Unila transforma bebidas apreendidas em álcool para enfrentar a pandemia

O laboratório entrou em operação no ano passado e este é o segundo lote de doação a ser destilado; expectativa é ampliar a parceria com a Receita

A UNILA concluiu a destilação de mais 600 litros de bebidas alcoólicas apreendidas e doadas pela Receita Federal. O álcool produzido, cerca de 240 litros, será transformado em álcool glicerinado, a ser utilizado na própria UNILA e em órgãos de saúde do município para o enfrentamento da Covid-19.

A destilação consiste na separação do álcool e da água e outros elementos que compõem as bebidas. O produto resultante chega a uma concentração de 95% e é, posteriormente, transformado em álcool glicerinado (70%).

A destilação para o uso de álcool no combate ao coronavírus é coordenada por um grupo de trabalho que reúne pesquisadores e servidores técnico-administrativos da Universidade. Este é o segundo lote a ser destilado. O primeiro, de 200 litros de bebidas, foi recebido no ano passado, rendendo 50 litros de etanol 94%.

O laboratório onde é realizada a destilação recebeu a visita do delegado da Receita Federal em Foz do Iguaçu, Paulo Sérgio Cordeiro Bini, e do chefe do Serviço de Gestão Corporativa, Osvaldo Toshio Yamashita. Eles conheceram os equipamentos, receberam informações sobre o processo e acompanharam a destilação. Os trabalhos de pesquisa realizados no laboratório foram apresentados pela professora Andréia Furtado, do curso de Engenharia Química da UNILA.

Para o delegado, a pandemia ressaltou a importância de parcerias como a que é realizada com a UNILA e outras universidades, que receberam, somente em 2021, 66 mil litros de bebidas alcoólicas para destilação, o que representa 95% do total apreendido. “A parceria com a UNILA está se iniciando e tende a crescer. Temos bastante expectativa, até porque, logisticamente, ela está muito perto da sede da alfândega de Foz do Iguaçu, o que facilita custos. E a reversão à sociedade do álcool apreendido neste momento é importantíssima”, comentou, destacando que a utilização do álcool para higienização das mãos deve se tornar um hábito pós-pandemia.

A expectativa do professor do curso de Engenharia de Energia e coordenador do grupo de trabalho, Ricardo Hartmann, é receber, futuramente, mais bebidas apreendidas pela Receita, não apenas destilados, que têm maior teor alcoólico (40%) e, por consequência, resultam em volumes maiores de álcool após o processo de separação, mas também bebidas fermentadas, como o vinho, com teor alcoólico em torno de 14%.

destilcao.jpgA ideia é buscar a ampliação da parceria com a Receita Federal também para o desenvolvimento de pesquisas. Uma delas já está em andamento e consiste na análise físico-química do álcool produzido para verificação do seu potencial para uso veicular. As pesquisas serão possíveis a partir de agora com o pleno funcionamento do laboratório, cuja instalação foi acelerada pela pandemia. “A pandemia acabou apressando a instalação do laboratório. Nós tivemos de fazer o processo de manutenção nos equipamentos que estavam parados, conter vazamentos e organizar a planta”, explica Ricardo Hartmann. “Esta foi a primeira vez que a gente conseguiu fazer um sequenciamento de produção, produzindo uma quantidade grande numa semana”, completa, explicando que agora o laboratório entra no que se chama de “regime permanente”, quando os equipamentos estão ajustados e o trabalho pode seguir sem sobressaltos. “É a velocidade de cruzeiro”, compara.

O laboratório, que se consolidou em consequência do trabalho com a pandemia, passa a ser utilizado para o ensino e a pesquisa, principalmente dos cursos de Engenharia Química e Engenharia de Energia, além de pesquisas de mestrado e doutorado.

No laboratório, também é possível a produção experimental de biodiesel e biogás. O laboratório também tem capacidade de produção de etanol a partir da cana, milho e outros grãos e vegetais. “Vai expandir a pesquisa na área. Com a publicação de artigos, existe mais facilidade de captar recursos, atrair parceiros ou fazer cooperação com outras universidades e outros países”, comenta Hartmann.