As mudanças climáticas são um dos grandes desafios da atualidade, pois seus impactos afetam, entre outros, a produção de alimentos e o aumento do nível do mar. O assunto é bastante debatido nos níveis popular e científico, gerando muitas controvérsias. A Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) é uma grande defensora da discussão científica deste tema e, atualmente, possui pesquisadores que realizam atividades a ele relacionadas.
O Instituto de Recursos Naturais (IRN) da UNIFEI, criado em 2004, mantém, entre suas sete graduações, a de Ciências Atmosféricas, além de oferecer três programas de pós-graduação, como o Mestrado em Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Nesses cursos, são realizados diversos estudos sobre o clima.
Em contato com a Secretaria de Comunicação (SECOM) da UNIFEI, o professor Marcelo de Paula Corrêa, atual diretor do IRN, disse que o tema mudanças climáticas é de suma importância para as ciências atmosféricas: “Os impactos desse fenômeno exercerão efeitos danosos sobre os seres humanos e com graves consequências socioeconômicas”.
Segundo o docente, além das dificuldades para se fazer pesquisa no Brasil, o assunto mudanças climáticas tem sofrido fortes ataques em função do desconhecimento e da falta de crédito proveniente das fake news e de formadores de opinião que, em geral, não são cientistas do assunto.
Pesquisas sobre o clima
Entre os vários docentes do curso de Ciências Atmosféricas do IRN, a professora Michelle Simões Reboita atua como pesquisadora em modelagem climática regional (MCR), além de outras atividades na pós-graduação, em projetos de pesquisa financiados e em colaboração com outras instituições. Ela também é membro do Grupo de Estudos Climáticos (GrEC) da USP, que mantém informações atualizadas de suas atividades no site: www.grec.iag.usp.br.
A docente também desenvolve pesquisas com o grupo de professores internacionais liderado pelo Dr. Filippo Giorgi, cientista precursor da MCR, na sede do Abdus Salam for Theoretical Physics, em Trieste, Itália, que, atualmente, está analisando uma série de projeções sobre o clima para dar suporte ao próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
“Meu foco é a região que compreende a América do Sul e o oceano Atlântico Sul. Buscamos responder a questões de como será a climatologia de ciclones no futuro e de como será a estação chuvosa no Brasil, por exemplo, considerando diferentes cenários de mudanças climáticas. Parte das projeções elaboradas para a América do Sul também está sendo analisada pelos meus alunos de mestrado, que estão realizando análises mais regionalizadas, incluindo o Sudeste do Brasil”, disse a professora Michelle, também em contato com a SECOM.
Na oportunidade, a docente adiantou: “Uma das tarefas que almejo executar na UNIFEI é a implementação do Regional Climate Model (RegCM) em modo operacional para prover previsões climáticas sazonais no Sudeste do Brasil”.
Ela informou ainda que, atualmente, o grupo de professores do curso de Ciências Atmosféricas da UNIFEI, juntamente com alguns alunos e o professor Benedito Silva do curso de Engenharia Hídrica, mantêm um site hospedado na UNIFEI (meteorologia.unifei.edu.br) com informações atualizadas em tempo real dos dados captados na estação meteorológica.
Outros estudos sobre mudanças climáticas
Além dessa importante iniciativa realizada pela professora Michelle Reboita, o IRN tem desenvolvido projetos de pesquisa e publicado trabalhos científicos importantes na área.
O professor Roger Rodrigues Torres, especialista e principal pesquisador na UNIFEI sobre o assunto, tem uma série de publicações em periódicos científicos de alto impacto sobre o efeito das mudanças climáticas sobre o Brasil, um país muito sensível aos problemas gerados pelos extremos climáticos, como o que pode ser conferido em: http://dx.doi.org/10.1007/s10113-019-01570-z.
A professora Fabrina Bolzan Martins, especialista em agrometeorologia, tem estudado o efeito das mudanças climáticas sobre diferentes culturas agrícolas no país e, principalmente, nossa região, tais como as oliveiras. O artigo “Impactos de mudanças climáticas no desenvolvimento vegetativo de cultivares de oliveira” está disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1807-1929/agriambi.v23n9p641-647.
