Processo é gerenciado pela CTIT; inovações envolvem reposicionamento de fármaco, produção de equipamento de proteção e metodologia de monitoramento de esgotos
O advento da Covid-19 gerou grave crise sanitária e econômica em escala mundial, exigindo respostas rápidas e eficazes da comunidade científica para enfrentá-la. No campo da inovação, três – dos dez – pedidos de patentes depositados pela UFMG durante a pandemia estão associados ao combate ao coronavírus: um equipamento de proteção individual para profissionais da saúde, reposicionamento de medicamento para tratar a doença e metodologia de monitoramento do esgoto para embasar decisões dos gestores públicos.
“Proteger esse ativo intangível é muito importante, e isso pode ser materializado em forma de patentes, marcas, know-how ou softwares, até serem transferidos à sociedade por meio dos contratos de licenciamento. Essa proteção resguarda a Universidade contra o uso não autorizado desses conhecimentos”, destaca o professor Gilberto Medeiros Ribeiro, diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), órgão responsável pelo processo de proteção intelectual da UFMG.
Essa onda de depósitos de pedidos de patentes, mesmo durante o período de suspensão das atividades presenciais, revela, na avaliação do professor Medeiros, “o empenho dos pesquisadores no enfrentamento da doença e contribui para que a UFMG se mantenha entre as instituições brasileiras que estão na liderança de patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI)”. A UFMG já depositou 1.093 pedidos e transferiu 106 tecnologias ao mercado.
Proteção, medicamento e gestão
O primeiro pedido depositado, no início de abril, atende a uma corrida por medicamentos para tratar pacientes de Covid-19. A tecnologia de reposicionamento do fármaco tetraclorodecaoxido (TCDO), também denominado WF10, foi desenvolvida pelos pesquisadores Marcos Augusto dos Santos e Carmelina Figueiredo Vieira Leite, do Instituto de Ciências Exatas (ICEx).
Com essa estratégia, os pesquisadores buscam ganhar tempo, ao explorar os efeitos colaterais de um medicamento já utilizado em humanos, por meio de cálculos computacionais. O TCDO é indicado para tratamentos de feridas de diabéticos, funcionando como bactericida.
Neste vídeo editado pela TV UFMG, Marcos dos Santos e Carmelina Vieira falam sobre a estratégia de reposicionamento do fármaco:
O protetor facial criado pelo professor Marcelo Silva Pinto, do Departamento de Tecnologia do Design, e pelo estudante Humberto Cardoso, do curso de Design, ambos vinculados à Escola de Arquitetura da UFMG, atende a uma das demandas básicas de proteção das equipes de saúde no mundo inteiro. Sua principal vantagem em relação aos modelos existentes no mercado reside no fato de possibilitar o encaixe de viseiras de vários tamanhos e espessuras.
A tecnologia, denominada Dispositivo de fixação para protetor facial, também está protegida por intermédio da CTIT, sob a forma de modelo de utilidade – um tipo de patente de invenção – e por meio de desenho industrial. O dispositivo é passível de transferência a empresas especializadas na produção de protetores faciais.
O projeto Monitoramento Covid Esgotos foi lançado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia ETEs Sustentáveis – sediado e coordenado na UFMG pelos professores Carlos Chernicharo e Juliana Calábria, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Faculdade de Engenharia –, pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).
Amostras das bacias dos ribeirões Arrudas e do Onça e das estações de tratamento de esgoto homônimas vão possibilitar aos pesquisadores inferir a quantidade de pessoas infectadas, por estimativa indireta, uma vez que mesmo pessoas assintomáticas apresentam o vírus nas fezes. Os dados serão cruzados com as informações das autoridades de saúde, obtidos com os testes clínicos, atuando de forma complementar. A pesquisa deve durar dez meses e contará com apoio da Secretaria de Saúde de Minas Gerais e da Copasa, empresa de saneamento no estado.
Nuances
Segundo Gilberto Medeiros, a CTIT segue na busca de gerar processos criteriosos, que passem pelo crivo do INPI e de outros órgãos internacionais que lidam com propriedade intelectual. “Os processos de proteção intelectual e seu subsequente licenciamento têm muitas nuances que apenas uma equipe treinada e com muita experiência pode resolver”, afirma o professor, acrescentando que não há na carreira dos técnicos administrativos em educação provisão para analista de propriedade intelectual e analista de contratos de transferência de tecnologia. Para contornar o obstáculo, a CTIT incentiva a formação de pessoal por meio de estágios voluntários e participação em programas de pós-graduação.
Durante a quarentena, a equipe da CTIT organizou-se para o trabalho remoto, mantendo a conectividade por meio da plataforma Discord. Ela permite que inúmeras discussões sejam conduzidas simultaneamente, o que vem contribuindo para o conhecimento mútuo sobre as atividades dos setores que compõem o órgão.
“Para a direção, é uma oportunidade de aproximação com toda a equipe, além de favorecer a excelência organizacional, uma vez que a plataforma reúne um histórico das questões e problemas pontuados. As respostas compartilhadas, aprofundadas e avaliadas pela ótica coletiva têm gerado engajamento, participação e formação”, observa o professor.
A equipe vale-se também de uma plataforma que possibilita a realização de lives, para apresentação de seminários e reuniões, como as que vêm ocorrendo às sextas-feiras, no formato all hands meeting, onde “todas as mãos se encontram”, em alusão ao estilo de gestão de empresas do Vale do Silício, como a HP, onde o professor Gilberto Medeiros atuou de 1996 a 1990 e, mais recentemente, de 2008 a 2012.
“Essas experiências estão possibilitando uma organização objetiva, aliada à priorização de demandas, com profundidade, rigor, transparência e clareza. Como o momento exige decisões rápidas, estamos fazendo muitos progressos em frentes que vão desde a definição de como a CTIT se constitui como órgão da UFMG e do seu papel de apoio e execução da política de inovação até a catalisação do enorme potencial de nossos pesquisadores, que, de fato, são aqueles que levam o conhecimento do laboratório para a sociedade”, conclui Gilberto Medeiros.
[Esta é a oitava matéria da série sobre as ações desenvolvidas por pró-reitorias e diretorias em meio à suspensão das atividades presenciais provocada pela pandemia do coronavírus. Nos próximos dias, serão focalizadas as diretorias de Ação Cultural e de Relações Internacionais e a Pró-reitoria de Recursos Humanos. Já foram publicados relatos sobre as atividades das pró-reitorias de Pesquisa, Pós-graduação, Extensão, Assuntos Estudantis, Graduação, Planejamento e Administração.]