Pesquisadores brasileiros comemoram, esta semana, a inauguração das novas instalações da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), destruída por um incêndio, em 2012. A solenidade de inauguração, nesta quarta-feira (15), contará com a presença do ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes, e do vice-presidente da República, Hamilton Mourão. A estação brasileira é a maior estrutura científica na Península Antártica, um lugar que pesquisadores da UFV conhecem muito bem há quase 18 anos.
No início de fevereiro, os professores Márcio Rocha Francelino e José João Lelis e mais três estudantes de pós-graduação do Departamento de Solos (DPS) da UFV já irão trabalhar no laboratório, destinado às pesquisas em Geociência na nova estação brasileira. Mesmo sem a estrutura da EACF, nos últimos anos, a equipe de pesquisadores da UFV continuou viajando à Antártica, acampando no gelo, em busca de dados sobre o permafrost – a camada de solo congelada – e sobre os ecossistemas terrestres da região. A análise do que acontece no continente gelado gera informações importantes para a elaboração de possíveis cenários futuros de mudanças climáticas no Brasil.
O Núcleo Terrantar, formado por pesquisadores da UFV que realizam pesquisas na Antártica, começou os trabalhos em 2002, quando o professor Carlos Ernesto Schaefer (DPS) aprovou o projeto Criossolos Austrais. Nessa primeira fase, os estudos se concentravam na região de entorno da Estação Antártica Comandante Ferraz. Em 2010, o Terrantar vinculou-se ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, grupo que tem a participação de outros oito laboratórios e reúne mais de 80 pesquisadores de várias regiões do Brasil e de outros países.
Atualmente, os trabalhos de pesquisas desenvolvidos pelo grupo de Viçosa são realizados por dois projetos: o Terrantar, coordenado pelo professor Marcio Rocha Francelino, e o Permaclima, coordenado pelo professor Carlos Ernesto Schaefer. Em expedições na Antártica e Cordilheira dos Andes, estes grupos instalaram 28 sítios de monitoramento da temperatura e umidade do solo que formam, atualmente, a maior rede mundial de monitoramento da camada ativa do permafrost.
Para o professor Márcio Francelino, a dinâmica do permafrost é importantíssima para o monitoramento das mudanças climáticas. “Se ocorre aquecimento, o permafrost se aprofunda e se ocorre resfriamento ele chega mais próximo da superfície. Isso o torna um eficiente sensor das variações do clima e nos permite modelar o que pode acontecer por aqui”. Outros estudos avaliam a emissão de gases de efeito estufa nas áreas livres de gelo, principalmente naquelas que vêm sendo recentemente expostas com o recuo das geleiras.
As pesquisas realizadas pela equipe da UFV na Antártica já geraram um precioso banco de dados de solos de uso internacional, resultaram em vários artigos publicados em periódicos de alta qualidade e produziram 26 dissertações e 19 teses defendidas. “Já somos hoje um dos maiores grupos de pesquisa em permafrost do mundo. A nova estação vai nos dar ainda mais estrutura para pesquisa nos laboratórios e apoio para o pessoal permanecer na região”, afirma o professor Márcio.
Com a reforma, o MCTIC destinou R$ 2 milhões para equipar a nova estação com oito laboratórios de biociências, bioensaios, triagem, uso comum, microbiologia, biologia molecular e química. O MCTI também lançou, ano passado, uma chamada de pesquisas para o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) no valor de R$ 18 milhões. Dentre os vários projetos aprovados está o de estudos do permaclima, coordenado pelo professor Carlos Ernesto Schaefer. Segundo o MCTI, os recursos para pesquisas na Antártica estão garantidos até 2022.