Pesquisadores da Engenharia Biomédica desenvolvem técnicas para melhorar diagnósticos.
Para combater o câncer de mama, o autoexame é importante, mas a mamografia é fundamental. O exame de rastreio por imagem pode detectar nódulos nos seios que ainda nem são palpáveis. Mas será que todas as mulheres têm acesso à mamografia de qualidade no Brasil?
Segundo pesquisas desenvolvidas no curso de Engenharia Biomédica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o acesso é desigual e a qualidade dos exames pode melhorar. Os estudos são coordenados pela professora Ana Cláudia Patrocínio, que trabalha na área de imagens médicas há 23 anos. Há nove, ela está na UFU, onde atualmente orienta um grupo de 18 estudantes de graduação, mestrado e doutorado, que desenvolvem estudos relacionados a mamografias.
Qualidade das imagens
Quanto melhor a qualidade da imagem obtida na mamografia, maiores as chances de se detectar o câncer de mama, inclusive em estágios iniciais. Mas um exame de Raios X da mama, mesmo feito com o melhor mamógrafo, tem sempre uma dificuldade, que é gerar contraste onde só existem tecidos moles. É diferente de uma radiografia do braço, por exemplo, que tem tecidos moles e ossos, o que permite gerar imagens com contraste alto.
É por isso que o doutorando Pedro Cunha Carneiro, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, está desenvolvendo uma nova metodologia para realce de contraste em mamografias digitais. “A ideia é propor um método computacional capaz de promover o aumento de contraste em mamografias, auxiliando os médicos na visualização de estruturas de baixo contraste, permitindo então, a detecção precoce desta doença”, explica o pesquisador.
Outra melhoria na mamografia que os cientistas da UFU estão buscando tem a ver com a radiação do exame. Altas doses de radiação geram imagens melhores, porém, a exposição excessiva a raios X pode aumentar o próprio risco de câncer. A pesquisa do doutorando Pedro Moisés de Sousa, também da Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, busca reduzir essa radiação do exame de mamografia.
A proposta de Sousa é aprimorar as imagens feitas com dose reduzida de radiação por meio de técnicas chamadas Wavelet e Deep Learning. Os testes já estão sendo feitos e os resultados preliminares, que são positivos, foram publicados em setembro nos Anais do XII Simpósio de Engenharia Biomédica – IX Simpósio de Instrumentação e Imagens Médicas.
Nos atuais sistemas de mamografia, a exposição da radiação é baseada na espessura e na composição da mama. O trabalho de Matheus Capo Rosa e Rianne Britto, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica, comparou técnicas de aquisição de imagem com diferentes filtros de radiação para avaliar a qualidade da imagem obtida e as doses de radiação e constatou que a técnica chamada W/Ag é a que apresenta benefícios para redução dessa radiação. Os detalhes do estudo também já estão publicados em Anais.
Acesso e distribuição de mamógrafos
A equipe orientada por Ana Cláudia Patrocínio também mapeou a distribuição dos equipamentos que fazem o exame de imagem da mama, os mamógrafos, no estado de Minas Gerais e no Brasil. Foram considerados os mamógrafos disponíveis na rede pública e privada, ou seja, no Sistema Único de Saúde (SUS) e no Sistema de Saúde Suplementar (SSS).
A dissertação Avaliação da distribuição de mamógrafos no estado de Minas Gerais, de Sarah Mansur Resende de Miranda, observou que a quantidade total de mamógrafos no estado é maior do que o número determinado pela legislação brasileira. Porém, esses equipamentos estão mal distribuídos pelas macrorregiões e microrregiões de saúde do estado. A pesquisa também constatou que apenas uma pequena parcela dos mamógrafos atende aos parâmetros estabelecidos pelo Programa Nacional de Qualidade em Mamografia.
O trabalho de conclusão de curso (TCC) intitulado Análise do financiamento de políticas públicas e o câncer de mama no Brasil, de Fernanda Ribeiro de Almeida, do curso de Engenharia Biomédica, mostrou que o número de mamógrafos por habitante está dentro do estipulado pelo DataSUS em todo o país. Entretanto, a baixa quantidade de equipamentos na Região Norte, principalmente, é problemática, porque eles estão concentrados nas capitais e existem dificuldades no deslocamento das mulheres.