Atento às dificuldades que os estudantes estão enfrentando para estudar na quarentena, Álisson Martins, quando comprou um notebook novo para trabalhar, não pensou duas vezes no que faria com o computador antigo. “Eu decidi colocar para doação na minha própria rede social e vi que muita gente procurou”, conta o bacharel em Relações Internacionais pela UFRGS.
A procura foi tanta que ele quis ir além e multiplicar boas ações. Trocando suas inquietações com a amiga Manuella Treis, doutoranda em Políticas Públicas na Universidade, surgiu a ideia de criar um projeto. “A gente pensou: ‘Deve ter mais gente com computador antigo em casa que poderia doar’”, lembra Álisson.
E desse pensamento nasceu a Plug Doações, uma plataforma totalmente digital que conecta pessoas que querem doar seus computadores, notebooks ou tablets antigos a estudantes carentes que precisam estudar de maneira remota, mas não contam com equipamentos adequados.
O início da rede de conexões
Ao dar partida ao projeto, Álisson e Manuella constataram que, de fato, havia muitas pessoas em suas redes de contato que podiam colaborar.
“Na primeira semana tínhamos em torno de dez doações. Depois a gente foi crescendo muito rápido, o que foi muito gratificante.”
Álisson Martins
O projeto começou no dia 15 de março deste ano e, de acordo com Manuella, foi pensado justamente para o contexto atual dos estudantes que não dispõem de aparelhos eletrônicos para acompanhar as aulas em casa ou se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Para facilitar o encontro entre doadores e estudantes, a plataforma dispõe de um filtro por localização e prioridade. No topo da lista estão estudantes que vão fazer o ENEM ou algum vestibular, depois alunos dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio e, por fim, graduandos e pós-graduandos. “Geralmente, o pessoal chega ao nosso Instagram, que é a nossa fonte principal. Dentro da rede, a gente criou um direcionamento para os nossos formulários, por meio do qual tanto estudante quanto doador preenchem para entrar no cadastro”, explica Manuella.
Assim que o formulário é preenchido, os dois amigos começam a filtrar as informações obtidas em cada cadastro para mediar o encontro entre um doador e um estudante próximo. “A gente contata a pessoa, confirma se a doação está de pé e se já pode ser encaminhada a um estudante ou se precisa ir para a técnica, por exemplo. Após a confirmação, vamos em nosso banco de dados de estudantes e selecionamos por prioridade e localidade. Depois, os dois combinam a melhor forma de a doação acontecer”, exemplifica a jovem.
As conexões feitas em diversos estados brasileiros
Para muito além de Novo Hamburgo, cidade onde os criadores da Plug Doações residem, a plataforma tem um alcance nacional. De acordo com Manuella, já são mais de 160 doações em 13 estados.
Ellana Rebeca Santos, moradora de São Paulo, capital, conta feliz que agora tem um computador para se preparar para o ENEM.
“Antes dessa doação, eu não tinha nenhum outro computador ou notebook. Estava estudando pelo celular e não tenho um canto próprio para estudos, então estudava na mesa da cozinha mesmo. É desconfortável estudar pelo celular; muitos sites de estudo não têm plataforma em versão móbile, além de ter que ficar com a cabeça abaixada para ler e ver videoaula.”
Ellana Rebeca Santos
A jovem confessa que quando se inscreveu não tinha muitas expectativas de receber um computador. “Cerca de duas a três semanas depois, a criadora da Plug me mandou uma mensagem. Foi uma explosão de felicidade”, lembra.
Já Felipe Cardoso está se preparando para fazer novamente o vestibular da UFRGS. “Tem um notebook aqui em casa, mas é do meu irmão. Ele faz estágio – está em home office – e também tem aulas remotas. Fica inviável eu usar o computador dele”, conta. O canoense lembra que duas semanas após a inscrição já estava em contato com o doador.
“Quando eu me inscrevi, pensei em duas coisas: a primeira é que vou fazer o vestibular novamente por uma questão de insegurança – eu passei para o segundo semestre de Relações Públicas na UFRGS, mas estou com medo de ter problemas com a documentação. E mesmo que eu não faça o vestibular, vou precisar para as aulas na Universidade se for aprovado o Ensino Remoto Emergencial. Ia ser difícil, eu teria que ver no meu celular, mas ele tranca bastante”.
Felipe Cardoso
Em busca de parcerias
A Plug Doações não tem nenhuma parceria com grandes corporações de tecnologia, mas existem doações pontuais de empresas. “Nós estamos sempre buscando parceiros: uma empresa de eventos nos procurou para fazer uma doação de vários computadores”, relata Álisson.
A ação foi realizada pela BCS Eventos, empresa especializada em serviços e produtos para a realização de eventos. “No trabalho com evento utilizamos computadores no credenciamento, e estes precisam ser atualizados. Estávamos com um lote que não atendia mais a nossa necessidade, mas em ótimas condições de uso, então tive a ideia de doar”, conta o proprietário da empresa, Edson Luis Lamb.
Texto: Karoline Costa / JU.
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