Descoberta mostra que grupo de indivíduos jovens da espécie foi encontrado no arquipélago de Fernando de Noronha. Pesquisa, que tem a colaboração de professor da Ufam, busca desvendar as razões para novo comportamento desses animais.
Que Fernando de Noronha é um paraíso para a vida marinha, isso muita gente (e animal) sabe. A novidade é que as arraias manta (Mobula birostris), as maiores do mundo, parecem também ter descoberto as maravilhas do arquipélago e adotado o local como área de reprodução e berçário da espécie.
As arraias Jamantas, como são conhecidas as Mobulas,já foram vistas na costa de Fernando de Noronha, mas desta vez foram encontrados indivíduos jovens e em grupo, o que surpreende os pesquisadores que estudam esses animais. A descoberta foi feita acidentalmente por mergulhadores que cruzaram com um grupo de Mobulas realizando o seu “balé” noturno, e comunicaram ao pesquisador Guilherme Kodja, da Rede Manta Trust, que em parceria com o Marcelo Rodrigues dos Anjos, deu início ao projeto que pretende compreender o porquê das mantas agirem desse forma.
“Não considero o caso como uma mudança de comportamento e sim um aproveitamento oportunístico. Elas buscam, em sua saga por alimentação, as agregações de zooplâncton ou pequenos peixes e fazem isso em grandes profundidades também. Todavia, nessa busca, a claridade fora do comum, que pode ser da lua, mas nesse caso do holofote, chamou a atenção delas que associam luz com excitação e agregação de zooplâncton no período noturno. Assim, ficaram condicionadas e passaram a frequentar o local diariamente (quando o mar está calmo e sem ondulação) sempre após o horário de acendimento do holofote”, declara pesquisador Guilherme Kodja.
Desenvolvida pelo Instituto Pró Mar (IPM) em parceria com o Laboratório de Ictiologia e Ordenamento Pesqueiro do Vale do Rio Madeira (Liop/Ufam), a pesquisa identificou, pela primeira vez naquela área, tanto indivíduos adultos em grupo, o que não é característica da espécie, e também a presença de indivíduos jovens em atividade de alimentação. “O fato de serem jovens levanta a hipótese de que se trate de uma área de berçário e reprodução da espécie. Mas isso não é conhecido pela ciência; que aquela área de Noronha seja uma área de berçário. Esses estudos vão poder inferir se ali é uma região e indicar também se são grupos residentes ou de aparições sazonais”, informa o professor do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA), Marcelo Rodrigues dos Anjos, participante do projeto que estuda as arraias gigantes.
Um dos animais na lista de extinção, as arraias mantas ainda são pouco conhecidas dos pesquisadores, principalmente, em relação à fase juvenil, pois poucas áreas no mundo são classificadas como berçário da espécie. Por isso, a presença de indivíduos jovens nas águas de Fernando de Noronha toma maior importância para os estudiosos das gigantes do mar. “Também será retirado o material genético para constatar se são as mesmas populações que ocorrem no Golfo do Caribe e também próximo à costa havaiana. Então, o Laboratório de Ictiologia e Ordenamento Pesqueiro, em Humaitá, vai fazer essa parte dos estudos mais biológicos e comportamentais”, detalha o coordenador.
“Do ponto de vista ecológico e comportamental já temos algumas boas revelações, mas a análise genética a ser conduzida pela Ufam vai ser decisiva para entender qual o nível de distância (ou proximidade genética desses animais no Nordeste do Brasil com a população do Caribe, já que elas, morfologicamente, apresentam características bastante semelhantes”, completa Guilherme Kodja.
Os pesquisadores registram que os animais se encontram durante a noite para se alimentar atraídos por um facho de luz de um refletor. “Esses animais sentem-se um pouco atraídos pela luz durante a noite. O facho de luz acaba batendo na água e essa água está cheia de zooplâncton e fitoplâncton e eles acabam brilhando e o fato deles brilharem atrai a mobula que se alimenta desse zooplâncton. Mas o interessante é que não são indivíduos adultos, são jovens. E o fato de agregação também, porque não é uma espécie que ande em grupos comumente, mas em pares”, conta o pesquisador.
Um dos maiores peixes do mundo, as mantas podem chegar a oito metros de largura, pesar mais de duas toneladas e viver em média 20 anos. A identificação de áreas de berçário é fundamental para o estabelecimento de áreas de proteção da espécie.