A UFGD possui uma identidade própria. Sua localização geográfica fronteiriça, com predisposição à grande circulação de pessoas advindas de regiões e países vizinhos, bem como sua política de educação inclusiva, com ensinos diferenciados para comunidades indígenas e assentamentos rurais – muitas delas com acesso precário de Internet ou sem disponibilidade de instrumentos tecnológicos para o ensino remoto – são características que denotam sua singularidade diante das demais instituições do país.
No início da pandemia, em meados de março, a Universidade manteve seu calendário acadêmico com a proposição de aulas através de sistema remoto, no entanto, a posteriori decidiu pela suspensão das atividades. Esta decisão se deu a partir de uma leitura realizada dentro da instituição, que considerou as fragilidades existentes e partiu da premissa que o trabalho deveria contemplar as necessidades específicas de toda a comunidade da UFGD e não somente de um grupo.
A universidade, desde aquele momento vem sendo pautada por documentos orientadores do Ministério da Educação (MEC) e deliberações do município e do estado. Em concomitância, realizou diversas ações:
– Inicialmente, a Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (PROGRAD) buscou dar orientações no sentido das especificidades do trabalho remoto, uma vez que o mesmo não pode ser considerado apenas como Educação à Distância. Além desta modalidade há outras opções, como as Tecnologias da Educação e Informação (TICs) e o Regime Acadêmico Especial, que trabalha com estudos dirigidos, no qual o professor sistematiza suas disciplinas sem utilizar a Internet, para evitar a exclusão digital. Todas estas possibilidades, muito embora apresentem ganhos significativos para o ensino e aprendizado, exigem adequações.
– Para dar condições de atuação em sistema remoto, a PROGRAD disponibilizou ao corpo docente uma série de cursos, instrumentalizando-os acerca das ferramentas virtuais.
– Através da análise do cenário e do momento que atravessamos no estado do Mato Grosso do Sul, as pró-reitorias e unidades acadêmicas estão elaborando plano de ação de acordo com a disseminação da COVID-19, com orientações à comunidade acadêmica para serem seguidas durante e pós-pandemia. – Como forma de evitar a exclusão digital e a evasão de alunos pelas limitações tecnológicas, a UFGD estuda a possibilidade de aquisição de equipamentos e pacotes de dados de Internet para serem disponibilizados aos alunos.
– As Pró-Reitorias realizaram uma pesquisa (questionário) junto à comunidade acadêmica visando conhecer as especificidades dos docentes, discentes e técnicos. Este estudo foi minuciosamente analisado com cruzamento de dados e será primordial para subsidiar as próximas ações da Universidade.
Resultados da pesquisa
A pesquisa teve participação relevante da comunidade acadêmica com alto grau de confiabilidade e pequena margem de erro. A amostragem seguiu o modelo estatístico proposto por Moore, D. S. and McCabe G. P. (1999) e foi composta por 4.260 discentes que representam 56,23% do quantitativo de 7.576 estudantes, (com margem de erro de 1% para mais ou menos e 95% de índice de confiabilidade). Dos 595 docentes em exercício, 328 responderam representando 55,13% do total (com 95% confiabilidade e margem de erro de 3,63% para mais ou menos), e dos 584 técnicos administrativos da UFGD (sem contabilizar os que estão lotados no HU-UFGD), 282 responderam, representando 48,29% do total (com 95% de confiabilidade e margem de erro 4,20% para mais ou menos).
Após a consulta observou-se que dentre o grupo dos docentes, 47,56% possuem condições de desenvolver atividades remotas; 48,48% consideram ter condições parciais; e apenas (3,96%) revelam não ter condições, sendo apontada como maior dificuldade, os cuidados familiares (filhos e/ou dependentes no grupo de risco).
A internet não foi apontada pelos docentes como empecilho, visto que todos a possuem em suas residências, porém um grupo (15%) a classificou como ruim ou muito ruim. Entre as principais dificuldades para realizar o teletrabalho, os docentes apontaram: necessidade de interação com os alunos para desenvolver o conteúdo e falta de formação sobre como usar ambientes virtuais de aprendizagem e ferramentas de ensino a distância.
