Ilustração do Alfa Crux I, nanossatélite em desenvolvimento em laboratório da UnB. Tecnologia é classifica como CubeSat 1U. Imagem: projeto Alfa Crux
Pesquisadores da Universidade de Brasília protagonizam uma iniciativa que, até o fim de 2020, colocará em órbita um nanossatélite. Trata-se do projeto Alfa Crux, realizado em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB) e com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). A UnB e as duas entidades assinaram, nesta terça-feira (13), memorando de entendimento que formaliza o compromisso em promover o empreendimento.
O projeto busca prover conexão de comunicação em áreas de interesse estratégico do país, bem como em regiões remotas, onde não se tem infraestrutura ou interesse econômico em ofertar o serviço. “Nosso objetivo é aumentar a conectividade em escala global, disponibilizando enlace de comunicação tanto para o setor civil quanto para a área de defesa do país. Isso é a base para viabilizar a ‘internet das coisas’, que possibilita ao usuário estar conectado por meio de dispositivos como celular e relógio”, explica o chefe do Departamento de Engenharia Elétrica da UnB e um dos coordenadores do Alfa Crux, professor Renato Borges.
O projeto é fomentado pela FAP-DF, consagrando a primeira participação do Governo do Distrito Federal como financiador de uma missão espacial. “Brasília tem capacidade técnica de excelência para ser um cluster aeroespacial. Temos professores reconhecidos internacionalmente, um curso da UnB na área e laboratórios para experimentação. Queremos tornar a cidade um grande laboratório para ações do governo federal, do GDF e da sociedade civil”, expressou o diretor-presidente da FAP-DF, Alexandre André dos Santos.
O presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Moura, ressaltou o potencial de crescimento para o país com lançamento de nanossatélites no ‘novo espaço’. Esse é o termo que caracteriza o uso do espaço para satélites menores, em órbitas mais baixas, se contrapondo ao início da corrida espacial, na década de 1970, que buscava lançamento de grandes foguetes.
“Hoje temos oportunidade de conseguir muitos resultados com menos recurso e infraestrutura. O poder de um satélite desse em prover serviços para nossa população é maravilhoso. Nos congratulamos com essa iniciativa”, afirmou Carlos Moura.
A reitora Márcia Abrahão destacou que o projeto reforça o papel essencial da Universidade para os avanços do país. “Estamos desenvolvendo tecnologia de ponta. Lutamos muito para criar o curso de Engenharia Aeroespacial, e agora já completamos oito anos ofertando essa graduação. Ficamos felizes em ver o crescimento de nossa ciência e pesquisa na área aeroespacial”, afirmou.
O diretor da FT, Márcio Muniz, o presidente da AEB, Carlos Moura, a reitora Márcia Abrahão, o diretor-presidente da FAP-DF, Alexandre André dos Santos, e o professor Renato Borges celebram a assinatura do memorando de entendimento. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB
A TECNOLOGIA – O nanossatélite terá o formato geométrico de um cubo, com aresta de dez centímetros. Seu peso total será em torno de 1,5 kg. Na nomenclatura padrão, ele é classificado como CubeSat 1U. O nanossatélite ficará em órbita baixa, espaço onde normalmente são colocados satélites desse porte, a cerca de 500 km de altitude em relação ao nível do mar. A vida útil aproximada do equipamento é de dois anos.
O interior do satélite será composto por diversos dispositivos eletrônicos, com um computador de bordo e um sistema de rádio para fornecer a comunicação via satélite. Haverá sistema elétrico de potência, que são as baterias, além de um painel para geração de energia a partir dos raios solares.
O computador de bordo comunica-se com a estação solo, que será construída na Faculdade de Tecnologia da UnB. Dessa forma, será possível controlar e gerenciar o nanossatélite. “A estação de solo é relativamente simples e de baixo custo. É composta de antenas, semelhante àquelas que são usadas nas TVs antigas”, esclarece Renato Borges. “Já temos uma estação solo da Faculdade do Gama, agora estamos montando uma no campus Darcy Ribeiro. Controlar e gerenciar essa missão nos trará um aprendizado extremamente importante”, completa.
A missão do satélite será prover sinais para comunicação de voz e de dados, por meio de conexão em banda estreita. Isso significa que a capacidade de trafegar volume de dados é reduzida, mas por outro lado consegue penetrar em regiões onde é difícil oferecer sinal de banda larga. “Essas soluções via satélite já são usadas hoje no país, mas carecemos ampliá-las. Nosso projeto beneficiará, por exemplo, agricultores em regiões com folhagem densa ou com muita umidade, como é a Amazônia. Não é qualquer sinal que consegue penetrar nesses ambientes”, detalha Renato Borges.
O projeto é desenvolvido no âmbito do Laboratório de Simulação e Controle de Sistemas Aeroespaciais (Lodestar), formado por uma equipe de docentes da UnB e estudantes da pós-graduação. Entre os objetivos acadêmico-científicos planejados estão publicações em revistas internacionais, depósito de patentes, registro de software e participação em conferências e congressos. “No futuro queremos treinar nossos professores e alunos para propagar o conhecimento gerado com o projeto. Queremos deixar um legado sólido em termos de documentação”, garante o coordenador do Alfa Crux.
O cronograma da iniciativa estende-se por três anos: o primeiro lançamento está previsto para 2020; no ano seguinte haverá testes em órbita e desenvolvimento de outras tecnologias; e o objetivo para 2022 é lançar um segundo satélite. “Começamos com um, mas queremos colocar a UnB comandando uma constelação com vários nanossatélites. Seria algo inédito na realidade brasileira”, antecipa o pesquisador.
Docentes e estudantes de pós-graduação da UnB integram a equipe do laboratório Lodestar.
Foto: Audrey Luiza/Secom UnB
PARCERIA – O memorando de entendimento foi assinado pelos representantes da UnB, FAP-DF e AEB em encontro realizado, nesta terça-feira (13), no Salão de Atos do prédio da Reitoria da UnB. No documento, as partes comprometem-se a colaborar no desenvolvimento do projeto Alfa Crux. O objetivo é garantir a soberania nacional e promover desenvolvimento técnico-científico e acadêmico, gerando conhecimento nos mais diversos campos de aplicação de nanossatélites.
Diretor da Faculdade de Tecnologia da UnB, Márcio Muniz participou do encontro e ressaltou que “o projeto evidencia a capacidade da UnB para desenvolver pesquisas de altíssimo nível”. O diretor lembrou que as parcerias são importantes para a Universidade diante das “enormes dificuldades dado o contingenciamento orçamentário e a impossibilidade de uso de recursos de arrecadação própria em função do teto orçamentário”.
O docente parabenizou a FAP-DF por “priorizar iniciativas estratégicas do ponto de vista nacional e regional, dando preferência às propostas que geram empregos e envolvem empresas locais; pré-requisitos cumpridos por este projeto”.