Estudo busca obter novos pós reveladores para impressões digitais a partir da sílica, um resíduo do processamento do arroz
Um projeto desenvolvido em parceria entre a UFRGS e o Instituto-Geral de Perícias (IGP) está procurando desenvolver novos materiais para a papiloscopia, ciência que identifica as pessoas por meio das digitais. Os pesquisadores estão trabalhando a partir da sílica, um resíduo orgânico que surge após o processamento do arroz, com o objetivo de desenvolver novos pós reveladores que facilitem a obtenção das impressões digitais.
Em uma cena de crime, o papiloscopista tem a missão de encontrar, nas superfícies que possam ter sido tocadas, impressões digitais que comprovem a participação do criminoso. Para isso, são utilizadas várias técnicas, como o uso do pincel e do pó revelador que, espalhado pela superfície, mostra onde estão as impressões digitais. A ideia dos pesquisadores é obter um novo tipo de pó revelador, misturando a sílica a elementos magnéticos. O magnetismo ajuda a depositar o pó no objeto com o mínimo de contato, preservando a digital que precisa ser revelada. Para melhorar o contraste e a definição das impressões digitais, serão usados corantes fluorescentes – em laboratório, pois essas substâncias exigem luzes e filtros especiais para revelar a imagem.
O IGP vai participar dos testes, analisando as superfícies em que podem ser aplicadas e verificando o desempenho do novo material. O produto a ser desenvolvido deve aumentar as possibilidades de revelação das impressões digitais em locais de crime e também na Seção de Revelação de Latentes, do Departamento de Identificação do IGP. “As características das superfícies – com porosidades e cores diferentes – bem como a composição residual da pele definem a técnica e metodologia a ser utilizada. Com a pesquisa, teremos mais opções para ampliar as chances de êxito na detecção da prova papiloscópica”, afirma a papiloscopista Crisle Dillenburg, responsável pelo projeto no Instituto.
Além de reduzir custos na perícia criminal, projeto tem benefício ambiental
Atualmente, todos os pós reveladores usados pela perícia criminal no Brasil são importados, e uma empresa americana domina o mercado. O desenvolvimento de novos materiais deve ajudar a reduzir a dependência do mercado estrangeiro e diminuir custos. “Ao final do projeto, empresas ou startups poderão começar a produção em larga escala”, afirma a professora do Instituto de Química da UFRGS e uma das coordenadoras do projeto, Leandra Campo.
A proposta também carrega um importante benefício ambiental. A sílica, resultante do processamento da casca de arroz, leva cinco anos para se decompor. Neste processo, acaba gerando gás metano, e contribuindo para o efeito estufa na atmosfera. “Queremos aproveitar esse resíduo, que existe em abundância aqui no Estado. Mas outros produtos, como à base de açúcar e de celulose, por exemplo, também serão testados”, acrescenta a professora.
Projeto tem financiamento da Capes e Senasp
Intitulado “Materiais híbridos magnético-fluorescentes: síntese e aplicação de reveladores de impressões digitais”, o projeto é um dos 17 vencedores de um edital lançado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), para desenvolvimento das ciências forenses no país. O financiamento, de 400 mil reais, prevê quatro anos de pesquisa nos Institutos de Química e Física da UFRGS.
A proposta foi uma das primeiras aprovadas pela Comissão de Pesquisa do IGP, criada em 2020 com o objetivo de analisar os projetos de estudo científico que envolvam a instituição. O Instituto Nacional de Identificação (INI) e o Instituto de Identificação da Polícia Federal também são instituições associadas ao projeto.