Desde o início da pandemia causada pelo novo Coronavírus, a Andifes designou especialistas que compõem seus fóruns e colégios assessores para elaborarem um documento responsável por estruturar propostas para biossegurança, contingências, meios pedagógicos e infraestruturas para as atividades de ensino, pesquisa e extensão, decorrentes da pandemia. A associação designou a Comissão de Desenvolvimento Acadêmico, Educação à Distância e Avaliação como responsável pela elaboração do relatório a ser apresentado à sociedade e ao Congresso Nacional.
Em entrevista ao portal da Andifes, a presidente da comissão, reitora Joana Angélica (UFSB), afirmou que, apesar da desigualdade presente em nossa sociedade, explicitada pela pandemia, as universidades seguem firmes no enfrentamento dessa situação. Confira a íntegra da entrevista:
Como está sendo a dinâmica de trabalhos para produção do relatório?
O relatório está sendo feito com a participação das universidades através dos documentos produzidos pelas mesmas, através das pesquisas que estão sendo desenvolvidas nas nossas IFES, bem como pesquisas desenvolvidas a nível mundial. A principal função da comissão é sistematizar e consolidar todas as contribuições que estão sendo produzidas.
Quais foram os maiores desafios para retomada das atividades nas universidades encontrados pela comissão?
São vários os desafios. A situação de vulnerabilidade de uma parcela significativa dos estudantes; as condições de acesso à banda em algumas regiões, onde não há disponibilidade de oferta de serviços de internet; a resistência de uma parcela dos docentes em função do risco de precarização do ensino e da carreira docente; a necessidade de capacitação dos docentes que não possuem familiaridade com ambiente remoto para fins de ensino aprendizagem, entre outros.
Esses desafios mudam entre as regiões onde as universidades estão inseridas?
Sem dúvida, há locais em que a infraestrutura de rede de dados é bastante precária e mesmo se disponibilizando chips ou equipamentos para acesso não há disponibilidade técnica.
Como as universidades estão se adaptando a essa nova realidade?
Tem sido um enorme desafio, mas as instituições estão se adaptando através de cursos de capacitação para os docentes e técnicos e por meio da disponibilização de equipamentos e internet para os estudantes em situação de vulnerabilidade. Para dar conta disso, torna-se necessário um aporte de recursos nos orçamentos das instituições, uma vez que já há um déficit orçamentário para lidar com as obrigações já existentes nas instituições independente da pandemia.
Há previsão de novos aportes orçamentários visando minimizar os efeitos da pandemia no ensino superior público?
A principal função do relatório é trazer um panorama da situação das IFES nesse momento de pandemia, avaliando as necessidades para vencer os diversos desafios que se apresentam. Dessa forma esse documento será um importante elemento para busca de recursos junto ao Governo Federal. Sabemos que um aporte orçamentário será essencial para que possamos dar conta de todas as dimensões colocadas no relatório, sem isso será muito difícil atender todas as demandas identificadas e sugeridas no documento.
Quais são as especialidades dos profissionais envolvidos na produção do relatório?
A produção do relatório está sendo feita com a participação dos colégios e fóruns os quais buscam dentro das suas respectivas universidades contribuições de especialistas que estão debruçados nas questões presentes no relatório. Em cada um dos itens previstos na resolução temos buscado contribuições de especialistas que atuam nessas dimensões, através do trabalho cuidadoso dos responsáveis por cada um dos itens.
Os cientistas e pesquisadores das universidades estão contribuindo com os diagnósticos?
Grande parte dos documentos utilizados para construção do relatório foi produzida por pesquisadores das universidades e todo o trabalho desenvolvido pelos pesquisadores das nossas instituições está sendo considerado.
Existe a possibilidade de retomada das aulas com segurança para a comunidade acadêmica?
Aulas presenciais de forma nenhuma. Não temos nenhum dado que nos indique que podemos sair do isolamento social. Por enquanto, a única possibilidade é o desenvolvimento de atividades remotas, mesmo com todos os desafios a serem vencidos.
Quais são as sugestões e orientações gerais do relatório preliminar da comissão?
No relatório apresentamos várias sugestões para cada uma das situações e demandas identificadas, mas a principal delas é o trabalho em rede. Nunca nosso sistema de universidades teve tanta necessidade de um trabalho colaborativo como neste momento, desde o compartilhamento de cursos de capacitação, de infraestrutura para evitar que os estudantes tenham que se deslocar de uma região para a outra, passando pelo compartilhamento de componentes curriculares na rede.
A senhora acredita que as mudanças propostas nesse período irão permanecer após a pandemia?
Não podemos passar por um momento como esse sem ter nenhuma mudança. Certamente, teremos várias soluções adotadas nesse momento que se tornarão permanentes. Creio que os ambientes virtuais serão muito mais utilizados para diversas finalidades, o ensino híbrido (presencial/remoto) será mais utilizado em muitas instituições e cursos, a depender das especificidades dos mesmos. Reforço o funcionamento das nossas IFES de forma colaborativa: temos um momento ímpar para avançar nesse quesito.