Você sabe como é o dia a dia de um médico veterinário? Ao contrário do que algumas pessoas tendem a imaginar, sua função vai muito além de tratar da saúde de nossos animais de estimação. Esses profissionais atuam em diversas áreas, podendo trabalhar na saúde pública, com pesquisas científicas e até em segmentos voltados para a tecnologia. É isso que o evento “Ações de Extensão de Medicina Veterinária” pretende mostrar para a sociedade no próximo sábado, 28 de setembro.
Em sua terceira edição, o projeto, voltado principalmente para o público infantil, consiste em expor para a população, durante todo o dia, os trabalhos de extensão desenvolvidos por professores e alunos da faculdade. Portanto, o objetivo é estreitar o vínculo da UFF com a comunidade externa, além de despertar o interesse das próximas gerações, não apenas pela medicina veterinária, mas também pelo conhecimento científico.
Segundo o coordenador da iniciativa, o professor Luciano Antunes Barros, um dos pilares do “Ações de Extensão” é seu caráter inclusivo. O propósito é que o público tenha a oportunidade de conhecer todas as pesquisas desenvolvidas na faculdade. “Não existe nenhum tipo de competição. Não há prêmios para os melhores projetos, melhor aluno ou coisas desse tipo. Todos estão aptos a participar”, destaca.
O evento foi realizado pela primeira vez em maio de 2018 e contou com 12 trabalhos. O êxito obtido pelos extensionistas impulsionou o número de participantes, que subiu para 18 em sua segunda edição – também realizada no ano passado, em setembro. De acordo com Luciano, “as duas edições foram um sucesso, ambas contaram com a presença de cerca de 500 pessoas. Sentimos que o projeto se sustenta. Os expositores vão adquirindo experiência de como conversar com a população e essa troca se torna cada vez mais produtiva”.
Pesquisa, extensão e criatividade
Os trabalhos são distribuídos por toda a Faculdade de Veterinária – em tendas, salas de aula ou laboratórios -, e professores e alunos ficam à disposição dos visitantes para apresentar, explicar e tirar dúvidas acerca de suas pesquisas. “A experiência que temos como professor, pesquisador e extensionista é de às vezes usar uma linguagem muito técnica. Então quando o público chega, precisamos adequar essa linguagem para que as pessoas que não estão aqui no nosso dia a dia – como as crianças que vêm participar – entendam o que está sendo explicado. Esse exercício de adequação da linguagem é muito produtivo para nós”, ressalta Luciano.
Para incentivar o público infantil – que compõe 80% do total de visitantes – a passar por todos os projetos, os organizadores pensaram em uma dinâmica para estimular seu imaginário: transformar o evento em um exercício lúdico, simulando um processo de formação de um médico veterinário. Para colocar a ideia em prática são distribuídas cartilhas, onde cada página representa um dos trabalhos expostos. As crianças recebem um carimbo por estande visitado e, ao completarem todo o caderno, ganham um certificado de “Veterinário Mirim”.
O cunho educativo é a marca das atividades exibidas pelos alunos, que têm a oportunidade de unir os conhecimentos adquiridos em sala de aula e nas pesquisas, com a experiência prática. Na visão da técnica de laboratório e organizadora do evento, Raquel de Oliveira, esta indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão é essencial na formação dos estudantes. “Sem as atividades de extensão, ficamos com uma formação meramente teórica, voltada apenas para o mundo acadêmico. Ao organizar este tipo de projeto, o estudante tem a noção do impacto de divulgar para a população tudo que está sendo feito aqui. É importantíssimo para o aluno ter a sensação de que está realmente sendo útil para a comunidade”.
