O projeto “Educação para a sustentabilidade e a interculturalidade”, tocado pelo Instituto de Formação de Educadores da Universidade Federal do Cariri (IFE/UFCA), no campus Brejo Santo, foi um dos 36 aprovados, em todo país, na seleção 2019 para o Camp Serrapilheira. Criado em março de 2017, o Serrapilheira é o primeiro instituto privado de apoio à ciência no Brasil. A instituição, sem fins lucrativos, financia pesquisas e iniciativas de divulgação científica inovadoras, com foco principalmente nos campos das Ciências Naturais, da Ciência da Computação e da Matemática. O objetivo é aumentar a visibilidade e a repercussão da ciência no país.
De acordo com o professor da área de Química no IFE/UFCA, Willian Vilela, o projeto selecionado tem foco na troca de saberes entre alunos e professores da UFCA e estudantes de 24 escolas indígenas da tribo Xukuru. Com uma população atual de cerca de 3.500 índios, os Xukuru vivem na Serra do Ororubá, numa área de 26.980 hectares, no município de Pesqueira, no agreste pernambucano.
“O projeto conta com o trabalho de 4 professores, 6 bolsistas e 20 estudantes voluntários da UFCA. Pelo projeto, vamos até Pesqueira, levando ainda estudantes da rede básica de ensino de Brejo Santo; e também trazemos indígenas para a universidade. Esse intercâmbio é importante principalmente para nós, que vivemos crises humanitárias, ambientais e civilizatórias em todo o mundo. Os indígenas cultivam uma Filosofia de bem-viver e aprender mais sobre ela pode amenizar parte desses sofrimentos”, acredita Willian, que acrescenta a importância de reconhecer o valor indígena: “Os índios foram invisibilizados, subjugados e tiveram a autoestima rebaixada nos últimos 500 anos. Estar em território indígena e aprender sua tradição pode começar a reverter esse quadro”, reflete.
Willian, neto de Xukurus e criado em São Paulo, explica que, nas escolas Xukuru, toda aula começa na horta. Segundo ele, as propriedades medicinais de cada planta são creditadas pelos indígenas a uma entidade presente nela, chamada por eles de “encantado”. Nessas aulas, a comunidade acadêmica da UFCA participa compartilhando os conhecimentos desenvolvidos na universidade: “No meu caso, por exemplo, falo sobre propriedades físico-químicas dos compostos presentes nas plantas e aprendo sobre os encantados. Professores da área de Biologia contribuem com o nome científico das espécies vegetais e assim vamos trocando saberes”, disse.
De acordo com Willian, a tribo Xukuru, acumulando longevos saberes tradicionais, responde pela alimentação de toda a cidade de Pesqueira: “O município tem cerca de 60 mil habitantes e todos são alimentados com a produção Xukuru”, disse.
Primeiro Encontro de Saberes Indígenas
Dentro do “Educação para a sustentabilidade e a interculturalidade”, foi promovido, no último mês de junho, o primeiro Encontro de Saberes Indígenas do Semiárido, que ocorreu durante a quinta Semana de Meio Ambiente da UFCA. O encontro reuniu representantes dos povos indígenas do semiárido (Xukurus, Pankarás, Trukas, Pankararus, Kariris e Potiguaras), no campus Brejo Santo. Na ocasião, os estudantes do IFE/UFCA tiveram a oportunidade de conhecer esses povos e aprender saberes compartilhados por eles. Além do evento, a UFCA participa há dois anos, por meio da iniciativa selecionada pelo Camp Serrapilheira, da Assembleia Xukuru: um encontro anual que reúne Xukurus, de todo país, durante 4 dias.
Camp Serrapilheira 2019
O professor Willian inscreveu o projeto desenvolvido junto aos Xukuru na Chamada Pública para participação no evento Camp Serrapilheira, que é a principal iniciativa do Instituto Serrapilheira. Lançada em maio deste ano, a chamada resultou na seleção de 36 propostas, em 11 estados do Brasil, entre 537 inscrições. Os escolhidos vão se reunir no Camp Serrapilheira entre 5 e 8 de setembro de 2019, no Rio de Janeiro. Willian viajará até a capital fluminense acompanhado do Coordenador Pedagógico das escolas Xukuru, Átila Frazão.
Os selecionados vão participar de workshops e debates, formar redes de colaboração e apresentar seus respectivos trabalhos. Nesta edição do Camp, a maior parte das atividades será aberta ao público. Das iniciativas participantes, até 15 delas serão contempladas com um apoio de R$ 100 mil, cada, para utilizar durante um ano em projetos de pesquisa e de divulgação científica.
Instituto Serrapilheira
Após constatar que a ciência e os cientistas estavam longe da imaginação da maioria dos brasileiros, a linguista e professora universitária Branca Vianna e o marido, João Moreira Salles – empresário, produtor de cinema e herdeiro de instituições do mercado financeiro – pensaram maneiras para mudar o cenário da pesquisa científica no país.
Batizando o instituto de fomento à ciência de “Serrapilheira” – camada de folhas, ramos e outras fontes de matéria orgânica na superfície de florestas e bosques que devolve nutrientes ao solo – o casal Moreira Salles aplicou R$ 350 milhões em um fundo patrimonial, cujos rendimentos, da ordem de R$ 15 milhões anuais, devem financiar os projetos de pesquisa e inovação apoiados pela entidade, “fertilizando” assim a terra da ciência brasileira.
Com informações da Fiocruz e do Instituto Serrapilheira
Serviço
Instituto de Formação de Educadores (IFE/UFCA)
Campus Brejo Santo
(88) 3221.9590