Na terceira idade, é natural que ocorram diversas transformações, não apenas fisiológicas, mas também sociais. Dentro desta perspectiva, a interrupção das rotinas de trabalho e o afastamento de familiares são situações que podem fazer com que idosos se sintam sozinhos e, em decorrência deste quadro, desenvolvam depressão. Pensando nisso, o Colegiado de Medicina da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Campus Paulo Afonso (BA), elaborou o projeto de extensão “Tec-Idoso”, ação que visa orientar gratuitamente a população idosa do município para o uso da internet e das redes sociais, a fim de lhes possibilitar interações através das comunidades virtuais, além de proporcionar momentos de contato com outros idosos.
Neste mês de agosto, iniciaram-se as aulas das primeiras turmas do curso. Três grupos de 20 alunos terão, ao longo de cinco encontros, durante quatro meses, aulas sobre funções básicas de aparelhos celulares e computadores, além de utilização das redes sociais, como Facebook, Youtube e WhatsApp. Haverá, ainda, orientações sobre compartilhamento de notícias falsas, as fakenews, e também atividades dinâmicas, como um jogo interativo, e instruções sobre segurança bancária. As aulas se baseiam em metodologias ativas de aprendizagem, nas quais a relação entre professor e discente é recíproca e os alunos possuem alta participação, tanto nos processos de aprendizagem, quanto nos de ensino.
Darcy Silva é uma das participantes do curso. Aos 60 anos, ela relata que, com o avanço da idade surgem muitas coisas, inclusive a rejeição. “O idoso é deixado de lado”, afirma. Darcy diz, ainda, que sua geração não teve contato com certas tecnologias, somente com o básico, como usar o celular para fazer ligações. Ela conta que agora, com o projeto, irá aprender sobre tecnologia e internet e, assim, poderá interagir mais com outras pessoas e se sentir mais incluída. “Estou me sentido gente”, brinca.
Os participantes irão aprender, ao longo das aulas, as funções básicas de celulares e computadores.
As aulas do curso são ministradas pelos estudantes da graduação em Medicina da Univasf, sob a supervisão da professora e coordenadora do projeto, Marina Ferraz. Segundo a estudante Inara Nogueira, uma das integrantes do projeto de extensão, as primeiras aulas foram momentos de apresentação, quando houve exibição das propostas do Tec-Idoso e conversas com os participantes, que falaram sobre suas expectativas, dia a dia e relação com a tecnologia. Sobre o projeto, ela conta: “desde o início fiquei maravilhada”.
Inara explica que o curso não visa apenas a ensinar informática para os idosos, mas sim fazer com que eles usem a tecnologia como ferramenta de apoio psicossocial. “Muitos idosos moram sós e sentem necessidade de aprender a utilizar as redes sociais para falar com os filhos que moram longe”, conta. Segundo ela, alguns veem o celular e o computador como uma forma de interagir com outras pessoas.
A coordenadora Marina Ferraz afirma que a escolha de fazer um curso voltado à terceira idade surgiu como uma tentativa de impedir que pessoas idosas entrem em depressão em decorrência de quadros de solidão. “Ensinando esses idosos a mexer em redes sociais, eles vão conseguir ter comunicação com outras pessoas, outros colegas idosos e até uma comunicação melhor com familiares”, declara.
O “Tec-Idoso” possui parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social do município de Paulo Afonso e tem o apoio de assistentes sociais. As inscrições para esta primeira edição já estão encerradas, no entanto, de acordo com Inara Nogueira, a atividade está prevista para continuar a acontecer nos próximos anos.