Neste primeiro momento, dois engenheiros ambientais do Instituto Soka Amazônia, colaboradores técnicos da Ufam e professores do IEAA-Humaitá e do Ifam avaliaram a viabilidade da produção de quatro mil mudas para plantio na zona urbana da cidade
Está cada vez mais próximo o objetivo de transformar Humaitá, cidade localizada ao Sul do Amazonas e distante 697 quilômetros de Manaus, na capital ambiental da Amazônia. Depois de ter sido elaborada a Carta de Humaitá, subscrita no último dia 25 de abril pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e instituições parceiras, uma comitiva composta por representantes da Ufam, colaboradores externos e técnicos do Instituto Soka Amazônia (Cepeam) esteve na cidade para dar início às ações do projeto, especificamente quanto ao plantio de mudas e à arborização. A visita ocorreu entre 7 e 9 de outubro.
Ao lado dos parceiros que abraçaram a causa, o idealizador do projeto e pró-reitor de Extensão da Ufam, professor Ricardo Bessa, avaliou a urgência e a necessidade de a instituição encabeçar iniciativas dessa natureza. “Estamos contribuindo efetivamente para tornar Humaitá a capital ambiental da Amazônia. A Universidade precisa se envolver, buscar colaboradores para a promoção do desenvolvimento social, cultural e econômico daquela região, tudo isso por meio da aplicação dos objetivos traçados no Fórum. A partir desse piloto, será possível aplicar o modelo para outros municípios do Amazonas”, analisou o professor Bessa.
Uma das atividades da comitiva foi a visita ao escritório que será compartilhado entre a Ufam e o Instituto Soka. O professor Jorge Menezes será o responsável por fazer a ponte entre Manaus e aquela cidade. “A princípio, ele dará suporte às iniciativas deste convênio para o desenvolvimento de projetos em comum, mas também a outros projetos da Ufam já existentes na cidade. Ou seja, será possível viabilizar projetos via Proext ou diretamente, com o apoio do escritório. Ele é uma ponte, um link para que várias ações possam se desenvolver”, disse o docente.
Como colaborador da equipe institucional, o técnico-administrativo em Educação da Ufam, administrador e professor universitário Jorge Tribuzy Neto foi membro da comitiva. Especialista em Gerenciamento de Projetos, pela Fundação Getúlio Vargas, e em Planejamento Estratégico, Jorge Tribuzy Neto falou sobre a sua atuação: “É óbvio que nós queremos que esses indicadores sejam realísticos, práticos e mensuráveis. Assim, criar um indicador que não seja de fácil mensuração, é complicado. O meu papel é estabelecer metodologias para que esses indicadores, que forem criados a partir do Fórum e da Carta de Humaitá, sejam viabilizados e possamos ter um bom plano de ação”.
“Esse trabalho tem viabilidade. Nós não estamos querendo inventar a roda, inclusive porque já existem exemplos no mundo todo de que pode ser realizado, como ciclovias na Noruega, banco de sementes no Japão, transformação de lixo orgânico em energia através do processo de pirólise, e até mesmo atividades no Brasil”, enfatizou o TAE Jorge Tribuzy Neto, para quem, a partir da visibilidade inicial, as ações terão maior aderência dos cidadãos humaitaenses e de instituições e organizações nacionais e estrangeiras e que, em cerca de cinco anos, será possível ver mudanças concretas no ecossistema da região.
Expertise em arborização
Na comitiva, o Instituto Soka Amazônia – Cepeam estava representado pelos engenheiros ambientais Jean Leão e Rodrigo Izumi. Conforme explica o técnico Jean Leão, a ida deles foi para permitir a construção plural da proposta de arborização urbana para Humaitá. “A gente não vem com uma proposta formatada e uma solução. A ideia é construir junto com os grupos locais esse novo modelo de arborização para a cidade”, destaca o engenheiro.
O trabalho terá início com a produção das mudas, uma parte pela Ufam e a outra pelo Instituto Federal de Educação Tecnológica do Amazonas (Ifam) em Humaitá. “Como o processo de plantação é um pouco lento até que as mudas estejam no posto pra ir para campo, então, necessita de bastante cuidado, e esse cuidado quem vai oferecer são os alunos, ao mesmo tempo vão ter uma prática de como produzir mudas nativas na Amazônia”, apontou Jean Leão.
Segundo ele, a prioridade agora é viabilizar a produção das mudas, cuja média de crescimento antes do plantio nas áreas públicas da cidade é de seis a oito meses, em ambiente controlado. Uma curiosidade da expedição é que a equipe técnica do Instituto Soka detectou que a própria Ufam pode receber a arborização em algumas de suas áreas, o que deve contribuir para a redução do efeito do calor no intenso verão amazônico. Mas até que as árvores cresçam e comecem a transformar a paisagem e o clima da cidade, é preciso esperar cerca de dez anos.
Rodrigo Izumi graduou-se em Engenharia Ambiental em 2017, pela Universidade Federal do Paraná, e é técnico do Instituto Soka há apenas três meses. No entanto, há 12 anos que ele já vem idealizando trabalhar pela Amazônia, inspirado no exemplo do Fundador da entidade, o japonês Daisaku Ikeda. “Estamos aprendendo a fazer muita coisa no dia a dia, na prática. Estou adentrando ao campo da produção de mudas florestais, é praticamente outra graduação, é difícil, mas é muito recompensador”, enalteceu o jovem.
