação piora quando vem acompanhada da desvalorização do trabalho que é feito ou até mesmo da supervalorização e do espanto”, escreveu a engenheira Larissa Fereguetti no site Engenharia 360.
Ela ainda aponta que a divisão entre gêneros nas aulas e atividades acadêmicas também desencoraja as meninas a seguirem estudando. “As mulheres são normalmente excluídas das tarefas mais práticas ou mais pesadas e são designadas para as voltadas para a gestão e organização. Isso significa tirar toda a diversão da parte prática e atribuir tarefas que podem ser entediantes para uma engenheira que quer colocar todos os seus conhecimentos em ação. É difícil lidar com a sensação de desvalorização quando você quer colocar a mão na massa de verdade e te colocam para separar ou organizar papel”, diz.
Denise, Larissa e Cláudia também apontam, por fim, a maternidade como um fator que, na boca dos homens, é argumento para a pouca participação feminina na carreira. “É uma polêmica que afeta muito o ingresso de mulheres nas áreas acadêmicas”, afirmou. Segundo ela, não há salários diferentes dos homens na vida acadêmica, mas as empresas privadas de engenharia praticam remunerações distintas entre os gêneros. “Precisamos conquistar a igualdade pela nossa excelência do conhecimento e pela capacidade de trabalho”, continuou.
Larissa concorda que a gravidez poderia atrapalhar a carreira de uma engenheira no passado, mas nos dias de hoje isso não é mais um argumento válido. “Atualmente, devido aos direitos garantidos na maternidade, é muito mais difícil encontrar uma mulher que abandonou a carreira (em qualquer área) para cuidar exclusivamente do lar e dos filhos. Então, a maternidade não tem muita interferência nessa discussão”, finalizou.