Produto tradicional no Estado, o pimentão pode ter um melhor desenvolvimento com a substituição do agrotóxico por um microrganismo natural retirado de outra planta, também muito conhecida na região: o guaranazeiro. É o que aponta a pesquisa realizada pelo professor Marcos Antônio Soares, docente do Instituto de Biociências (IB) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e responsável pelo Laboratório de Biotecnologia e Ecologia Microbiana (Labem) em parceria com Maria Isabela da Silva Figueiredo, bolsista de Iniciação Científica e estudante do curso de Ciências Biológicas, e da professora Rhavena Graziela Liotti, docente do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), no Câmpus de Cáceres e doutora pelo IB.
O trabalho, que foi realizado na casa de vegetação do Instituto, pesquisou 11 espécies de actinobactérias, microrganismos naturais que foram isolados da Paullinia cupana, popularmente conhecido como guaranazeiro, em ação contra cinco fitopatógenos, organismos que causam doenças em plantas e detectou que um deles, o Streptomyces griseocarneus R132, inibiu o crescimento e controlou acentuadamente o desenvolvimento das doenças em frutos e plantas de pimentão, além de promover o crescimento da mesma.
“Investigamos esses microrganismos e vimos se eles tinham aplicações em outras áreas, ou seja, se poderiam se associar a outras plantas. Neste caso, vimos que esse microrganismo que se associa ao pimentão impede que patógenos ataquem a planta, ou seja, você não precisa usar agrotóxicos. É uma relação mutualística simbiótica, os dois ganham quando estão juntos, eles vivem melhor juntos que separados”, explica o docente.
“A bactéria específica do guaranazeiro ajuda o pimentão a lutar contra um patógeno, impedindo o uso de defensivo agrícola e descartando o uso de fertilizantes, porque o microrganismo faz com que a bactéria cresça mais rápido sem a utilização do mesmo. Vale ressaltar que um problema do uso indiscriminado do fertilizante causa a hidrofilização de água”, acrescenta o pesquisador.
Pertencente à família Solanaceae, o pimentão (Capsicum annuum) é uma das principais culturas do mundo, devido aos altos níveis de fitoquímicos, substâncias antioxidantes que, além de conferir cor aos alimentos, protegem de doenças, bem como a concentração de vitaminas A, C e B.
“O pimentão nos interessou por ser uma planta fácil de cultivar. Entre três e quatro meses a planta já chega a idade a adulta e podemos trabalhar. Além disso, ela é utilizada em Mato Grosso na agricultura familiar, sobretudo por pessoas que produzem alimentos orgânicos. Com a pesquisa, queríamos propor uma forma de substituir o agrotóxico e promover o crescimento da planta par que ela cresça mais e mais rápido”, destaca o professor Marcos Antônio Soares.
Segundo o docente, o próximo passo é realizar o trabalho em campo. No entanto, a bactéria já está isolada e pronta para utilização. “A UFMT tem como transferir a tecnologia para empresas interessadas e elas podem fazer o teste em outras plantas. Nós já realizamos algumas experiências e temos visto que ela funciona também com o milho e outras plantas modelo de interesse agronômico”, pontua. “É nossa obrigação procurar alternativas para reduzir o uso do agrotóxico. Você tem que buscar formas para a médio prazo minimizar ao máximo seu uso. Estamos propondo formas alternativas de não utilizá-lo”, finaliza.
O trabalho, intitulado “Streptomyces griseocarneus R132 controls phytopathogens and promotes growth of pepper (Capsicum annuum)”, foi publicado no volume 138 do periódico Biological Control, avaliado com Qualis A1, contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), além de ser resultado de uma parte da pesquisa realizada no doutorado de Rhavena Graziela Liotti e de projeto do Labem, já finalizado, que buscou a aplicação de microrganismos nas áreas de pecuária, agrícola e farmacêutica.