A Universidade Federal do Pará (UFPA) integra o grupo de 17 instituições brasileiras que participarão de estudo coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para teste de quatro tratamentos adicionais para a COVID-19. No Brasil, o estudo será coordenado pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (INI/Fiocruz). No Pará, a pesquisa será realizada no Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), sob a liderança da professora, pesquisadora e médica infectologista da UFPA Rita Medeiros.
O projeto tem como título: “Solidarity (Solidariedade, em Língua Portuguesa) – Um estudo internacional randomizado de tratamentos adicionais para a COVID-19 em pacientes hospitalizados recebendo o padrão local de tratamento”. O objetivo é avaliar os efeitos de quatro tipos de tratamentos adicionados aos protocolos desenvolvidos pelos hospitais das localidades participantes.
As medicações a serem testadas já são utilizadas para outras enfermidades. A expectativa é que os resultados auxiliem tanto pacientes acometidos pela COVID-19 quanto profissionais de saúde e grupos que possuem maior risco de serem infectados pelo coronavírus.
No Brasil, o estudo já foi aprovado pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa e será patrocinado pela Fiocruz, pelo Ministério da Saúde e pela OMS. Da região Norte, participam do estudo a equipe do HUJBB/UFPA, no Pará, e a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas.
A professora Rita Medeiros, coordenadora local da pesquisa no HUJBB, destaca a importância da participação do Hospital no estudo: “Ao integrarmos o estudo, teremos acesso aos medicamentos. Apesar de, no momento, não podermos afirmar a eficácia dessas medicações, estaremos na linha de frente na busca de soluções para os nossos pacientes. Além disso, será uma excelente oportunidade de formação para nossos alunos e médicos já atuantes na rede, inclusive para nós, pesquisadores”.
Já a professora Regina Feio Barroso, superintendente do Complexo Hospitalar Universitário da UFPA, enfatiza o papel da pesquisa na busca de soluções para questões sociais: “O Hospital Barros Barreto, sendo parte integrante do Sistema Único de Saúde, tem também a função social de produzir conhecimento científico e tecnológico para atender à população, com excelência. Por isso é importantíssimo que esse hospital universitário contribua nesse estudo inovador que pode salvar muitas vidas, assim como formar profissionais qualificados na luta contra a COVID-19”.
O reitor da UFPA, professor Emmanuel Zagury Tourinho, reforça o protagonismo da Instituição no combate à COVID-19 no Pará: “Mais uma vez, vemos a Universidade Federal do Pará trabalhando na fronteira do conhecimento, em uma pesquisa que interessa às populações de todos os continentes. É com esse trabalho científico de ponta que as universidades públicas brasileiras contribuem com a nação no dia a dia, às vezes sem o devido reconhecimento dos que deveriam apoiá-las. Está claro para todos os países que apenas a ciência pode nos dar as ferramentas de que precisamos para enfrentar esta pandemia, e a UFPA participa do esforço internacional nessa direção”.
Funcionamento e vantagens da pesquisa – O Solidarity é um estudo sem precedentes, que coletará dados rápidos durante a pandemia, em busca de soluções para a doença que vem desafiando pesquisadores de todo o mundo. Os protocolos propostos pela OMS são simples, permitindo a participação de diversas instituições e com máxima agilidade.
As universidades, os institutos de pesquisa e os hospitais participantes coletarão dados sobre o estado de saúde de pacientes de cinco grupos: (a) os que receberão apenas o tratamento local e (b) os que, além do protocolo local, receberão um de quatro tipos de medicação: (b.1) Remdesivir (usado para o tratamento de Ebola e outras viroses relacionadas); (b.2) Cloroquina ou Hidroxicloroquina (usada para o tratamento de Malária); (b.3) Lopinavir/Ritonavir (combinação usada para o tratamento de HIV); e (b.4) Lopinavir/ritonavir + Interferon (esta última substância usada para regular inflamações no corpo).
Apesar de outros medicamentos estarem em teste, esses quatro foram escolhidos pela OMS para o estudo por serem considerados os mais promissores. Eles existem no mercado e já há conhecimentos sobre seus usos prévios para outras doenças. Acredita-se que isso facilitará o acesso aos medicamentos, caso seja comprovada a eficácia de algum deles para o combate à COVID-19, pois já são produzidos pela indústria farmacêutica.
Com a coleta de dados com abrangência internacional, será possível traçar análises comparativas dos tratamentos e avaliar os efeitos das medicações em pessoas que faleceram em decorrência da COVID-19, considerando separadamente os quadros graves e não graves da doença. Além disso, serão avaliados todos os efeitos do tratamento ao longo da internação do paciente (do início do uso dos medicamentos de teste até a alta hospitalar), incluindo a necessidade de uso de ventilação ou terapia intensiva.
Perfil da amostra – A amostra da pesquisa é randomizada, ou seja, aleatória. Assim, poderá participar qualquer paciente com idade a partir de 18 anos que esteja internado nos hospitais integrantes do estudo com diagnóstico definitivo de COVID-19. Para a participação, será necessária apenas a assinatura de um termo de consentimento livre, a ser disponibilizado pela OMS. Não serão admitidos para o estudo pacientes que têm alergia ou contraindicação conhecida aos medicamentos em teste e/ou que tiverem transferência prevista para outro hospital fora do estudo nas 72 horas seguintes ao início do tratamento.
A previsão é que a pesquisa inicie nas primeiras semanas de abril. Estima-se que o número de participantes em todo o mundo será de 5.000 pacientes, sendo 1.200 no Brasil. Pesquisas semelhantes com os mesmos ou outros medicamentos também estão sendo conduzidas por outras redes de pesquisa. A OMS disponibiliza um banco de dados atualizado diariamente com publicações da comunidade científica internacional sobre a COVID-19.
Texto e arte: Divulgação UFPA Coronavírus