Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão apreciou minuta de texto sobre a volta das atividades de ensino. Reuniões do grupo passam a ser semanais
Em reunião do Cepe ocorrida na última quinta-feira (2), foram feitas apresentações de estudos da administração superior e do Comitê de Coordenação e Acompanhamento das Ações de Recuperação (Ccar). Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB
O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) discutiu, em reunião na última quinta-feira (2), a minuta de resolução sobre o retorno das atividades de ensino. O texto já incorpora sugestões feitas em junho pelas unidades acadêmicas e, agora, está novamente sob consulta nos institutos e faculdades, por meio dos representantes do colegiado. Na reunião, também foram feitas apresentações de estudos da administração superior e do Comitê de Coordenação e Acompanhamento das Ações de Recuperação (CCAR) – instância criada na Universidade de Brasília para planejar a retomada. Uma delas trouxe os resultados preliminares da pesquisa social realizada junto à comunidade acadêmica.
“Gostaria de começar deixando claro que não vamos deliberar sobre o retorno hoje”, esclareceu o vice-reitor, Enrique Huelva, no início da reunião. “Outro ponto é que, a julgar pelas avaliações técnicas e epidemiológicas disponíveis, a Universidade de Brasília não pretende voltar às atividades presenciais este ano – o que não quer dizer que estamos parados”, acrescentou.
A minuta apresentada aos conselheiros institui o plano de retomada das atividades acadêmicas, dividido em cinco fases: uma delas totalmente remota e outras parcialmente remotas e presenciais. “Gostaria de frisar que nenhum dos institutos e faculdades se colocou contrário à proposta de realizarmos atividades a distância neste contexto tão excepcional que nos encontramos, de uma pandemia”, destacou o vice-reitor.
A proposta lida no Cepe considerou as quase 200 contribuições feitas pelas unidades na consulta conduzida pelo Ccar. “Observamos uma preocupação muito grande com a inclusão dos estudantes, em especial com o acesso a equipamentos e à internet”, disse o decano de Ensino de Graduação, Sérgio Freitas, que apresentou uma compilação das sugestões e das medidas tomadas pela administração para equalizá-las.
CAMINHO – “Na nossa atual situação, há três opções: ou voltamos presencialmente, ou não voltamos de maneira nenhuma, ou voltamos remotamente. Como as duas primeiras não fazem sentido, vamos ter que nos adaptar para realizar a última”, observou o vice-diretor da Faculdade de Tecnologia, Alexandre Romariz. “Temos ainda muitas questões para discutir, mas percebo que a minuta respeita a diversidade da UnB e dá autonomia para que as unidades se adaptem, considerando suas realidades”, acrescentou o coordenador do curso de Licenciatura em Educação do Campo, Nathan Carvalho Pinheiro.
“É uma primeira minuta, mas que, além de incorporar as ponderações enviadas pelas unidades acadêmicas, também se baseou em normas de outras instituições de ensino”, disse o vice-reitor. O assunto vai voltar à pauta do do colegiado na próxima reunião, pré-agendada para quinta-feira (9), às 14h30.
RAIO X – Durante a reunião, o professor Lúcio Rennó, coordenador do subcomitê de Pesquisa Social do Ccar, apresentou os resultados preliminares do levantamento realizado junto à comunidade acadêmica, que trouxe dados inéditos sobre o perfil de integrantes dos três segmentos da Universidade. A participação, segundo os especialistas do subcomitê, foi excelente e permite fazer projeções bastante realistas: 50% dos estudantes de graduação, 20,2% dos estudantes de pós-graduação, 77,7% dos docentes e 40,6% dos técnicos.
“Essas taxas são muito boas para pesquisas realizadas por meio de questionários on-line. Os dados são muito ricos, com uma representatividade muito significativa da UnB”, avaliou o professor. O levantamento, ainda em análise, apontou que 6% dos estudantes precisarão de apoio com equipamentos (computador ou tablet) e 30%, para o acesso à internet de melhor qualidade.
A pesquisa também possibilita fazer recortes por campi e unidade acadêmica, o que permitirá à UnB fazer adaptações mais adequadas à realidade de cada instituto ou faculdade. Por exemplo, os números mostram que o campus de Planaltina é o que tem mais estudantes (entre os respondentes) sem acesso a computador (21,91%). A título de comparação, nos campi da Asa Norte e de Ceilândia, esse índice fica em cerca de 6%.
Os dados preliminares revelaram, ainda, que a maioria dos discentes é usuária de transporte público e dependente do Sistema Único de Saúde. Boa parte também vive com pessoas do grupo de risco para a covid-19. “Interessante notar como o perfil dos estudantes mudou. Antigamente, quando havia greve de ônibus, por exemplo, isso não era sentido na UnB. Já hoje é o contrário”, comentou a professora Kênia Mara Baiocchi, representante da Faculdade de Ciências da Saúde.
AMPLIAÇÃO – Muitos conselheiros questionaram o fato de metade dos estudantes não terem respondido à pesquisa. Entretanto, a amostra é satisfatória para esse tipo de levantamento. “É um resultado extraordinário termos a metade da comunidade discente e quase 80% dos docentes participando. É algo inédito inclusive se analisarmos pesquisas semelhantes que vêm sendo realizadas por outras instituições de ensino”, apontou o vice-reitor Enrique Huelva.
Ainda assim, a equipe responsável vai, agora, utilizar dados de sistemas da UnB para buscar compreender o perfil dos não respondentes. “A análise que fizemos até agora mostra uma boa distribuição da amostra pelas unidades acadêmicas. Nossa expectativa é concluir o relatório até o final da próxima semana”, disse o professor Lúcio.
O decano de Assuntos Comunitários, Ileno Izídio da Costa, falou sobre o preparo da instituição para fornecer equipamentos e acesso à internet a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica. “O MEC [Ministério da Educação] deve lançar termo de referência na próxima semana, para a questão da conectividade. Em relação aos equipamentos, estamos lendo editais de outras universidades e analisando os recursos disponíveis para atingir o máximo de estudantes que pudermos. Uma das propostas mais viáveis é a de empréstimos de máquinas, pelo tempo em que durar a excepcionalidade do semestre”, afirmou.
O representante discente André Doz demonstrou preocupação com os recursos da assistência estudantil. “Essa é uma questão extremamente complexa, que deve ser formulada com amplo debate. A verba utilizada para a eventual compra de equipamentos sairia do Pnaes [Programa Nacional de Assistência Estudantil]? Isso não afetaria os próximos semestres para os alunos que dependem da assistência?”, questionou. O decano Ileno garantiu que o trabalho vem sendo feito de maneira muito cautelosa, “para não prejudicar os que já recebem bolsas”.
Outro assunto trazido para debate foi a formação de docentes para o uso de novas tecnologias de ensino e aprendizagem. “Já temos 2.600 professores cadastrados no novo ambiente do Moodle e, até ontem, 450 áreas haviam sido criadas”, enumerou a diretora do Centro de Educação a Distância (Cead/UnB), Letícia Lopes Leite. Desde o mês passado, cerca de 720 docentes fizeram a oficina Moodle (superando a expectativa inicial da administração, de 600 professores) e uma nova turma deve ter início em 20 de julho.