Em Brasília, segunda etapa do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica) é conduzida na Faculdade de Ciências da Saúde (FS)
Para traçar o perfil da saúde cardiovascular de jovens brasileiros, acontece até dezembro a segunda etapa do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica). A fase inicial da pesquisa foi realizada entre 2013 e 2014, com cerca de 75 mil estudantes de 12 a 17 anos, de 122 cidades do país. Agora, o projeto busca avaliar a incidência de doenças em parte desse mesmo público ao longo dos anos.
A coleta de dados ocorre em polos de atendimento em Brasília, Fortaleza, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Na capital federal, as avaliações são conduzidas na Faculdade de Ciências da Saúde (FS) da Universidade de Brasília. Participantes que ainda não compareceram à nova etapa são convidados a fazer contato com a iniciativa. “Estamos com bom ritmo de atendimento, mas há dificuldade de localizar muitos participantes da primeira fase. Vários deles mudaram de endereço e, no nosso cadastro, constam e-mails ou telefones que não existem mais”, compartilha Vivian Gonçalves, pesquisadora do Erica e docente do Departamento de Nutrição da FS.
A professora destaca que “além de contribuir para uma pesquisa nacional de saúde pública, todos os participantes dessa etapa recebem um voucher para realizar exames laboratoriais gratuitamente. É uma oportunidade de colocar o check-up em dia”. Para Eliardo Rocha, de 18 anos, a avaliação veio em boa hora. “Estava querendo fazer exames de rotina. Foi quando recebi mensagem pelo Whatsapp me convidando para retornar à pesquisa. Achei ótimo”, conta o jovem, que participou da primeira fase aos 12 anos. Em Brasília, a meta do projeto é alcançar cerca de 600 participantes. Até o momento, quase 200 foram atendidos.
Kênia Fernandes, 22 anos, também retornou ao projeto e opina sobre sua importância. “Antigamente, as pessoas se alimentavam melhor porque não havia tanta coisa industrializada, nem tanto agrotóxico. Hoje, a chance de termos uma doença cardiovascular é maior. Devido a correria do trabalho e dos estudos, muitas pessoas da minha idade não conseguem se alimentar bem.” Ela conta que ligou para algumas amigas da época da escola, incentivando-as a também retornarem.
A visita ao projeto demanda poucos minutos e deve ser realizada após agendar o horário. No polo de atendimento, os participantes respondem a um questionário com perguntas diversas, como sobre hábitos alimentares. Em seguida, eles são avaliados em relação à altura, peso, pressão arterial e outros aspectos físicos. Por fim, recebem um voucher para realizar exame de sangue em um laboratório conveniado à iniciativa.
A docente Vivian Gonçalves (ao centro) junto da equipe de nutricionistas do projeto. Foto: Audrey Luisa/Secom UnBRecém-formado, Wilson Campos, 22 anos, integra a equipe de nutricionistas que recebe os participantes. “É meu primeiro emprego e tem sido uma experiência agregadora. Aplico diversos conhecimentos obtidos na faculdade, além de me manter na área da pesquisa. Estou vendo de perto como funciona um estudo de relevância nacional, voltado para o bem-estar da população brasileira”, compartilha.
A PESQUISA – O Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica) tem como objetivo traçar o perfil dos fatores de risco para doenças cardiovasculares, além de conhecer a proporção de adolescentes com diabetesmellitus e obesidade. A pesquisa é coordenada pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e tem o envolvimento de outras instituições de ensino. O Erica tem a participação direta de três docentes do Departamento de Nutrição da UnB, além da parceria de outros departamentos da Universidade para desdobrar estudos sobre os dados gerados.
O projeto envolve um estudo de corte, o que significa que os participantes são observados por determinado período para levantamento e avaliação da incidência de doenças. No caso do Erica, esse período será entre dez e 15 anos.
Segundo Vivian Gonçalves, a segunda etapa irá abarcar uma amostra menor, porém, com maior valor epidemiológico. “Estamos priorizando os participantes que nos autorizaram a armazenar o sangue coletado na época. Com os novos dados, teremos dois pontos de comparação ao longo do tempo. Isso nos permite começar a inferir sobre a causalidade das doenças que apareceram. Por isso essa segunda onda é tão importante.”
Sobre a relevância do estudo, a docente da UnB menciona achados da primeira etapa. “Quase 10% dos adolescentes avaliados foram diagnosticados com obesidade, e cerca de 8% com hipertensão, além de alterações em exames bioquímicos”, confirma.
Segundo a professora, os dados são expressivos ao considerar a faixa etária estudada. “Existe a ideia de que essas doenças só irão se manifestar na idade adulta, mas elas estão ocorrendo já na adolescência. Isso cria um alerta para o profissional que atende o adolescente na atenção básica.”
Outro resultado é a produção científica gerada. “O Erica tem representatividade de todos os estados brasileiros, cada um por meio de uma instituição de pesquisa. Nesse período, todos os pesquisadores envolvidos se debruçaram sobre os dados. Muitos estudos já foram publicados em periódicos nacionais e internacionais. Ainda hoje, há estudos em andamento envolvendo alunos da pós-graduação”, informa Vivian Gonçalves.
SERVIÇO – Em Brasília, as avaliações do Erica acontecem na sala AC 110B da Faculdade de Ciências da Saúde (FS), no campus Darcy Ribeiro. O horário de atendimento é das 9h às 17h, de segunda a sexta-feira. Participantes interessados em retornar à pesquisa podem entrar em contato pelo e-mail projetoericadf@gmail.com ou pelo Instagram da iniciativa. Outras informações sobre o projeto e os polos de atendimento no país podem ser obtidas pelo site do Erica.