Nesse sentido, a iniciativa exerce uma relevante função social: derrubar as barreiras entre a UFF e a população. O contato com os visitantes ajuda na compreensão do papel que a universidade pode e deve assumir sobre os indivíduos. É o que diz Shihane Mohamad, também técnica de laboratório e uma das organizadoras do projeto, “o objetivo da extensão é levar para a sociedade o que acontece dentro da UFF. Mas como decidir o que oferecer para a sociedade se não se sabe qual a necessidade dessas pessoas? Acredito que percebemos isso através dessa interação. Dessa forma, conseguimos mostrar que qualquer pessoa pode ter acesso ao que fazemos aqui”.
Laboratório Aberto
Conduzido pela chefe do Laboratório de Patologia Clínica do Huvet/UFF, Aline Moreira de Souza, o Laboratório Aberto é um dos projetos que marcou presença em ambas as edições do “Ações de Extensão”. A docente, que sempre conta com a colaboração de no mínimo 15 estudantes, não escondeu o entusiasmo. “Foi uma experiência enriquecedora e muito gratificante! A interação com a comunidade confirmou minha percepção da carência de iniciativas de divulgação da ciência no nosso cotidiano. E a receptividade com que crianças, jovens, adultos e idosos abraçaram o projeto é animadora. Estamos preparando com muito carinho nosso laboratório para receber não só os cientistas mirins como todos aqueles que tiverem curiosidade no coração”.
Através de atividades lúdicas, o objetivo é ensinar um pouco para as crianças sobre patologia clínica. Aline explica que eles mostram o “lado detetive do diagnóstico” ao examinar particularidades do sangue de aves e mamíferos nos microscópios – apontando suas diferenças -, além de também usar o aparelho para analisar parasitas, como a Babesia e a Filária. A pesquisadora afirma que a ideia é mostrar que o Hospital Veterinário da UFF é capaz de ir além de suas funções tradicionais e despertar vocações para futuros cientistas. Segundo ela, uma de suas pretensões é “trazer a ciência ao alcance de todos”.
Aline explica que, com o intuito de ilustrar os ensinamentos que são passados no laboratório, os extensionistas produziram uma história em quadrinhos chamada “Super Leucócitos do mundo cão”. Para facilitar ainda mais o aprendizado, eles também produziram um pequeno filme baseado nesta obra. “Mostramos um vídeo baseado em uma HQ que criamos, que conta a história de um cachorro que é picado por carrapatos e adquire um parasita chamado “Babesia”, que é o vilão da história. Ele destrói as células vermelhas do sangue do cãozinho, causa anemia e pode matá-lo. E, para resolver essa situação, o ‘Super Veterinário’ diagnostica a doença através de exames”.
Projeto Narizinho
Outro trabalho que ganhou destaque nas edições anteriores foi o Projeto Narizinho. Comandado pelo professores Aguinaldo Mendes Júnior e Ana Maria Barros Soares, a iniciativa criada em 2014 age especificamente para melhorar a qualidade de vida de cachorros que sofrem com a Síndrome Braquicefálica e já atendeu mais de 400 animais. Os extensionistas realizam uma intervenção cirúrgica (rinoplastia) no focinho, para abrir as narinas e ampliar sua capacidade respiratória. “O Projeto Narizinho nasceu do desejo de proporcionar bem-estar aos cães braquicefálicos, e consequentemente, também aos seus tutores. Os resultados são muito gratificantes, pois influenciam diretamente sua qualidade de vida, gerando maior conforto e alegria para eles”, explicou o docente.
Aguinaldo destacou ainda o enorme apelo do público infantil no evento, já que, segundo ele, a forma como as atividades são apresentadas “buscam incentivar a curiosidade e o interesse das crianças sobre diversos assuntos da medicina veterinária”. Além disso, as ótimas experiências vivenciadas no ano passado geram boas expectativas para a edição que acontecerá agora, “espero que seja tão positivo para o público participante quanto é para os alunos e espero também que informações importantes sejam passadas adiante, para que assim cada vez mais animais possam ser ajudados”, concluiu.
Serviço:
Endereço: Av. Alm. Ary Parreiras, 503 – Icaraí, Niterói – Faculdade de Veterinária
Data: 28/09/2019
Horário: 9h às 15h