O momento na saúde pública, com a disseminação da Covid-19, é delicado. Desde que foi identificado o poder de disseminação do coronavírus e a gravidade da evolução da doença em alguns indivíduos, várias transformações ocorreram no modo de relacionamento entre as pessoas, no trabalho, na locomoção, na higiene. Essa transformação veio acompanhada por inevitáveis sensações de medo e ansiedade que, em certa medida, são naturais e compreensíveis em virtude da situação desconhecida, que leva a vulnerabilidades e incertezas.
“É importante ter em mente que estamos vivendo um momento de crise e que, apesar de ser um momento difícil, ele não é infinito e vai passar. Diante do inevitável, faz-se necessário encarar o medo e buscar ressignificar as vivências, por meio do cuidar de si. O grande desafio de tempos difíceis é encontrar uma forma de viver reconhecendo a angústia e lidando com ela, sem ignorá-la ou deixar que ela nos domine”, explica a psicóloga Luciana Norat Coelho, que atua na Coordenadoria de Apoio Psicossocial no Trabalho, da Diretoria de Saúde e Qualidade de Vida da Progep.
Bem-estar emocional – É importante que todos saibam que não há certo ou errado quando pensamos em como um indivíduo pode ou deve lidar com uma situação de angústia. As subjetividades são singulares e os sujeitos são diferentes entre si. Por esses motivos, é importante que cada um exercite o autoconhecimento e a introspecção a fim de refletir acerca de qual ação e postura são mais compatíveis com a sua personalidade e estilo.
“Realizar atividades de que goste ou aprender novas habilidades pode ser importante iniciativa. Seria buscar por atividades que não sejam exatamente produtivas, mas sim restaurativas. Atividades culturais, por exemplo, trazem entretenimento e diversidade de assuntos e podem aliviar a carga imposta pelo isolamento. Desligue um pouco o celular e a televisão e realize alguma atividade que possa usufruir do tempo de maneira proveitosa, como ler um livro, ouvir boas músicas, assistir a filmes, desenhar, organizar a casa, experimentar uma nova receita ou descobrir uma nova habilidade. Existem ainda iniciativas on-line disponibilizadas, temporariamente, de forma gratuita, como cursos, a possibilidade de se visitar virtualmente museus por meio do Google Arts and Culture, entre outras oportunidades”, lembra a psicóloga.
Mas, apesar da grande oferta de atividades que podem ser feitas diariamente de acordo com as subjetividades de cada indivíduo, é importante ficar atento para que essa variedade de opções não acabe se tornando uma cobrança por superprodutividade neste momento. A ideia de se iniciar várias tarefas, fazer todos os cursos da sua área de interesse, ler todos os livros que não leu pode se tornar um convite à frustração e levar ainda ao desencadeamento de mais ansiedade.
“Talvez, para algumas pessoas, ser “superprodutivo” funcione e dê uma sensação de foco e controle frente às incertezas que estão sendo vivenciadas, mas isso não é uma regra para todos. É importante entender que uma possível dificuldade em se concentrar e produzir neste momento não é uma falha, e não se cobrar nem se culpabilizar por isso. Não estamos vivenciando uma continuação do que acontecia antes e não necessariamente vamos manter o mesmo ritmo. É importante não buscar um ideal de superprodutividade, que talvez não seja possível neste momento”, ressalta Luciana Norat.
Solidão e excesso de informações – A imposição do isolamento social como uma forma de prevenção ao contágio do coronavirus e o excesso de informações – não positivas – relacionadas ao tema têm sido dois fatores também capazes de afetar a saúde emocional de todos.
“Os meios de comunicação possibilitam o acesso a esclarecimentos e têm importância fundamental neste cenário. É importante que se tenha acesso regulares a canais confiáveis de informação . Porém convém moderação na busca por novas informações. É natural que se tente contornar a ansiedade buscando constantemente novas notícias sobre a situação, mas esse hábito pode se tornar prejudicial e provocar um aumento na ansiedade, pois o turbilhão de informações pode levar a um estado mental de constante alerta, dificultando o relaxamento e a capacidade de discernimento. Uma sugestão é escolher um ou dois telejornais e não passar o dia todo nas redes sociais”, pontua a psicóloga.
Em relação às formas de diminuir os efeitos negativos do isolamento social, recursos eletrônicos como chamadas por vídeo e até as conhecidas ligações telefônicas são ótimas opções para que as pessoas possam manter um relacionamento próximo com familiares e amigos, uma vez que se estabelece um senso de conexão. Neste sentido, é imprescindível que se dê uma atenção maior aos idosos.
“Os idosos devem receber especial atenção, uma vez que sintomas associados a episódios depressivos são frequentes na terceira idade, e o isolamento pode agravar o quadro. Evitar visita aos idosos não significa isolá-los, é importante a comunicação e constante interação com este grupo”.
Acompanhamento profissional – Ainda que todos esses cuidados sejam tomados, tem sido frequente a necessidade de auxílio profissional por pessoas de diferentes idades, em todo o mundo, o que fez, inclusive, com que o Conselho Federal de Psicologia (CFP) passasse a autorizar a realização de consultas on-line por profissionais da Psicologia, sem a necessidade de prévio cadastro destes.
“Se a angústia aumentar muito e o trabalho subjetivo e as estratégias de cuidar de si ainda assim se mostrarem insuficientes e ocorrer uma mobilização muito intensa, é importante considerar a procura por ajuda profissional. Nem todo sofrimento requer tratamento, mas um sofrimento não reconhecido ou negado pode evoluir para algo mais prejudicial”.
Em caso de dificuldade na busca por profissional que realize o atendimento, o CFP disponibiliza contatos de psicólogos cadastrados e autorizados aqui. Atendimentos on-line por psiquiatras também são permitidos pelo Conselho Federal de Medicina.
Servidores da UFPA e seus familiares podem buscar apoio e orientações psicossociais na Coordenadoria de Apoio Psicossocial no Trabalho (CAPT), por meio do Sagitta ou através do e-mail caps@ufpa.br.
Texto e arte: Assessoria Progep