Promovida pelo Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas (ICB/Ufam), a palestra “Assestando óculos para olhar o mundo” teve como objetivo estabelecer alguns padrões e objetos para olhar o mundo. O evento, que integra a programação de acolhida dos alunos para o ano letivo de 2020, ocorreu na tarde desta terça-feira, 10, no auditório do ICB, localizado no setor Sul, do Campus Universitário.
O professor Attico Chassot disse que, desde 2019, realiza apresentações com essa temática em importantes universidades brasileiras e, nos últimos tempos, inseriu um prelúdio e um posfácio a alguns excertos da Encíclica do Papa Francisco, Laudato si, que significa ‘Louvado sejas’, na qual critica o consumismo e o desenvolvimento irresponsável e faz um apelo à mudança e à unificação global para combater a degradação ambiental e as alterações climáticas.
Ele ressaltou que, mesmo numa Universidade laica, não faz proselitismo religioso, apenas afirma que a Encíclica publicada em 18 de junho de 2015 é o melhor documento sobre o cuidado da nossa casa comum, o planeta Terra. A Encíclica papal é uma resposta às expectativas das comunidades religiosas, ambientais e científicas internacionais, bem como de lideranças políticas, econômicas e dos meios de comunicação social, acerca da crise representada pelas mudanças climáticas. Para o professor, a degradação do meio ambiente é um caso muito sério, ainda mais diante as atuais políticas contra as terras indígenas, a liberação de agrotóxicos e a exploração indiscriminada da Amazônia. Ele alerta para que se crie um antídoto contra essas políticas governamentais.
Nesse sentido, Attico Chassot enfatiza que a Encíclica papal é referência contra a problemática enfrentada na atualidade, e cita também o sociólogo, filosofo e educador, Edgar Morin, quanto aos cuidados para com o planeta Terra. Ele exemplifica o caso de desrespeito ocorrido no sul do Pará, quanto ao envenenamento de terras dos índios Xikrin, realizado pela Companhia de Mineração Vale, é um dos fatores de aculturamento daquela comunidade, e consequentemente, seu extermínio.
O docente aponta o alcoolismo como um grande problema de desestabilidade social, comparando o fato ao período colonial, quando a Igreja Católica vendia indulgência para que o cristão alcançasse seu lugar no paraíso. Em tempos atuais, o professor faz uma analogia com o fato de o capital explorar os povos tradicionais com interesse na exploração da terra pertencente a esses povos.
“A valorização do conhecimento tradicional nos permite compreender e ser consciente dessa realidade que perpassa como instrumento de resistência aos interesses do capital, possibilitando um novo pensar que alia a natureza e nos garante a sobrevivência como espécie humana”, disse o professor. Nesse aspecto, o pesquisador dá prioridade as orientações tanto do mestrado quanto no doutorado, falou sobre a valorização dos saberes escolares. Ele exemplificou com a atividade de produção de farinha pelas comunidades tradicionais, quando uma orientanda de doutorado no município de Parintins (AM) colocou em prática a compreensão nas aulas de Química, em escola pública, quanto aos procedimentos de elaboração, resgatando essa atividade milenar no âmbito escolar.
Segundo o professor, é preciso resgatar e se apropriar os saberes tradicionais para que eles possam ser ensinados em sala de aula, destacando seis maneiras de olhar o mundo∶ Senso comum, pensamento mágico, saberes primevos, mitos, religiões e ciência. Para ele, com os seis óculos apresentados, é possível enxergar o mundo de forma diferenciada. Quem olha o mundo sob a perspectiva da religião, vê diferente de quem escolheu óculos da ciência.
O professor assegurou que nenhum deles é o melhor, mas cada um escolhe o óculos que achar conveniente ou de acordo com suas vivências. Durante sua fala, o professor destacou dois universos importantes entre si: os óculos da religião e o da ciência. Ele finalizou contando que as crenças dadas pela religião são compreendidas pela fé. Por outro lado, em vez de acreditar, a ciência entende que com o uso da razão apresenta uma outra perspectiva.
Sobre o palestrante
Attico Chassot, professor desde março de 1961, é licenciado em Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/1965), mestre em Educação (UFRGS/1976), doutor em Ciências Humanas (UFRGS/1994) e pós-doutorado pela Universidade Complutense de Madrid, em 2002. É professor Titular (aposentado) do Instituto de Química da UFRGS. Foi professor da PUC-RS, da Ulbra, da Faculdade Portoalegrense, da Unisinos (coordenador do Programa de Pós-Graduação Educação), da Unilasalle, na URI de Frederico Westphalen e do Centro Universitário Metodista ? IPA.
Foi professor visitante da Alborg Universitete, Dinamarca e na Universidade de Lanus, na Argentina. Foi orientador em regime de co-tutela na Lyon 2, na França. Atualmente é professor e pesquisador Orientador de doutorado na REAMEC- Rede Amazônica Ensino de Ciência e Professor visitante Sênior da UNIFESSPA/Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará com atividades no PPGECM/ Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática Enquanto professor já esteve para cursos e/ou palestras em todos estados do Brasil e em alguns países.
Autor entre outros de A ciência através dos tempos (MODERNA, 1994; 28ª ed. 2018); Alfabetização científica: questões e desafios para a educação (EdUNIJUÍ, 2000; 8ªed. 2018); Educação conSciência (2003, 1ª ed. EdUNISC; 3ª ed, 2010). Para que(m) é útil o ensino? (1995; 4ªed, UNIJUÍ, 2018) A Ciência é masculina? (EdUNISINOS 2003, 9ªed, 2019); Sete escritos sobre Educação e Ciências (Cortez 2008); Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto (Editora Unijuí, 2012) e Das disciplinas à Indisciplina (Editora Appris, 2016). Mais detalhes em www.professorchassot.pro.br.