Nativa do México e da América Central, a pitaya é uma fruta que vem ganhando cada vez mais o gosto e a mesa dos brasileiros. No Pará, o cultivo da fruta está concentrado, principalmente, no Nordeste do estado, na região de Tomé-Açu (PA). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município teve uma produção estimada em 92.700 toneladas em 2017, seguida pelos municípios de Acará e Aurora do Pará.
Com o objetivo de conhecer as especificidades desta cultura, que ainda conta com poucas pesquisas no Brasil, a Universidade Federal Rural da Amazônia, por meio do Tomé-Açu, desenvolve desde 2015 o Projeto Pitaya TA. Com uma equipe multidisciplinar coordenada pela professora Dra. Márcia Aviz, o projeto busca levantar informações sobre a cultura da pitaya, acompanhar e descrever detalhadamente o processo de implantação de mudas, identificar e descrever a entomofauna associada, determinar a sua eficiência produtiva e verificar o grau de rentabilidade da cultura.
O projeto atua junto com o poder público, através da Prefeitura de Tomé-Açu, produtores rurais da região e setor privado, através da parceria com a empresa Pitaya do Brasil. As atividades vêm sendo determinantes para o crescimento da pitaycultura nos últimos anos. O estudo tem como foco, até o momento, a espécie Hylocereus polyrhizus, variedade da pitaya de casca vermelha e polpa vermelha. Além do levantamento de informações e o acompanhamento contínuo do processo de implantação de mudas, a equipe da Ufra já conseguiu identificar alguns insetos e doenças que acometem a pitaya e agora pretende partir para o processo de comercialização.
Resultados
Segundo a professora Márcia Aviz, trata-se de uma cultura nova na região, considerada exótica, que produz o ano inteiro e cuja implantação é acessível em relação a outras fruteiras e com retorno superior. “Ela se ambientou muito bem no município, que tem um clima muito favorável para a cultura, porém ainda se verificam algumas limitações com relação a sombreamento e adubação. Com relação à adubação, sabemos que ela responde muito melhor à adubação orgânica, devido à maior disponibilidade de nutrientes, mas ainda não temos uma recomendação específica, como já temos para outras fruteiras”, explica.
O primeiro experimento do projeto foi realizado em uma área cedida pela Secretaria de Agricultura do município, para verificar o enraizamento de cladódios de pitaya em diferentes substratos orgânicos. “Nós identificamos que o melhor resultado foi composto por terra preta, torta de dendê e esterco curtido, que são substratos que nós temos em grande proporção e disponibilidade aqui na região”. A pesquisa já resultou em três trabalhos de conclusão de curso no campus, com resultados inéditos para a literatura da cultura da pitaya, além de diversos trabalhos apresentados e aceitos em congressos, abordando aspectos como climatologia, substratos, segmentação de mudas, posicionamento de cladódios, profundidade e entomofauna.
Crescimento da produção
A coordenadora do projeto relata que quando chegou pela primeira vez em Tomé-Açu, em janeiro de 2014, não se tinha expressividade da cultura no município. “Nós descobrimos a pitaya, verificamos que na literatura havia uma escassez muito grande de trabalhos com relação a essa cultura e que o que havia era muito baseado no empirismo. A partir daí, demos início ao projeto e começamos a realizar visitas, divulgar o projeto, estreitar os laços com os produtores locais e apresentar a cultura. Então, o que era apenas uma fruteira de quintal começou a ser uma cultura de comercialização. De lá para cá, nós já observamos que a cultura ganhou expressividade. O projeto contribuiu para divulgar essas informações, que até então eram muito insipientes e insuficientes, e os produtores começaram a observar a viabilidade econômica”, conta.
Segundo ela, o mercado da pitaya é um mercado, em sua maioria, de exportação. Embora o comércio seja hoje focado apenas no fruto, a planta tem um enorme valor biológico, pois dela pode-se aproveita tudo – raiz, cladódio, fruto e flor -, sendo uma cultura de múltiplos propósitos. “Os resultados que nós temos hoje viabilizaram a implantação, a adubação, o manejo, a comercialização e a viabilidade econômica. Houve um impacto bem positivo no município, tanto que se você vier a Tomé-Açu hoje, você vai ver vários carros com os dizeres “Pitaya do Brasil”, “Pitaya do Pará” ou “Pitaya do Vale””, avalia a professora.
Em um artigo científico assinado por pesquisadores da Embrapa e da Ufra, Tomé-Açu aparece como o primeiro lugar no ranking da produção de pitaya no Norte do Brasil e, de acordo com ela, muito deste resultado se deve à divulgação do projeto Pitaya e ao fomento dos resultados para os produtores que acreditaram na proposta. “Hoje, a pitaya já aparece como um dos principais produtos do agronegócio paraense, com uma grande tendência de crescimento. Tanto que o mercado consumidor ainda não consegue ter a sua demanda atendida. Isso ainda tem sido um entrave porque o mercado quer números expressivos de produtos na gôndola, na prateleira e para exportação”, avalia.
Próximos passos
Mesmo com as pesquisas em andamento há quatro anos, a coordenadora afirma que ainda há muito o que se estudar sobre o tema. O projeto ainda deverá começar a trabalhar em experimentos com a variedade de pitaya de casca amarela e polpa branca. A professora informa, ainda que já há previsão para a implantação da primeira indústria de polpa de pitaya, da empresa Pitaya do Brasil. “Acredito que ainda teremos que esperar os próximos 20 ou 30 anos para termos um conhecimento realmente aprofundado da cultura. O que nós sabemos é ainda apenas a ponta do iceberg”.
O Projeto Pitaya TA conta com uma equipe multidisciplinar composta por professores e alunos dos cursos de Engenharia Agrícola, Licenciatura em Biologia e Ciências Contábeis, produtores rurais, Prefeitura e empresários do ramo da pitaya.