Realizada no Centro de Tecnologia, ação promove conhecimento teórico e prático da engenharia civil como forma de aproximar estudantes e Universidade
O acesso ao ensino superior tem se tornado cada vez mais democrático. Dados de 2018 do Governo do Estado do Ceará mostram que, de 2017 a 2018, houve um aumento de 19,59% no número de aprovados nas universidades oriundos da rede pública estadual. A melhoria do ensino básico e a adesão às cotas pelas instituições de ensino superior são alguns dos fatores dessa expansão. Outro fator é a criação de projetos universitários de incentivo ao ingresso no ensino superior voltados a estudantes da rede pública. O projeto de extensão intitulado Aproximação do CT com as Escolas Públicas por meio da Topografia é um desses exemplos.
Idealizado em 2016 por Victor Cardoso, ex-aluno de Engenharia Civil da UFC, o projeto do Centro de Tecnologia (CT) aproxima os estudantes secundaristas da vivência universitária através do ensino da topografia. A escolha da topografia como tema das ações ocorreu devido à similaridade da disciplina – que estuda terrenos e seus acidentes geográficos – com conteúdos do ensino médio, como geografia e matemática.
“Eu sou aluno oriundo de escola pública e sempre tive a sensação de que os estudantes estavam desmotivados com as disciplinas. Então, tive a ideia de tentar, de alguma forma, estimulá-los. Todo meu estudo foi sustentado pelo governo, então me sinto em débito com o ensino público. A criação do projeto foi uma maneira de retribuir isso”, explica Cardoso.
ETAPAS
As atividades do projeto ocorrem em duas etapas. A primeira se dá nas escolas públicas, onde são ministrados seminários sobre a Universidade e as oportunidades oferecidas, incluindo bolsas e auxílios.
A bolsista de extensão Karyna Cunha conta que a escolha das escolas leva em consideração a proximidade física com o Campus do Pici Prof. Prisco Bezerra. Para ela, apesar da pouca distância, ainda existe um desconhecimento dos alunos sobre as chances que a Instituição pode oferecer.
“Eu vou às escolas, falo com a direção e realizo as palestras. Nelas, geralmente, abordo a Universidade, os projetos, como funciona o Curso de Engenharia Civil, os benefícios ofertados aos estudantes. Vários alunos me falavam que não imaginavam existirem tantos projetos e oportunidades na UFC”, afirma Karyna.
Para Karyna, estudante do quinto semestre de Engenharia Civil, um projeto de extensão faz grande diferença na vida de um aluno de graduação. Até o ano passado, ela só se dedicava ao curso. Depois, começou a atuar como monitora na disciplina Topografia e, assim, iniciou o trabalho na extensão. “Eu realmente estou reaprendendo tudo e aprendendo coisas novas, como falar em público. Agora, estou conseguindo me comunicar mais e me sentindo mais segura em apresentações”, relata.
A segunda parte da ação ocorre na própria Universidade. Durante dois sábados, é ministrado um minicurso de topografia. A coordenadora do projeto e professora do Departamento de Engenharia de Transportes da UFC, Nadja Dutra, explica que são realizados dois testes no minicurso. O primeiro deles é feito no primeiro dia para medir o nível de conhecimento dos alunos sobre a disciplina, e o segundo, no término das aulas, para avaliar a assimilação do conteúdo ministrado.
Para a professora, o fato de o minicurso ser realizado dentro do campus já é uma maneira viável de aproximar os secundaristas da universidade pública. As aulas, teórico-práticas, são ministradas no Centro de Tecnologia, onde ficam alocados os cursos de Engenharia. São utilizados equipamentos técnicos dos próprios cursos. Ao fim, os alunos recebem um certificado de participação.
É POSSÍVEL
O estudante do ensino médio Yago Silva, de 17 anos, relata que entrou no minicurso pelo interesse em estudar Engenharia Civil. Ao falar de sua experiência na ação, ressaltou a importância do esforço nos estudos. “No primeiro dia, percebi que tinha de estudar mais ainda. Na primeira aula, não entendi nada. Na segunda parte teórica, comecei a entender, porque passei a semana me familiarizando com o assunto”, afirma. Para ele, o projeto o fez ter certeza do que quer e lhe motivou ainda mais a ingressar na Instituição.
“Sempre estudei em escola pública, e, na minha família, não há histórico de pessoas com acesso ao ensino superior gratuito. Muitos desacreditam você, mas, quando eu cheguei aqui na UFC para o minicurso, olhei para o lado e pensei: ‘é possível’”, conta Yago.
Apesar da ênfase em Engenharia Civil, o projeto também consegue alcançar um público mais amplo, com outros interesses na futura vida universitária. Dona Raimunda, de 68 anos, conta que sua sobrinha, Ana Cristina, sonha em cursar Medicina. Apesar de não ter interesse em cursar nenhuma das graduações em engenharia, a jovem viu na ação a oportunidade de conhecer a vivência universitária e reafirmar a continuação dos estudos após o ensino médio. “Ao chegarmos à entrada, ela falou que aqui seria sua futura universidade”, revela a tia.
Cerca de 25 alunos do projeto posando para a foto, juntamente com alguns equipamentos utilizados durante as aulas na UFC (Foto: Luana Oliveira/PREX/UFC)
As aulas são teórico-práticas, ministradas no Centro de Tecnologia; ao fim do minicurso, os estudantes recebem certificado de participação (Foto: Luana Oliveira/PREX-UFC)
Além das atividades com as escolas públicas, o projeto também gerou frutos na academia. Já foi tema em alguns eventos, como o Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (CBEU) e o Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia (COBENGE), e teve trabalho publicado na revista Extensão em Ação, da UFC.
Para agendar a participação de alunos das escolas da rede pública, é necessário entrar em contato com a coordenadora do projeto através do e-mail nadja@det.ufc.br.
Ely Eulle Viana, sob supervisão de Narjara Pires
Fonte: Profª Nadja Dutra, coordenadora do projeto e professora do Departamento de Engenharia de Transportes da UFC – e-mail: nadja@det.ufc.br