Quando questionados sobre o uso de ferramentas de ensino online em condições normais de rotina universitária, 34,45% apontou não utilizar nenhum tipo de ferramenta dessa natureza, no entanto, dentre o grupo participante da pesquisa 77,13% consideram possuir condições de lecionar para cursos de graduação com ferramentas de ensino online. Apesar desta alta porcentagem, a maioria dos docentes (59,15%) alerta que nem todos os alunos terão condições de acessar os conteúdos disponibilizados por meio digital.
Assim, compreende-se que os docentes participantes da pesquisa demonstram disposição para se adequar a realidade do ensino remoto mesmo diante de dificuldades, porém demonstram preocupação com o aluno e seu acesso para acompanhar as atividades.
Na pesquisa aos discentes, quando questionados sobre o local de residência durante a pandemia, 49,5% responderam que residem em Dourados; 36,4% em outros municípios do MS; 13,7% em outros Estados; e 0,2% em outro país. Como perfil majoritário, os alunos participantes da pesquisa não têm filhos (94,1%) e não trabalham (74,6%). Sobre a faixa de renda familiar, 32,6% indicaram até 1,5 salários mínimos; 34,41% entre 1,5 e 3 salários mínimos, o que demonstra que a maioria dos alunos que responderam o questionário pertence às classes economicamente menos favorecidas.
Em relação às condições para aulas remotas, 73,3% indicam que sua residência possui condições adequadas para participação e apenas 3,1% dos respondentes indicou não ter acesso à internet em casa. Nesse sentido, 78,5% consideram que têm condições de manter o pagamento de serviços de internet para realizar atividades remotas e 21,4% não conseguirão.
Entre os respondentes, 83,1% indicaram ter smartfone; 67,7% notebook; 17,1% computador de mesa; 3,1% tablet e 1,2% indicaram não ter nenhum equipamento. Considerando estes equipamentos, 86,5% consideram ter capacidade de download de materiais, e 13,4% consideram não ter capacidade.
Entre as principais dificuldades apontadas pelos discentes para participar de aulas remotas estão: necessidade de interação com os docentes para esclarecer dúvidas (63,2%); condições emocionais (32,9%); conhecimento limitado sobre como usar a Plataforma online de aprendizagem (25,2%); falta de equipamento adequado (24,5%).
Refletindo sobre os dados apresentados do grupo de discentes, percebe-se que a grande maioria tem condição de ter acesso às aulas remotas, via e-mail, whatsapp, plataformas digitais etc. Porém, a principal preocupação da UFGD diz respeito ao grupo de alunos que: não terá condições de acesso, por não possuir internet ou computador; não se encontra em um ambiente familiar tranquilo; não tem condições emocionais, entre outros elencado na pesquisa.
Avaliação e Conclusão
A partir do contexto já avaliado e os subsídios de dados da consulta, concluiu-se que apesar da existência de fragilidades, estas são passíveis de superação, o que aponta para a viabilidade de realização do ensino em formato remoto. A Administração Central, as Pró-Reitorias de Graduação e Pós-Graduação, bem como as Unidades Acadêmicas, estão sistematizando ações que atenderão as especificidades da UFGD, respeitando as etapas de um bom planejamento pedagógico e administrativo da vida acadêmica.
Em síntese, a perspectiva para o retorno remoto é bastante viável e a Universidade trabalha dentro de uma organização coletiva com os diversos setores, para iniciá-lo o quanto antes. Para a Administração é fundamental que a Universidade enfrente os desafios decorrentes de suas especificidades, tendo o máximo de cuidado e resguardo com a saúde da comunidade. A UFGD é uma universidade jovem e, sendo assim, possui algumas fragilidades que outras universidades já superaram pelo tempo de existência, no entanto é preciso que ela tenha sua identidade valorizada e respeitada com todas as suas singularidades.
ADMINISTRAÇÃO UFGD