As autoridades de saúde fazem uma série de recomendações de proteção, e a imprensa divulga constantemente informações sobre cuidados e prevenção ao novo coronavírus. Mas para cerca de 9,7 milhões de brasileiros, o que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) correspondem aos sujeitos surdos ou com baixa audição, a dificuldade vai além de tentar se proteger contra o vírus. Há ainda ainda outra barreira pela frente: o acesso à informação. Segundo a professora Pâmela Matos, que é surda, e vice-coordenadora do curso de Letras/Libras da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) muitas informações não são acessíveis, o que dificulta o entendimento sobre precauções, prevenção e cuidados sobre o coronavírus.
“Muitas pessoas sabem que a falta de acessibilidade, de modo geral, acompanha o dia a dia dos surdos, seja onde for, e nessa pandemia não é diferente. Estamos em quarentena e mesmo assim, muitos de nós, surdos, nos sentimos lesados pela ausência da acessibilidade, principalmente no que diz respeito ao coronavirus. A falta de acessibilidade acontece até no uso de proteção pessoal, como por exemplo, no uso das máscaras. Alguns surdos bilíngues são adeptos a leitura labial, enquanto que outros monolíngues ficaram prejudicados nesta pandemia devido à falta de acessibilidade nas mídias e tvs, que só contam com legendas ou textos em português, e, se não fosse pelo apoio de seus pares surdos, que são bilíngues, e das associações de surdos, estaríamos em uma condição muito mais delicada”, diz a professora.
De acordo com Pâmela Matos, a dificuldade está desde o acesso à matérias exibidas na televisão, até consultas e atendimentos médicos. “No meu caso, como sou bilíngue, busco entender os fatos através dos noticiários com a ajuda legendas e da internet. Algumas vezes peço ajuda da família. É assim que eu e outros pares surdos vamos vivendo”, diz.
Seminário
Esse é um dos assuntos que serão debatidos durante “I Seminário do Amalibras: Língua, acessibilidade educação e Diversidade Surda”, e que será realizado de 25 a 29 de maio. O objetivo é discutir a difusão da Libras em nossa sociedade e os processos para torná-la mais acessível para os sujeitos surdos e ouvintes, respeitando e valorizando a cultura e a comunidade surda.
O evento ocorre de forma online, sempre das 14h30 às 18h, na página do programa AmaLibras no facebook: www.facebook/amalibrasufra. Quem quiser participar pode se inscrever acessando o Sigaa/UFRA ou diretamente no link https://linktr.ee/amalibras . As inscrições garantem certificado, mas quem não conseguir, pode acompanhar normalmente pela página no facebook. Todas as informações sobre o evento, em Libras, estão disponíveis tanto na página do facebook quanto no perfil @amalibrasufra no instagram.
Ao todo, dez palestrantes se dividirão entre os cinco dias do evento, e vão discutir temas como: pedagogia surda; dificuldade de tradução e interpretação frente à pandemia; o surdo no dia a dia; o surdo como influenciador digital; a contextualização e a função das gírias em Libras; conversa com o autor sobre a obra “Sinais do Pará: a regionalidade em nossas mãos”; o perfil do professor para atuar em uma escola bilíngue para surdos; religião e educação de surdos: desafios e métodos; processo de formação de sinais em Libras; e O papel da Feneis frente à luta da comunidade surda brasileira.
Segundo a professora Pâmela Matos, coordenadora do programa Amalibras, o seminário vai permitir principalmente a interação e a oportunidade de proporcionar ao público o acesso à informações sobre Libras e sobre o sujeito surdo e seus diversos contextos sociais. “Somos um programa que tem como objetivo difundir a Libras e os processos para torná-la mais acessível para os sujeitos surdos e ouvintes, tanto que decidimos, devido a pandemia, realizar os cursos de Libras Online e o Seminário com excelentes profissionais da área”, afirma. Para contribuir na acessibilidade do seminário, o evento tem o apoio de quatro tradutores e intérpretes de Língua de Sinais: Etiene Vaz (UFRA); Wallace Queiroz (UFRA); Gabriel Lucena (UFPA) e Denise Martinelli (Astilp).
O AmaLibras é um programa de extensão da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), vinculado ao Núcleo Amazônico de Acessibilidade, Inclusão e Tecnologia (Acessar/UFRA). O programa tem como objetivo difundir a Língua Brasileira de Sinais e o português como segunda língua dos surdos, e realiza várias ações que incluem tanto a comunidade ouvinte, quanto a comunidade surda. O AmaLibras veio para contribuir, identificar e minimizar as barreiras de acesso impostas aos indivíduos surdos, em sintonia com o Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005. O decreto indica formas de apoio ao uso e a difusão da Libras nos sistemas públicos e privados de ensino, visando contribuir para a inclusão socioeducacional de estudantes e profissionais surdos.
Programação do seminário:
Dia 25/05/2020
13h45-14h00 Abertura / Mesa redonda
14h30- Palestra – Profa. Darlene Seabra – UFOPA – “O perfil do professor para atuar em uma escola bilíngue para surdos”
15h30-Palestra – Ms. Silvio Santiago – IEPA – “Religião e educação de surdos: desafios e métodos”
16h00- Tira dúvidas
Dia 26/05/2020
15h00-15h40 – Palestra – Prof Ms. Walber Abreu – UFRA – “Processo de formação de sinais em Libras”
15h50-16h30 – Palestra – Antônio Campos – FENEIS – “O papel da Feneis frente à luta da comunidade surda brasileira”.
16h45- 17h30 – Tira dúvidas
Dia 27/05/2020
15h00-15h40 – Palestra – Prof Ms. Isaack Saymon -UFRN – “A contextualização e a função das gírias em Libras”
15h50-16h30 – Palestra – Prof. José Ribamar – “A obra Sinais do Pará: a regionalidade em nossas mãos”
16h45-17h30 – Tira dúvidas
Dia 28/05/2020
15h00-15h40 – Palestra – Prof Dr. Flaviane Reis -UFU – “Pedagogia surda”
15h50-16h30 – Palestra – Prof. Esp. Abymael Pereira -UNIFAP – “Dificuldade de tradução e interpretação frente à pandemia”
16h45-17h30 – Tira dúvidas
Dia 29/05/2020
15h00-15h40 – Palestra – Prof Esp.Sueli Ramalho – “O surdo no dia-a-dia”
15h50-16h30 – Palestra – Gabriel Isaac – “O surdo como influencer digital”
16h45-17h45 – Tira dúvidas / Atração cultural
Texto: Vanessa Monteiro, jornalista, Ascom UFRA
Imagem: divulgação do evento