Conforme explicou o engenheiro, a produção de mudas é uma expertise que o Instituto já possui. “É algo que a gente veio preparado para realizar. Então a gente gostaria muito de produzir as mudas e contribuir com a arborização do município, para que ele realmente se torne exemplo de sustentabilidade”, afirmou ele, ao mencionar ainda que a expectativa é produzir cerca de quatro mil mudas no primeiro momento da arborização, em especial com o uso das espécies nativas conhecidas como “chuva-de-ouro” e “orelha-de-macaco”.
Preparando o terreno
Docente do Instituto de Educação, Ambiente e Agronomia (IEAA) desde 2006, o professor Eron Salazar é agrônomo e licenciado em Ciências Naturais, além de ser mestre em Agronomia e doutor em Biotecnologia. Ele conta que já havia sido realizado um projeto visando à arborização da cidade: “Nosso ponto de atuação era uma avenida bastante extensa, chamada Princesa Isabel, que era uma área de expansão urbana à época, mas acredito que tenha servido mais como aprendizado”.
Hoje, com a parceria, o viveiro localizado na sede do Instituto, onde é desenvolvido um projeto de pesquisa com açaí, sob a coordenação do professor Vairton Radmann (Agronomia) e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), poderá ser utilizado, futuramente, para apoiar este projeto. “A ideia é que, após esse uso, ele [o viveiro] possa ser direcionado para o projeto de arborização. Eu faço parte desse núcleo que está engajado nessa proposta ambiental para a cidade, tendo como ponto de partida a arborização. Agora, nós estamos em busca de parcerias para a produção das mudas usadas no plantio, já que a capacidade instalada pode receber até 11 mil mudas e serão necessárias apenas quatro mil para começar”, disse o professor Eron Salazar.
Falando em parceria, o professor Adamir Nina Júnior, docente do Ifam, é uma figura central para o sucesso da empreitada. “Nós já desenvolvemos um projeto, o ‘Arboriza Humaitá – Plantando qualidade de vida’, antes da ação do Fórum, com a ideia de começar a trabalhar com arborização urbana, que melhora a qualidade de vida dos cidadãos, mas, principalmente, com a recuperação de áreas degradadas no município… Áreas de vivaram lixeiras viciadas, que estavam inicialmente destinadas a serem áreas verdes e que, por mau uso, acabaram perdendo a sua finalidade. A proposta é resgatar a importância de se manter árvores e trabalhar com a educação ambiental para conscientizar a população dessa necessidade”, explicou o docente que atua na linha de Florestas no eixo Recursos Naturais do Ifam.
“Inicialmente, o nosso trabalho de curto prazo é esse da arborização e da recuperação das áreas urbanas. Hoje nós temos na sementeira e no viveiro as espécies de Ipê Amarelo, Ipê Roxo, Mogno, Andiroba, Angelim, Cedro e Seringueira. Dentre essas, há espécies com alto potencial econômico de extração e outras com potencial paisagístico, o que faz delas boas opções para se utilizar em projetos de arborização”, completou o professor Adamir Nina Júnior, ao ressaltar a importância de formalizar a atuação dos parceiros do Fórum.
Segundo ele, já existem algumas mudas em produção, que devem dar o start. “Hoje, certamente, nós temos aproximadamente mil mudas, embora esse número venha crescendo todo dia, porque, à medida que a muda atinge o tamanho ideal, ela passa para o viveiro e esse número aumenta. Assim, até o fim do ano, eu creio que nós já tenhamos chegado a duas mil mudas com tranquilidade. Dessas, temos também as frutíferas, como mamão, acerola, açaí, goiaba, que as famílias podem ter na frente de casa”, afirmou o engenheiro florestal.
Outras parcerias
Atuando em outra vertente do projeto guarda-chuva para Humaitá, João Batista é um dos colaboradores da Proext. Especificamente, ele atuará para propor melhorias na área de coleta, transporte e destinação de resíduos. “Humaitá tem tudo pra ser um laboratório do que é a forma ideal de se trabalhar com resíduos. A ideia é bem interessante, cada casa separa seus lixos secos dos úmidos. Sendo os úmidos o resto de comida, cascas, material orgânico que vai para a compostagem para transformar em adubo. Esse adubo seria utilizado para arborizar a cidade, pra plantar flores na cidade”, exemplificou João Batista, especializado nessa área.
Por outro lado, o presidente da Câmara Municipal, vereador Alexandre Peroti, que subscreveu a Carta de Humaitá, tem uma preocupação maior com o eixo da educação ambiental. “Nós sabemos que, hoje, o problema ambiental é preocupante, e está relacionado à nossa sobrevivência. Há uma necessidade de projetos relacionados a essa problemática, não apenas para o reflorestamento, mas também para a conscientização e a urgência de se trabalhar isso nas bases, nas escolas, na grade curricular dos estudantes. A educação ambiental vai mostrar que esse meio ambiente em que nós vivemos deve ser conservado de maneira racional e sustentável. Hoje, em Humaitá, a seca e a cheia são demais, não existe mais um equilíbrio na subida e na descida do rio. A natureza vem sofrendo o impacto”.