A literatura de autoria afro-feminina em Moçambique e na Bahia-Brasil é tema da mais nova obra da Editora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (EDUFRB), lançada neste mês de agosto. O livro “Cartografias em construção: algumas escritoras de Moçambique”, de autoria da professora Ana Rita Santiago, resulta de pesquisa desenvolvida em seu estágio pós-doutoral (2016-2017) na Universitè Paris Descartes – Paris V, em Sorbonne.
A obra apresenta trinta autoras de Moçambique, acompanhadas de dados biográficos, resultado da varredura inicial, bem como breves apresentações sobre suas produções literárias, também seguidas de concisas leituras-interpretativas. Há também a menção a autoras portuguesas em Moçambique, encontradas no percurso da pesquisa, e um abreviado dossiê das trilhas de estudo.
“Em ‘Cartografias em Construção’, a professora Ana Rita Santiago traz-nos uma proposta que, para além de premente, é imperiosa, no que toca aos estudos da recepção e da formação do leitor, concernentes à literatura de autoria feminina; tanto fora, como dentro de Moçambique, que são raríssimos”, diz Sara Jona Laisse, docente de Cultura Moçambicana na Universidade Politécnica de Moçambique, que assina o prefácio da obra.
Como explica Laisse, o objetivo do livro foi dar a conhecer as escritoras moçambicanas e quais as representações de memórias, identidades, tradições, quotidianos, História ou sonhos constroem sobre si, sobre o seu país ou sobre a sociedade na qual vivem. “Através de um estudo bio-bibliográfico, etnográfico e de cariz descritivo-interpretativo, a autora mostra a relevância de se dar a conhecer a escrita de excluídas”, descreve a docente.
Também vem do continente africano a inspiração para o livro “Religião e Religiosidade nas Literaturas Africanas: um olhar em Chinua Achebe e Mia Couto”, recém-lançado pelo professor da UFRB, Silvio Ruiz Paradiso, pela editora Becalete. O livro aborda a presença de aspectos religiosos na literatura africana, em especial nos romances Things Fall Apart, do nigeriano Chinua Achebe, e O Outro Pé da Sereia, do moçambicano Mia Couto.
“Os romances foram escolhidos por, fartamente, apresentarem a religião e religiosidade tanto dos colonizadores quanto dos colonizados no âmbito (pós)colonial”, explica o autor. Fruto de sua pesquisa do doutorado na Universidade Estadual de Londrina (UEL), o livro discute questões como possessão, conversão, linguagem, colonialismo, sincretismo, transculturação, bem como aspectos religiosos dos grupos étnicos ibos (Nigéria) e shonas (Moçambique).
“As manifestações religiosas, sejam elas das chamadas ‘religiões tradicionais africanas’, ainda que o termo seja controverso, ou das crenças cristãs, são metáforas e analogias políticos-culturais para uma discussão muito mais profunda nestas literaturas: o colonialismo”, diz Paradiso. “Assim, os personagens, o enredo, os temas presentes, bem como as várias nuances da religiosidade são abordadas, relacionando-as sempre com a problemática colonial”, completa.
Para download gratuito ou leitura online do livro “Cartografias em construção: algumas escritoras de Moçambique”, acesse o site da EDUFRB: www.ufrb.edu.br/editora.
Para acesso ao livro “Religião e Religiosidade nas Literaturas Africanas: um olhar em Chinua Achebe e Mia Couto”, acesse o Google Books ou envie um e-mail para o autor: silvinho@ufrb.edu.br.