O diretor do IRN, professor Marcelo de Paula Corrêa, que estuda os efeitos do meio ambiente sobre a saúde humana, publicou recentemente um estudo mostrando o impacto das mudanças do clima sobre a radiação ultravioleta e a ocorrência de câncer de pele no país até o final desse século, como pode ser conferido em: http://dx.doi.org/10.1039/c9pp00276f.
Além disso, o professor Marcelo citou que no ano passado teve aprovado um importante projeto sobre o tema, com medidas na região Antártica, mas que foi cortado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por falta de recursos.
Sobre a modelagem climática
De acordo com a professora Michelle Reboita, na década de 1950, foram realizadas as primeiras previsões numéricas de tempo. “Quando se fala em previsão do tempo, o interesse é prever o que irá ocorrer nos próximos dias, num horizonte de até sete dias”, explicou a docente.
Ela disse que os modelos de previsão de tempo inicialmente foram desenvolvidos para a realização de simulações sobre todo o globo, o que lhes conferiu o nome de modelos de circulação geral da atmosfera (MCGA). “Com o crescimento tecnológico, foi possível o desenvolvimento de modelos para áreas limitadas do globo, os quais receberam o nome de modelos numéricos regionais (MR). Os MCGA, quando executados por um longo período, produzem informações climáticas”, detalhou Michelle. Segundo a professora, o clima nada mais é do que a média dos eventos de tempo ocorridos numa dada região por vários anos.
A docente também informou que entre o final da década de 1980 e o início da de 1990, o Dr. Filippo Giorgi, que na época trabalhava nos Estados Unidos da América, e colaboradores perceberam que era possível utilizar os MR também para previsões climáticas e, com isso, nasceu um novo ramo da modelagem: a modelagem climática regional (MCR). “Quanto mais refinada for a grade de um modelo numérico, melhor é a representação dos fenômenos atmosféricos, o que contribui para uma previsão mais realística”, disse a professora.
A professora explicou ainda que a MCR é utilizada tanto para prever como será o comportamento das variáveis atmosféricas numa dada estação do ano quanto para prever o clima em décadas futuras. “Com relação à previsão sazonal, essa é de extrema importância para o planejamento de atividades de diferentes segmentos da sociedade, como a agricultura e a geração de energia elétrica. Para décadas, a MCR, aliada aos cenários de atividades humanas do IPCC, indica como poderá ser o clima futuro”, destacou Michelle.
Para a pesquisadora do IRN, a MCR é uma ciência cara e que deve ser realizada em equipe. “Cara, pois demanda de muitos recursos financeiros para a compra de computadores com alto desempenho em processamento e para a aquisição de discos rígidos para o armazenamento de dados. Sem investimentos nessa área é impossível o seu desenvolvimento. Já o trabalho em equipe deve-se às diferentes atividades envolvidas na modelagem, sendo necessários: o grupo de pesquisa que prepara os dados de entrada para os modelos, pessoal com conhecimento em programação para melhorar os códigos dos modelos e pessoas com grande conhecimento em clima para analisar as simulações. Enfim, a MCR é uma ciência dispendiosa e colaborativa”, lembrou a docente.
Workshop sobre MCR
No ano de 2019, a MCR completou 30 anos, marco que contou com um encontro no International Centre for Theoretical Physics(ICTP), na Itália. Neste ano, o Workshop sobre MCR chega à sua 10ª edição, e a professora Michelle Reboita representará a UNIFEI como palestrante e organizadora do evento, que ocorrerá em maio, em Trieste. As inscrições encontram-se abertas até o dia 13 de março no site: http://indico.ictp.it/event/9086/.
No workshop serão apresentados conceitos básicos e atuais de MCR e resultados das análises que o grupo do Dr. Filippo Giorgi vem obtendo com as novas projeções climáticas.