UFJF – Germinando o futuro

 

“Hoje, nasce uma árvore aqui. Com muitos galhos – que são os diversos parceiros e colaboradores envolvidos – e que dará muitos frutos.” Esse trecho da fala do coordenador do Projeto de Restauração de Valores Ecológicos da Mata Atlântica e professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), André Megali Amado, demonstra o sentimento de entusiasmo que a inauguração da Fazenda Experimental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) propicia. A cerimônia aconteceu no espaço da mesma, próximo ao município de Ewbank da Câmara (MG), na última quarta-feira, 11. O local abriga a sede do Núcleo de Integração Acadêmica para Sustentabilidade Socioambiental (Niassa) e um viveiro de mudas com capacidade para produção de 20 mil mudas, feito em parceria com a concessionária Via 040 – o primeiro marco para a consolidação de um espaço multidisciplinar para o fomento da pesquisa, ensino e extensão.

Viveiro de mudas marca potencial do espaço para impactar a biodiversidade na região (Foto: Gustavo Tempone/UFJF)

A pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFJF, Mônica Oliveira, destacou o papel histórico do local e o potencial científico, sustentável e socioambiental do mesmo. “Junto ao Jardim Botânico, a Fazenda Experimental se afirma como mais um laboratório e equipamento da Universidade. Nossa instituição se reafirma como comprometida com as questões ambientais e a preservação do meio ambiente, com projetos vinculados aos objetivos de desenvolvimento sustentável estipulados pela Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas – portanto, somos uma instituição vinculada à pauta global de desenvolvimento sustentável.” A pró-reitora também elucidou como foi formada a comissão responsável pela ocupação da Fazenda e, junto aos demais pesquisadores, elogiou o empenho do professor Fábio Roland, presente desde o início do projeto.

Impacto direto no fornecimento hídrico
Além de contribuir para os pilares norteadores da Universidade, um dos principais motes do trabalho desenvolvido na Fazenda é o reflorestamento da área que, por sua vez, gera a recuperação e o fomento de nascentes e mananciais da represa de Chapéu d’Uvas, com efeito direto sobre o abastecimento de água para as cidades de Juiz de Fora, Ewbank da Câmara e Santos Dumont. A garantia de uma atividade de recuperação florestal tem desdobramentos no assoreamento dos municípios, na capacitação dos produtores rurais do entorno e no estímulo para a biodiversidade da região. De acordo com os pesquisadores envolvidos, por meio do reflorestamento também é possível a experimentação e o desenvolvimento de novos métodos de manejo, plantio, cultivo, bem-estar animal e produtividade do solo.

“Somos uma instituição vinculada à pauta global de desenvolvimento sustentável”

As características do bioma da Mata Atlântica, representado na Fazenda, proporcionam um grande potencial para a regeneração florestal – no entanto, a degradação crescente impede o processo natural. A concentração de água é uma das exigências para a recuperação do bioma. O volume de precipitação auxilia nesse caso, mas a falta de vegetação é capaz de quebrar o ciclo. “Há 40 espécies plantadas aqui, nativas da Mata Atlântica, e que são combinadas de forma a potencializar a restauração. Temos espécies chamadas pioneiras, que são aquelas que colonizam um solo aberto, crescem rapidamente e se instalam com facilidade; também temos outras espécies que são de estágios sucessionais. Recompor essa paisagem é não só trazer esse valor de biodiversidade ecológico de volta, mas também trazer mais água para a região. Entendemos isso como uma grande oportunidade para os vizinhos, para as fazendas do entorno, e como subsídio técnico. Temos muito a ensinar e a aprender”, reforça o pesquisador André Amado.

Pesquisas de impacto nacional e internacional
Os projetos de pesquisa do Niassa serão potencializados com a sede na fazenda. O coordenador do Núcleo e do Programa de Pós-graduação em Ecologia da UFJF, Nathan Oliveira Barros, explica que existe um convênio firmado com a Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, promovendo um intercâmbio entre estudantes e pesquisadores. A colaboração entre as instituições já está gerando frutos como, por exemplo, uma pesquisa de mestrado, atualmente em desenvolvimento e anualmente monitorada, voltada para testes de diferentes técnicas de germinação de sementes em cenários de reflorestamento. “Este é um exemplo de como o Niassa pode ser uma ferramenta para o avanço científico. Também temos pesquisas relacionadas à qualidade da água, ao reabastecimento hídrico, à segurança hídrica. Diversas áreas do conhecimento podem trabalhar por meio do núcleo e do espaço da Fazenda; esse é um grande equipamento de campo para geração de dados e de pesquisas científicas”, avalia Barros.

O avanço do conhecimento científico propicia a capacitação não apenas de pesquisadores, mas também da população do entorno

O pesquisador André Amado adianta que o Niassa está em contato com uma equipe de uma universidade alemã para promover um seminário sobre novas estratégias de restauração e delimitação de novas possibilidades de experimentos avançados para, futuramente, serem instalados na fazenda experimental. Da mesma forma, Amado explica que também há uma associação com a Universidade de Baylor, localizada no estado do Texas (EUA). “Os pesquisadores têm muita experiência em construção de áreas que são alagáveis, transições entre terra e água, para a reconstrução de habitat e fornecimento de áreas com recursos e abrigos para espécies animais. Eles já fazem isso há mais de uma década e é muito importante trazê-los aqui como parceiros.”

Uma terceira frente do projeto, focada no âmbito da inovação, é a interação com uma rede internacional que analisa os efeitos de diversidade e biodiversidade florestal para processos ecológicos. Segundo Amado, a rede tem sítios de pesquisas que monitoram e realizam o mesmo tipo de estudo em diversos países no mundo, especialmente na Europa e na América do Norte, mas também abarcando regiões da Ásia e da África. No Brasil, há apenas um local da empreitada internacional, localizado no bioma brasileiro da caatinga. A Fazenda Experimental, por sua vez, está rodeada de Mata Atlântica. O pesquisador afirmou com exclusividade que o Niassa está preparando-se para integrar a rede.

Integração regional e retorno social
O coordenador do Niassa, Nathan Barros, afirma que o avanço do conhecimento científico será elevado pelo espaço de campo e pela sede, propiciando a capacitação não apenas de pesquisadores, mas também da população do entorno da Fazenda, com novas técnicas de produção sustentáveis e de revegetação de áreas degradadas. Barros ainda enfatiza que, a longo prazo, esses novos métodos podem ser um mecanismo de renda para a sociedade e cidades próximas..

A aproximação com a população está sendo mediada por meio dos trabalhos de Extensão da Universidade. Barros diz que a UFJF realizou um contato inicial com lideranças locais, elegendo possíveis colaboradores e agentes de transformações junto ao Niassa. “Temos que entender o Niassa não como um local isolado onde a Universidade somente vem e faz pesquisa, mas como um núcleo capaz de capacitar, trazer e compartilhar conhecimento. Contamos com a capacidade para hospedar cerca de 30 pessoas com conforto e estrutura. Assim, podemos oferecer cursos e imersões sobre vários temas, sejam eles na área da Saúde, das Exatas ou das Biológicas, por exemplo”. A abertura de um edital de fluxo contínuo para os projetos de extensão e pesquisa, a ser realizada no próximo ano, auxiliará na utilização da área e em novas descobertas, considera Barros.