Pesquisadores do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da UFRGS desenvolveram um site em que é possível simular a progressão da Covid-19. O diferencial da ferramenta é permitir que o usuário ajuste os parâmetros – inclusive as intervenções que podem ser adotadas no combate à pandemia – e possa perceber a influência dessas variáveis no número de casos, por exemplo.
A coordenadora da equipe que criou o simulador é a professora do IME Gabriela Cybis. Ela conta que o grupo já estava trabalhando com a ideia de fazer projeções sobre o coronavírus, mas o resultado dessas simulações variava bastante dependendo dos parâmetros escolhidos. “Os modelos podem levar a combinações diferentes desses parâmetros, e a limitação que temos nos dados dificulta ainda mais as estimativas relativas à doença. Assim, uma das ideias do simulador é permitir que o usuário interaja com essas questões e entenda um pouco da complexidade e da incerteza associadas a essas projeções”, explica.
O simulador permite que o usuário escolha diferentes estratégias de intervenção e verifique o que cada uma delas influencia nas projeções. “O que aconteceria se tivéssemos uma vacina? O que aconteceria se escolhêssemos uma estratégia intermitente de tempos de restrição de contatos e tempos de normalidade?”, exemplifica Gabriela. Na ferramenta também é possível fazer a análise do curso da epidemia em um determinado local de interesse e entender como ela é diferente de outras regiões.
Como funciona o simulador
As projeções são feitas a partir do SEIR, um dos modelos mais simples usados para descrever a evolução de epidemias. O objetivo do grupo foi iniciar com esse modelo para facilitar a compreensão do público, mas os pesquisadores desejam incluir, em versões futuras, alterações que permitam acrescentar outros aspectos, como mortalidade.
A página conta com três abas. Na aba “Simulador”, o usuário pode alterar os parâmetros que governam o modelo teórico, como “Fração dos infectados detectados pelo sistema de saúde” e “Taxa reprodutiva básica”. Gabriela explica que, quando o usuário altera essas variáveis, os gráficos vão se atualizando e mostram a evolução da epidemia de acordo com suas escolhas, como, por exemplo, a quantidade de pessoas em cada status (suscetíveis, expostos, infectados e removidos). Nessa aba também é possível determinar diferentes medidas de intervenção e verificar seus efeitos sobre as curvas nos gráficos. Dessa forma, o usuário pode explorar e se familiarizar com o modelo e investigar os efeitos das intervenções escolhidas.
Na aba “Covid-19”, é possível ajustar os parâmetros do modelo ao número real de casos de Covid-19 registrados em Estados brasileiros ou em outros países. Assim, o usuário pode adaptar o modelo escolhido a diferentes realidades e verificar as projeções para cenários diversos. Na seção “Sobre”, estão disponíveis explicações sobre o modelo, como as definições de cada parâmetro e de cada intervenção possível.
Gabriela destaca a importância da iniciativa: “Permitir que o usuário interaja com essas variáveis possibilita uma compreensão maior do momento que estamos vivendo e do processo da epidemia”. “Isso pode ser interessante para o público em geral, mas também pode servir para ajudar a informar tomadores de decisão”, conclui.
O simulador está no ar desde a última quinta-feira, 16 de abril. Além de Gabriela, integram a equipe os professores do IME Diego Eckhard e Márcio Valk, o aluno de mestrado Felipe Pinheiro e a aluna da graduação em Estatística Mariana Garcia.