O Brasil ainda é um país de imensas desigualdades sociais, resultado de séculos de escravatura que nunca foi completamente abolida. A despeito dessa condição, nosso país tem condições de colocar em prática outro modelo de desenvolvimento social e econômico, diferente do que temos hoje: inclusivo, autônomo, voltado à geração de emprego e de renda para todos. Esse modelo pressupõe um sistema de educação pública focado na qualidade, na universalização de oportunidades e na gratuidade. Algumas condições essenciais para a transformação já existem, como o sistema federal de educação superior pública, hoje composto por 63 universidades, dois Institutos de Educação, Ciência e Tecnologia e dois Centros de Educação Tecnológica.
Esse sistema, único no mundo, é coordenado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), criada em 23 de maio de 1989, tendo completado 30 anos de dedicação ao Brasil. É preciso louvar o papel central exercido pela Andifes, como fórum de discussão e de articulação desse conjunto de instituições que responde hoje por 1,2 milhão de estudantes. Um sistema responsável por quase toda a produção científica nacional.
Para que a Andifes seja compreendida em sua real dimensão, é preciso entender que mais de 70% dos graduandos das universidades públicas vêm de famílias com renda per capita de até um salário mínimo e meio. Ou que o corpo discente representa a diversidade da sociedade brasileira, com 43,3% de brancos, 39,2% de pardos, 12% de pretos, 0,9% de amarelos e 0,9% de indígenas. Esses jovens têm nas universidades públicas a principal chance de ascensão social. Esse sistema público administra 50 hospitais universitários de alta complexidade, atendendo com qualidade a população carente.
A Andifes tem elaborado políticas fundamentais em defesa da educação como bem público, a exemplo do Anteprojeto de Lei que busca regulamentar a autonomia universitária de que trata o artigo 207 da Constituição. Se pretendemos preservar a liberdade acadêmica, se queremos o pluralismo de ideias e inovações pedagógicas, associadas à necessária indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão, é essencial garantir às universidades públicas a autonomia na administração de recursos humanos, na gestão dos planos de carreira dos servidores, técnicos administrativos e docentes, na gestão patrimonial e do orçamento global, das compras de bens e serviços.
A Andifes desempenha, há três décadas, um papel essencial na troca de experiências e na tomada de decisões da parte dos reitores. Recentemente, possibilitou a criação, no Congresso Nacional, da Frente Parlamentar em Defesa da Educação Superior, em um momento de mobilização contra os cortes no orçamento. Em síntese, defender a universidade pública é defender ao mesmo tempo a Andifes.
Anísio Brasileiro é reitor da UFPE.