UFPE E UFRPE- Pesquisadores investigam efeitos das manchas de óleo na comunidade planctônica

Na campanha do dia 24 deste mês, foram detectadas manchas de óleo nas pernas e em seu trato intestinal de pequenos animais marinhos.

Pedaços de óleo foram constatados em Tamandaré

Pesquisadores dos Laboratórios de Fitoplâncton e de Zooplâncton Marinho do Departamento de Oceanografia da UFPE, representados pelos professores Pedro Melo e Sigrid Neumann Leitão, em parceria com o Laboratório de Ecologia do Plâncton, do Departamento de Biologia da UFRPE, liderado pelo professor Mauro de Melo Júnior, têm investigado os efeitos da degradação das manchas de óleo sobre essa importante comunidade marinha na costa do Estado e, no dia 24 deste mês, detectaram manchas de óleo nas pernas e em seu trato intestinal de pequenos animais marinhos.

“Desde os primeiros registros das manchas de óleo na costa de Pernambuco, um grande esforço tem sido realizado na tentativa de conter os danos aos ecossistemas marinhos costeiros, mas infelizmente as grandes manchas que vemos não são o único problema. Mesmo após a retirada dessas grandes `placas´ de óleo, parte desse material fica disperso na coluna d’água e vai sendo degradado em tamanhos menores, sobretudo pela ação das ondas na costa. Uma parcela quase invisível dos organismos marinhos continua sofrendo impactos mesmo quando tudo parece limpo no mar: a comunidade planctônica”, destacam os pesquisadores.

Para eles, esses organismos são a base da maior parte das teias alimentares marinhas e entre os seus constituintes estão as microalgas e diversos outros grupos, como microcrustáceos e larvas de moluscos e peixes. “Dessa forma, o impacto causado pelo óleo no mar afeta diretamente funções biológicas essenciais para a manutenção da vida aquática, e ainda, de maneira mais ampla, compromete a produção de oxigênio para todo o planeta e a manutenção de estoques importantes de carbono nas águas marinhas. Além disso, muitas espécies de importância econômica possuem seus primeiros estágios de vida no plâncton e a presença do petróleo pode afetar alguns estoques pesqueiros da região”, destacam os pesquisadores.

Manchas de óleo foram encontradas nas pernas e no trato intestinal

ÓLEO BRUTO – Há três anos, a equipe vem estudando a estrutura e as taxas de mortalidade do zooplâncton da baía de Tamandaré, que resultou em dissertações e trabalhos de iniciação científica de estudantes da UFPE e UFRPE. Na última campanha realizada em Tamandaré, no litoral sul do Estado, no dia 24 deste mês, os pesquisadores constataram pequenos fragmentos do óleo bruto, mostrando que esses minúsculos pedaços de óleo estão disponíveis para animais filtradores, tais como ostras, sururus, corais, esponjas e cracas. No entanto, a maior preocupação é pelo fato de quê o plâncton pode acumular esses poluentes e passar para outros animais que consomem esses organismos (larvas e juvenis de peixes, por exemplo).

Vários estudos demonstraram que o plâncton (zooplâncton e fitoplâncton) pode absorver compostos de petróleo (hidrocarbonetos) na forma dissolvida, porém há evidências crescentes de que também podem incorporar fragmentos do petróleo bruto. A análise de algumas das amostras coletadas em Tamandaré reforça essa hipótese. Esses animais abaixo são copépodes, pequenos e abundantes microcrustáceos marinhos, com manchas de óleo nas pernas e em seu trato intestinal.

Na foto abaixo, verificou-se um estágio inicial de vida de um caranguejo com a mandíbula (parte do aparelho bucal) com vestígios de contato com o petróleo. “Isso reforça a nossa preocupação com o efeito do impacto do petróleo sobre a manutenção dos estoques pesqueiros e a sustentabilidade da pesca no Estado de Pernambuco”, destacam os pesquisadores.

As pesquisas sobre o impacto do petróleo na biota planctônica ainda estão em sua fase inicial, mas já apontam resultados preocupantes. Além da continuidade das pesquisas no contexto do PELD-TAMS, as equipes dos laboratórios pretendem ampliar o monitoramento em busca de mais informações sobre os efeitos da degradação das manchas de óleo na costa do Estado. Dentre tais estudos, estão programadas avaliações da produtividade primária, estrutura e diversidade das comunidades planctônicas e mortalidade do zooplâncton.

Mandíbula de caranguejo em estágio inicial de vida com vestígios de contato com óleo

PARCERIAS – Também atuam no estudo como parceiras as pesquisadoras Renata Campelo e a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Oceanografia Cynthia Lima (ambas do projeto Reciplas). www.instagram.com/projetoreciplas Particularmente para a região de Tamandaré, litoral sul de Pernambuco, este grupo tem estudado uma área inserida na Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, por intermédio do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD Tamandaré – Dinâmica espacial e temporal dos ecossistemas marinhos: conectividade, resiliência e uso sustentável no sul de Pernambuco), coordenado pela professora Beatrice Padovani Ferreira (UFPE), e do Projeto Recifes Costeiros (Fundação Toyota-SOS Mata Atlântica), coordenado pelo professor Mauro Maida (UFPE).

Mais informações
Professor Pedro Augusto M. C. Melo
Laboratório de Fitoplâncton
Departamento de Oceanografia

pedroamcm@gmail.com